O acúmulo de lixo às margens da estrada da Gávea, via principal que dá acesso à comunidade da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, dificulta a passagem de pedestres e veículos na favela mais populosa do país.
Essa é uma das queixas de moradores, que reclamam da falta de regularidade da coleta de lixo no local, realizada pela Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana), empresa pública responsável pela limpeza da cidade.
Em toda a localidade não há lixeiras para coleta seletiva e, em alguns pontos, nem sequer existem caçambas para o descarte. Os resíduos são despejados em baias no canteiro das ruas, consideradas como lixeiras.
A companhia da gestão Eduardo Paes (PSD) afirma que a Rocinha recebe serviços de limpeza diariamente, em até dois turnos e em toda a extensão da comunidade. Nesta terça (10), a favela será a primeira da cidade a receber novos contêineres de grande capacidade, próprios para o despejo dos resíduos diretamente nos caminhões.
“A iniciativa vai garantir o melhor ordenamento dos resíduos, com remoção mais rápida e eficiente do lixo, impedindo que fiquem expostos em via pública”, afirma a empresa.
Segundo o Censo 2022 do IBGE, dos cerca de 72 mil moradores em domicílios particulares na Rocinha, 62,6 mil viviam em locais atendidos pela coleta de lixo, ou quase 87%. O percentual leva em consideração os habitantes que depositavam o lixo em caçambas (56,2 mil) e aqueles que contavam com a coleta nos domicílios por serviços de limpeza (6.400).
No Brasil, a proporção de moradores atendidos em favelas e comunidades urbanas foi de 96,7%.
Alguns moradores relatam que, muitas vezes, precisam dar a volta pela rua de trás para não terem que passar no meio dos resíduos descartados. No acúmulo é possível encontrar móveis, entulhos, resíduos orgânicos e até mesmo animais mortos.
Eles também afirmam que catadores informais contribuem para o espalhamento dos lixos.
O gari Norberto Miguel dos Anjos, 48, trabalha na Comlurb há 14 anos e fica responsável pela limpeza de 1 km da via principal, da altura do conjunto habitacional construído pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) até a Casa da Paz.
Segundo ele, no trecho, a varredura acontece durante o dia por questão de segurança. Mas diz que a população pode contribuir para manter a limpeza da estrada.
“As pessoas precisam de mais civilidade, porque mesmo com lixeiras, elas jogam lixo no chão. Quando chove, poderiam guardar o lixo dentro de casa até o nosso próximo expediente, o que evitaria o deslizamento do lixo, mas isso não acontece”, diz.
Entre o largo do Boiadeiro e a via Ápia, ruas da parte de baixo da localidade, o gari Leonardo Abreu Guimarães Sant’Anna, 41, realiza a coleta dos lixos domiciliares nas travessas com uma moto. Ele aponta outra dificuldade para que o serviço seja feito de forma eficiente.
“Muitos veículos fora da garagem dos seus proprietários ficam na via impedindo a nossa passagem, devido ao estreitamento das ruas”, destacou Leonardo.
De acordo com a Comlurb, a Rocinha produz 230 toneladas de resíduos sólidos por dia, mas esse número não aparece em relatórios atuais elaborados pela prefeitura da cidade.
A Rocinha é formada por construções irregulares, o que dificulta o acesso de caminhões e tratores da Comlurb em muitas localidades. Para viabilizar a coleta em áreas onde o acesso dos transportes coletores é limitado, carros de porte pequeno e motos são disponibilizados pela empresa, mas, ainda assim, não comportam a demanda necessária.
Segundo a empresa, são três tratores projetados por técnicos da Comlurb especificamente para atuação nas comunidades, “com dois eixos articulados, independentes, o que permite mais mobilidade e capilaridade no interior das comunidades, em vias de difícil acesso, com curvas muito fechadas e áreas mais íngremes”. A limpeza é feita também com o auxílio de um triciclo com cesto para coleta de resíduos em ruas mais estreitas, como becos e vielas.
Ainda segundo a companhia, a Rocinha conta com cinco ecopontos com caixas de grande capacidade para o descarte correto dos resíduos e nove pontos com caixas de 1.200 litros.
Comunidades em toda a cidade serão beneficiadas com a instalação de contêineres, diz a empresa.