Uma das bases de resgate para desabrigados da enchente histórica que atingiu o Rio Grande do Sul em maio, o parque do Pontal, na zona sul em Porto Alegre, ganhou uma instalação artística em homenagem aos milhares de voluntários que participaram de ações de resgate e acolhimento.
Formado pela silhueta de 30 pessoas de mãos dadas, o Monumento aos Voluntários Anônimos, inaugurado na segunda-feira (2), tem 27 metros de comprimento por 2 metros de altura.
A obra é de autoria do artista plástico goiano Siron Franco e foi idealizada pelo IEE (Instituto de Estudos Empresariais). Segundo o instituto, a escolha de um artista de fora do Rio Grande do Sul homenageia o engajamento e a solidariedade de todos os estados do Brasil com os gaúchos vítimas da tragédia.
“Neste local onde estamos, foi montado um dos maiores centros de resgate e de apoio para a capital do Rio Grande do Sul. Exatamente onde está posicionada a obra há registros da força de cada indivíduo”, diz Paola Coser Magnani, presidente do IEE.
Para ela, a obra simboliza o impacto efetivo da união de forças individuais, e mostra que a sociedade civil foi protagonista nas ações de enfrentamento à enchente.
Segundo Siron Franco, o convite para fazer a obra foi aceito imediatamente. “É uma honra louvar essas pessoas que espontaneamente se envolveram nessas ações de resgate“, disse o artista, agradecendo a oportunidade de ter seu trabalho instalado em uma cidade onde guarda boas lembranças.
“Há 50 anos realizei minhas primeiras exposições em Porto Alegre. Eu era muito jovem, e fui muito bem recebido por artistas mais velhos, como os mestres Ado Malagoli, Xico Stockinger e Vasco Prado”, disse Siron. “Sempre tive muito carinho por essa terra”.
Inaugurado em 2022, o parque do Pontal fica na área de um antigo estaleiro, e se popularizou como opção de lazer à beira do lago Guaíba para moradores da capital. Entretanto, a enchente que elevou o Guaíba a mais de 2 metros acima da cota de inundação submergiu uma parte da área de 29.000 m² do parque, que foi transformado em um ponto de acolhimento para atingidos pele nos municípios vizinhos de Eldorado do Sul e Guaíba no começo de maio.
Pelo local circulavam dezenas de resgatados por dia, além de um contingente de bombeiros, policiais e voluntários civis em força-tarefa. O local contava com um hospital de campanha e apoio do shopping vizinho ao parque.
“O cordão humano registrado em fotos e reproduzido nesta obra representa a união das pessoas para tentar salvar o maior número de vidas possível e buscar minimizar o sofrimento humano. Cada um se mobilizou e se dispôs a ajudar ao máximo, dentro de suas possibilidades”, fala Paola. “A arte tem o papel de transformar o trágico em algo belo, em algo único.”
Na próxima quarta-feira (11), um outro monumento será instalado em um trecho da orla ao lado da Usina do Gasômetro, no centro de Porto Alegre.
A obra “Heróis Voluntários”, do artista plástico gaúcho Ricardo Cardoso, terá 6,2 metros de comprimento e 4 metros de altura, representa em tamanho real um barco com a silhueta de doze pessoas, simbolizando voluntários e atingidos pelas enchentes, e dois animais. O projeto foi encomendado e financiado pela Federasul (Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul).
No dia 3 de maio, o trecho onde a obra será colocada se tornou a primeira base de resgates na capital, recebendo moradores que deixavam suas casas na região das ilhas de Porto Alegre enquanto a água do lago Guaíba começava a invadir o centro e a zona norte.
Em poucos dias, a base de pequenas estruturas de lona foi expandida e passou a abrigar um complexo de tendas que incluía acolhimento médico, fornecimento de alimentação e roupas de inverno e um hospital veterinário de campanha montado inteiramente com doações.