O Ministério Público francês solicitou, nesta segunda-feira (25), 20 anos de prisão, a pena máxima no país pelo crime de violação, para Dominique Pelicot, por ter abusado durante dez anos da esposa, a quem drogou com pílulas para dormir e a quem ofereceu a dezenas de homens que também abusaram dela.
A procuradora do Tribunal de Recurso de Avignon (sudeste da França) Laure Chabaud solicitou essa pena máxima “com a maior convicção”, e justificou-a com a psicologia de Dominique Pelicot, a quem descreveu como um homem perverso, egocêntrico, perturbado, com múltiplos desvios sexuais que queriam satisfazer seus desejos sem estabelecer “quaisquer limites” e sem o consentimento da vítima.
“Vinte anos é muito tempo. (…) Não importa quantos anos você tenha, não é pouco. É muito e é pouco. Muito pouco levantando em conta a gravidade dos atos cometidos e repetidos”, disse Chabaud.
Dominique Pelicot, que reconhece os crimes imputados, tirou milhares de fotos e vídeos dos estupros, documentos que se tornaram provas-chave para a acusação dos 51 homens que estão no banco dos réus, que apesar de tudo em sua maioria negam ter cometido estupro, argumentando que eles pensaram que a vítima estava de acordo.
Mas o promotor François Mayet quis deixar claro desde o primeiro momento de sua acusação que “Gisèle Pelicot foi reduzida a um objeto. O consentimento não estava presente antes ou durante o ato”.
O Ministério Público lembrou ainda que existem 20 mil documentos visuais registrados pelos principais acusados que mostram a “extrema violência dos crimes”.
Em uma primeira reação ao pedido do Ministério Público perante a imprensa, a advogada de Dominique Pelicot, Isabelle Zavarro, disse que esperava que fosse solicitada a pena máxima, mas manifestou sua surpresa pelas motivações, especificamente pela descrição feita de seu cliente.
“Me parece que o Ministério Público decidiu distanciar-se um pouco da personalidade de Dominique Pelicot, o que na minha opinião pode explicar algumas coisas”, comentou, dando a entender que pretende utilizar alguns elementos de sua biografia em sua defesa, como os supostos abusos que ele próprio diz ter sofrido quando criança e adolescente.
Os fatos julgados em Avignon desde 2 de setembro continuaram entre julho de 2011 e outubro de 2020, primeiro na região de Paris e depois na casa para onde os Pelicots se mudaram quando se retiraram na cidade de Mazan, perto de Avignon.
Dominique Pelicot entrava em contato com outros homens em uma plataforma online, convidando-os para ir a sua casa, após administrar grandes doses de ansiolíticos na vítima, o que a deixava inconsciente, permitindo-lhes abusar dela sem que ela retivesse qualquer memória.
Tudo terminou em setembro de 2020, quando foi preso por gravar debaixo das saias de algumas mulheres em um supermercado de Carpentras e ao vasculhar seus arquivos do computador, os investigadores descobriram milhares de vídeos e fotos em que apareciam as violações a que submeteu a vítima.
O principal acusado é indiciado em outros dois casos de violência de gênero, um por estupro e assassinato de uma mulher em 1991 e outro por tentativa de estupro com faca em 1999.