A temporada de férias é um momento para família, comida e, pelo menos para algumas pessoas, futebol americano. Como em anos anteriores, times da NFL (National Football League) jogaram no dia de Natal, vistos ao vivo por milhões. No entanto, de forma incomum, a emissora desta vez foi a Netflix, que transmitiu ao vivo dois jogos —e uma apresentação musical de Beyoncé.
O fato de o evento ter ocorrido com apenas pequenos contratempos foi celebrado pela empresa. As incursões anteriores da Netflix em esportes ao vivo foram, por vezes, desastrosas. Uma luta de boxe de celebridades em novembro, entre Jake Paul e Mike Tyson, foi marcada por problemas técnicos. “Derrubamos o site”, gabou-se Jake Paul após ter vencido seu oponente de 58 anos. Um evento de golfe ao vivo apresentou microfones quebrados e um manifestante dos direitos dos animais.
A Netflix tem grandes ambições para esportes ao vivo. O futebol americano vai permanecer na programação de Natal do serviço de streaming ao menos pelos próximos dois anos. O WWE Raw, um programa de sucesso de luta livre, deixará a TV tradicional para um espaço semanal na plataforma de streaming a partir de 6 de janeiro. A empresa também garantiu os direitos americanos para as próximas duas Copas do Mundo femininas de futebol.
A Netflix costumava insistir que ficaria à margem das transmissões de esportes ao vivo. O custo era uma razão. Os direitos de transmissão são caros: a NFL embolsou US$ 75 milhões (R$ 457,2 milhões) por jogo da Netflix para as transmissões de Natal deste ano, e o contrato de uma década com a WWE custou impressionantes US$ 5 bilhões (R$ 30,5 bilhões). Além disso, havia os desafios técnicos. Lidar com tantos espectadores simultâneos é um desafio para um serviço de streaming projetado para visualizações fragmentadas.
Mas grandes eventos esportivos atraem prestígio e, mais importante, assinantes. Apesar de todos os seus contratempos, Jake Paul x Mike Tyson atraiu uma audiência recorde —e 1,4 milhão de novas assinaturas, de acordo com a Antenna Data, uma empresa de pesquisa. Os esportes ao vivo oferecem bastante tempo de inatividade antes e durante os jogos, tornando-os bem adequados para intervalos comerciais, uma fonte lucrativa de receita. Até mesmo assinantes dos pacotes sem anúncios da Netflix assistiram a comerciais durante a transmissão da NFL.
Os desafios permanecem. Para alívio dos engenheiros da Netflix, embora talvez não de seus chefes, os números de audiência para seus jogos de Natal da NFL foram bons, mas não excepcionais. A audiência atingiu pico de mais de 27 milhões, cerca de metade do que foi atraído por Jake Paul x Mike Tyson. Em comparação, o Super Bowl, o maior evento anual da NFL, atrai bem mais de 100 milhões de espectadores. Transmitir para essas multidões pode ser tecnicamente complicado.
Ainda assim, a Netflix tem muitas outras opções. Além do futebol americano e do habitual repertório de clássicos filmes de Natal, o serviço de streaming teve outro programa de sucesso em 25 de dezembro: uma gravação de uma lareira crepitante.
Texto de The Economist, traduzido por Lucas Bombana, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado em www.economist.com