As mulheres entram no consultório do cirurgião plástico com fotos salvas no celular –Miley Cyrus, Keira Knightley, Bella Hadid– e pedem a ele: “Quero que meus seios fiquem assim”. Isso depois de terem passado horas no YouTube assistindo a vídeos informativos de cirurgiões; no Instagram, vendo fotos de antes e depois; e no TikTok, em que um exército de mulheres comuns publica a redução que fez nos seios. “Pergunte-me”, dizem –se a sensibilidade dos mamilos mudou, o que disse o namorado de cada uma e se elas se importaram.
Amigas relatam umas às outras sua redução mamária. Kelly Killeen, cirurgiã em Beverly Hills, nos Estados Unidos, disse que uma de suas pacientes mostrou os seios a uma amiga no balcão de maquiagem da loja Neiman Marcus, e esta atravessou e marcou uma consulta. Tiffany Dena Loftin, de 35 anos, organizadora sindical em Atlanta, decidiu se submeter à redução mamária depois de analisar, por FaceTime, os seios nus de sua amiga Jamira Burley, de 36 anos: os curativos, as incisões, os mamilos machucados. Loftin não gosta de hospitais e fica aterrorizada com agulhas. Mas Burley comentou com ela: “Tiffany, o alívio e a alegria que sinto também estão disponíveis para você. Basta superar o medo”.
Depois da lipoaspiração, o aumento de seios é o procedimento estético mais popular dos Estados Unidos, com cerca de 300 mil mulheres optando por implantes anualmente. Mas o recurso que mais cresce nesse setor é o de torná-los menores. Em 2023, mais de 76 mil mulheres norte-americanas se submeteram a uma cirurgia eletiva de redução de seios, aumento de 64 por cento em comparação com 2019, segundo a Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos. (Esse número não inclui cirurgias de afirmação de gênero ou reconstruções mamárias depois de doenças.) O aumento é observado em todas as faixas etárias, mas sobretudo entre as mulheres com menos de 30 anos. As jovens menores de 19 anos representam uma parte pequena, mas de crescimento rápido, do mercado.
As cirurgias de redução consideradas “necessárias do ponto de vista médico” e cobertas pelos planos de saúde representam um grupo muito menor do que as operações cosméticas, mas as linhas gerais da tendência –aumento recente e repentino, principalmente entre as mulheres mais jovens– são as mesmas.
Essas ideias sobre a perfeição dos seios influenciam o mundo das jovens. É comum que adolescentes com seios grandes tenham problemas de baixa autoestima e distúrbios alimentares. Muitas vezes, aprendem a se esconder sob moletons e camisetas largas, comprimem as mamas com sutiã de corrida duplo e param de patinar, dançar e correr. Ouvem as palavras negativas direcionadas a seu corpo –caídos, murchos, “muito esticados”, nas palavras de um cirurgião plástico que entrevistei– e transformam essas descrições em autocrítica.
As norte-americanas estão eternamente em conflito com seu corpo, que, de maneira previsível, nunca atinge a perfeição encarnada por modelos e influenciadoras. Cerca de 70% das mulheres no mundo inteiro não gostam do tamanho de seus seios, provavelmente porque estes estão sujeitos a avaliações e críticas constantes. Sempre visíveis, evocam nas outras pessoas pensamentos e sentimentos sobre a feminilidade da mulher, a disponibilidade sexual, a idade, o peso, a atratividade e o papel materno.
Os seios grandes atraem mais atenção –positiva e negativa– do que os menores. Uma pesquisa de mercado feita por um fabricante de lingerie em 2013 apontou o sutiã taça DD como o tamanho médio das americanas. A maioria das pacientes de redução de mama usa uma medida maior que essa. O peso dos seios grandes pode causar dores nas costas, no pescoço e nos ombros, podendo prejudicar a mobilidade e a aptidão física.
Por isso, a opção de reduzi-los, torná-los mais leves, menores, mais fáceis de carregar e cobrir –mais discretos– pode ser vista como um ato de amor-próprio e empoderamento, uma priorização, por fim, do próprio conforto e da independência da mulher sobre o que as outras pessoas tradicionalmente consideram sexy. Por outro lado, é passível de ser interpretada como autodepreciação ou um acordo com uma cultura sexista que também pode considerar seios maiores que não são redondos e firmes como repulsivos: caídos, flácidos, balançantes e difíceis de conter. Ou a escolha de se submeter a uma redução de mama pode ser, de maneira paradoxal, pragmática. Percebendo, com razão, que não pode mudar a cultura em que vive, uma mulher pode achar que o caminho mais fácil para amar o corpo é alterá-lo.
Os médicos dizem que suas pacientes parecem dispostas a conviver com as cicatrizes, que circundam o mamilo, descem pela parte inferior do seio como uma linha longitudinal e às vezes traçam as costelas sob o seio, onde pode ficar um aro. E muitas não desanimam com a possibilidade de que a cirurgia prejudique a amamentação. Segundo uma revisão de pesquisas, as mulheres que passaram por uma redução têm mais de três vezes mais chances de não conseguir amamentar.
Cheyenne Lin, de 26 anos, professora substituta em Fresno, na Califórnia, casada, fez a cirurgia de redução em julho. Disse que provavelmente quer ter filhos algum dia, mas a maioria das mulheres em sua família teve dificuldades na amamentação. “Por isso, quando me disseram: ‘Você pode não conseguir amamentar’, constatei que isso nem estava na minha lista de preocupações.”
Quem paga?
Uma única cirurgia que pode aliviar a dor nas costas, na cabeça, favorecer a mobilidade e a forma física, e, além disso, permitir que uma mulher use um top sem alças sem se sentir envergonhada é um procedimento médico ou estético? Para a paciente, claro, pode ser as duas coisas. Mas, do ponto de vista de uma operadora de plano de saúde, é uma ou outra, reembolsável ou não.
A maioria dos convênios quer provas da necessidade médica: dor nas costas, ombros ou pescoço; marcas nos ombros deixadas pelas alças do sutiã; erupções cutâneas. Exigem provas de que a paciente tentou soluções não cirúrgicas, como analgésicos, fisioterapia e sutiã de sustentação sob medida. E a maior parte dos planos de saúde inclui um valor mínimo de gramas de tecido mamário que deve ser extraído, dependendo do tamanho, da altura e do peso da mulher.
Suma Kashi, de 41 anos, que vive em Los Angeles, tem 1,57 m de altura e, antes da redução, usava um sutiã de taça H. Quando considerou a operação, pesava 80 quilos e seu convênio lhe disse que precisaria remover 755 gramas por seio para que o reembolso fosse concedido. Mas seu cirurgião calculou que, para alcançar a desejada taça C, teria de retirar muito menos: 415 gramas por seio. Kashi tentou reduzir o que a companhia de seguros chamava de sua “superfície corporal” e perdeu cerca de 11 quilos. Mesmo assim, a solicitação foi negada. Ela acabou pagando do próprio bolso cerca de US$ 23 mil.
Burley, por sua vez, media 1,65 m e pesava 84 quilos antes da redução. Usava um sutiã 34 DDD e seu plano cobriu a operação. Agora usa uma taça B e, depois de perder um pouco mais de peso, pesa 70 quilos.
Lin não teria conseguido pagar sozinha pela redução dos seios. E estava sofrendo: desde o segundo ano na faculdade, sentia uma dor aguda e constante entre as omoplatas. A diferença de tamanho dos seios afetou sua postura, sobrecarregando-lhe as costas de forma desigual. Não conseguia ir a caminhadas com seus amigos nem praticar snowboard com Jaylen Lin, estudante de intercâmbio que se tornou seu marido. “Aos 21 anos, eu me sentia presa no corpo de alguém de 70”, comentou. Foi diagnosticada com depressão.
Lin tinha direito ao programa de assistência médica da Califórnia financiado pelo governo dos Estados Unidos, mas ela contou que o clínico geral que a atendia não estava interessado em ajudá-la a percorrer o caminho para a cirurgia de redução. Quando pesquisou no Google um cirurgião que aceitasse seu plano em Fresno, na Califórnia, ele era tão mal avaliado que ela não chegou a ligar.
Os pais de Jaylen, em Taiwan, intervieram depois que o filho falou com eles por telefone. Ajudaram o casal a encontrar um plano de saúde com uma opção fora do programa e deram a eles um cartão de crédito para pagar os US$ 15.600 cobrados por Killeen. Ela espera que seu plano reembolse de US$ 2 mil a US$ 4 mil, e considera que o presente dos sogros lhe deu uma nova vida. A dor nas costas desapareceu, e ela não toma antidepressivos desde a operação.
‘Não faço isso pelos homens’
O que significa querer ser menor? Seios menores refletem uma recusa em continuar habitando as fantasias dos homens? Loftin acredita que sua redução mamária é um sinal de confiança e autonomia. Gastar seu dinheiro para viver em um corpo que a favorece significa poder. “As mulheres, em seu grupo de amigas, não precisam das expectativas da beleza ocidental ou masculina para viver. Este é meu corpo. Não faço isso pelos homens”, afirmou. Lin considera sua redução um ato explicitamente político, priorizando sua saúde e sua felicidade.
Sarah Thornton, socióloga de 59 anos que vive em San Francisco, usava um sutiã taça B antes de sua mastectomia dupla. Depois da reconstrução mamária, passou a usar uma D, que lhe parecia enorme: “volumosa e exagerada”, escreveu em “Tits Up” (Seios para cima, em tradução livre), sua recente história social dos seios. Por fim, passou por outra operação para reduzir o tamanho dos implantes, mas não necessariamente classificaria a decisão como uma libertação. “Passei de um implante desconfortável, que eu odiava de verdade, para um menor que está colocado de forma ligeiramente diferente.”
Depois de uma imersão nas ideias e nos sentimentos das mulheres sobre seus seios durante os quatro anos que dedicou à pesquisa de seu livro, Thornton teme que a redução mamária seja considerada só como uma emancipação feminista. “Por um lado, a cirurgia plástica é uma opção de consumo. Normalmente, há muito dinheiro envolvido. Por outro, a insatisfação corporal das mulheres, que circula viralmente pela internet, é ‘perniciosa’ e ‘contagiosa'”, disse ela, contribuindo para a ideia de que sempre há alguma coisa no corpo da mulher que precisa ser consertada.
Para uma mulher, é libertador se afastar do olhar masculino, afirmar-se em sua recusa em ser observada, aliviar a própria dor, poder treinar confortavelmente para uma maratona ou dançar em sua festa de aniversário. Mas essa é uma libertação pessoal e individual. “Se as mulheres vão ter os seios emancipados, os homens precisam mudar”, observou Thornton.