“Mulheres mais velhas ainda querem gozar? Elas ainda gostam de sexo? Existe vida sexual após a menopausa?” Estas são as perguntas que eu mais escuto desde que publiquei “A Outra: um estudo antropológico sobre a identidade da amante do homem casado”, em 1990.
Recentemente, na minha pesquisa sobre Envelhecimento, Autonomia e Felicidade para o meu pós-doutorado em psicologia social, entrevistei 100 mulheres de 50 a 70 anos. Encontrei dois grupos: um de mulheres que se classificaram como “ativas sexualmente” e outro de “inativas ou aposentadas do sexo”.
Seguem algumas afirmações das mulheres que se classificaram como “aposentadas do sexo”:
1. “É normal perder o tesão na velhice. Sexo dá muito trabalho. Tenho preguiça de transar, prefiro dormir”;
2. “Como disse Rita Lee, velha não quer trepar, velha quer ter tesão na alma”;
3. “Sempre senti muita dor com a penetração. Não é agora que eu fiquei velha que vou passar a gostar de sexo”;
4. “Não gosto, mas finjo que gozo só para o meu marido não me trair e me abandonar”;
5. “Não tive sorte no sexo. Só transei com homens muito ruins de cama”;
6. Nunca gostei e hoje tenho uma ótima desculpa para me aposentar do sexo: fiquei velha”;
7. “Eu só cumpria minhas obrigações sexuais como esposa, mas cansei e não vou mais fingir”;
8. “Na minha velhice, quero gozar a vida, gozar é muito mais do que sexo”;
9. “A menopausa foi o fim da minha vida sexual. Não é nem que eu me tornei velha, simplesmente não existo mais como mulher, fiquei invisível, transparente, descartável e assexuada”;
10. “Depois da menopausa, me aposentei. Não sinto a menor falta. Será que existe vida sexual após a menopausa?”.
Já as mulheres que se classificaram como “ativas sexualmente” afirmaram:
1. “Não faço mais sexo com meu marido porque ele está broxa. Mas tenho muito prazer com meus amantes”;
2. “Intimidade é a preliminar mais importante para o sexo: muitas conversas e muitas risadas”;
3. “Na pandemia, descobri o sugador e gozo todos os dias”;
4. “Uma vez por mês faço sexo com garotos de programa. Eles são mestres na arte de me dar prazer”;
5. “Sou heterossexual, casada e tenho dois filhos. Mas, depois da menopausa, descobri o prazer sexual com uma mulher, minha melhor amiga”;
6. “Só gozo assistindo a vídeos pornô, especialmente de mulher se masturbando ou de mulher transando com outra mulher”;
7. “Ainda gosto de sexo, mas está cada vez mais difícil encontrar um homem interessante para transar”;
8. “Descobri o mundo dos aplicativos e só transo com homens mais jovens. Ainda sinto muito tesão”;
9. “Uso todos os recursos disponíveis no mercado para ainda continuar transando”;
10. “Sempre gostei de sexo e ainda gosto. Não vou deixar de gostar por causa da menopausa. Só na maturidade aprendi a ter a coragem de dizer não e buscar o que realmente me dá prazer”.
As mulheres “ativas” dizem que são “maduras” e que estão aproveitando a liberdade da maturidade, enquanto as “inativas” dizem que são “velhas” e acham que é normal perder o tesão. Como mostrei no livro “A arte de gozar: amor, sexo e tesão na maturidade”, chama atenção o uso do advérbio “ainda” para falar sobre o desejo sexual feminino, como se, com a menopausa, a mulher experimentasse uma espécie de “morte simbólica” ou “morte cultural”. Afinal, será que mulheres mais velhas ainda querem gozar?
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