A Nasa mantém o plano de trazer rochas de Marte para a Terra, mas na última terça-feira (7) funcionários da agência anunciaram que ainda não decidiram exatamente como fazer isso. A decisão final ficará para a próxima administração, a de Donald Trump.
Mas na ocasião os os funcionários da agência afirmaram ter descoberto como lançar essa missão mais cedo, reduzindo o seu tamanho e peso. As estimativas de custo do ano passado haviam subido para até US$ 11 bilhões. Com as revisões, o valor seria inferior a US$ 8 bilhões.
“Isso está longe dos US$ 11 bilhões”, disse o administrador da Nasa, Bill Nelson, durante entrevista concedida na terça-feira.
Trazer amostras de rochas e solo marcianas está entre as principais prioridades de cientistas planetários. Ao estudá-las de perto com instrumentos avançados e poderosos em seus laboratórios, eles poderiam desvendar mistérios do passado do planeta vermelho, incluindo se já houve alguma forma de vida lá.
A primeira fase da missão está em andamento. O rover Perseverance, da Nasa, que pousou em Marte em 2021, tem perfurado e coletado amostras cilíndricas de rocha e solo na cratera Jezero, que contém um antigo delta de rio.
O restante do plano, elaborado pelo Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da Nasa na Califórnia, requer uma coreografia complexa.
Primeiro, uma nova espaçonave robótica pousaria perto do rover, que então entregaria cerca de 30 de suas amostras de rocha para lançar em órbita ao redor de Marte.
Outra espaçonave, da Agência Espacial Europeia (ESA), recuperaria essas amostras, as traria de volta para a Terra e as deixaria dentro de um veículo em forma de disco que pousaria em um deserto de Utah, nos Estados Unidos.
Esse plano permanece essencialmente o mesmo, mas a chave para a mudança foi perceber que o foguete para lançar as amostras da superfície de Marte em órbita ao redor do planeta não precisava ser tão grande e pesado.
Com um foguete menor, a Nasa não precisaria mais construir um módulo de pouso maior do que qualquer outro que já tenha feito.
Em vez disso, a missão poderia novamente usar o sistema de guindaste aéreo, adotado na bem-sucedida implantação dos rovers Curiosity e Perseverance, que hoje exploram Marte.
Os funcionários da Nasa também deixaram em aberto a possibilidade de, em vez do guindaste aéreo, comprar um módulo de pouso de uma empresa.
Nelson, que deixará o cargo de administrador da Nasa ainda neste mês e dará lugar a Jared Isaacman, disse que os funcionários da Nasa sob a administração de Trump provavelmente poderão tomar uma decisão em algum momento do próximo ano.
“O que queríamos fazer era oferecer a eles as melhores opções possíveis para que pudessem seguir em frente”, disse Nelson.
Ele também afirmou que, para evitar que o programa sofra ainda mais atraso, seria necessário que o Congresso fornecesse pelo menos US$ 300 milhões neste ano.
Como muitos dos projetos mais ambiciosos da Nasa, a missão de Retorno de Amostras de Marte tem como objetivo fazer algo inédito, o que torna difícil prever quão difícil e caro será.
Originalmente, as duas espaçonaves necessárias para a missão –o módulo de pouso feito pela Nasa e um orbitador construído pela ESA para trazer as rochas de volta– deveriam ser lançadas em 2026, e a parcela da Nasa no custo seria de US$ 3 bilhões.
Uma revisão independente em 2020 concluiu que uma data de lançamento em 2028 era mais realista e que o custo ficaria entre US$ 3,8 bilhões e US$ 4,4 bilhões. Uma segunda revisão em 2023 constatou que essas previsões haviam sido muito otimistas. A parcela da Nasa na missão seria, em vez disso, de US$ 8 bilhões a US$ 11 bilhões. E os funcionários da agência concluíram que as rochas não seriam entregues à Terra antes de 2040.
“Desistimos disso”, disse Nelson.
A Nasa então buscou ideias alternativas de empresas aeroespaciais e de especialistas dentro da agência, começando do zero em uma missão totalmente nova ou sugerindo maneiras melhores de realizar uma parte específica do plano atual.
Uma equipe da Nasa avaliou as opções e fez algumas mudanças.
“Estamos animados”, disse Nicola Fox, a administradora associada da diretoria de missões científicas da agência americana. “Como sempre, minha prioridade é encontrar um caminho para o retorno de nossa amostra dentro de um programa científico geral equilibrado para que a ciência da Nasa continue a ser entregue.”
Uma espaçonave poderia ser lançada em 2030 e a outra, em 2031, segundo Fox.
Outras mudanças incluem a troca de painéis solares por uma fonte de calor radioativo para fornecer energia e simplificar o sistema para mover as amostras de rocha do rover Perseverance para o foguete que as lançaria ao espaço.
Após a Nasa anunciar que estava em busca de novas ideias, o Laboratório de Propulsão a Jato reduziu sua atuação na missão e em fevereiro de 2024 demitiu mais de 500 funcionários, ou cerca de 8% de sua força de trabalho.
Os funcionários da Nasa não discutiram detalhes de nenhuma das opções comerciais. Das propostas iniciais, a agência encomendou estudos de oito empresas, que incluíam gigantes aeroespaciais como a Lockheed Martin, bem como duas empresas de foguetes mais novas lideradas por bilionários –a SpaceX, de Elon Musk, e a Blue Origin, de Jeff Bezos.
Musk priorizou alcançar Marte com o Starship, seu veículo de próxima geração, prometendo lançar versões desse foguete sem tripulação em direção a esse destino já em 2026. No entanto, o veículo ainda está em desenvolvimento e ainda não orbitou a Terra.