A menos de dois meses para deixar a presidência da Câmara Municipal de São Paulo, o vereador Milton Leite (União Brasil) conduz nesta reta final a articulação para eleger o futuro presidente da Casa.
Um dos políticos mais influentes de São Paulo, Leite está convicto de que o seu sucessor será do União Brasil e terá que estancar os anseios de alguns pretendentes, como o atual vice-presidente, João Jorge (MDB), o líder do PL, Isac Félix, e Rodrigo Goulart (PSD), a principal aposta do PSD de Gilberto Kassab na capital.
O União terá sete vereadores na legislatura de 2025 a 2028: Rubinho Nunes, Pastora Sandra Alves, Silvão Leite, Silvinho, Amanda Vettorazzo, Ricardo Teixeira e Adrilles Jorge.
Para garantir o seu sucessor, Leite colocou na mesa o acordo entre o União e o prefeito Ricardo Nunes (MDB) que envolveu a sucessão no comando do Legislativo paulistano pelos próximos quatro anos.
A poucos meses da eleição, quando o União ameaçava deixar de apoiar Nunes e passou a flertar com o candidato Pablo Marçal (PRTB), Nunes concordou com os pedidos de Leite.
Entre os postulantes do União, Ricardo Teixeira desponta como favorito e conta, inclusive, com o empenho do prefeito. Teixeira foi secretário de Mobilidade e Trânsito na gestão Nunes, entre 2021 e 2023, por indicação do próprio Leite, que tem forte influência no setor.
À frente da pasta, Teixeira conduziu a implementação da faixa azul pela cidade, um dos cartões de visita da gestão Nunes diante do alto índice de mortes envolvendo motociclistas na cidade.
À Folha Teixeira disse que não irá falar sobre a disputa.
Teixeira lida com o desejo de outros colegas do União e que tentam convencer Leite a trabalhar por eles. É o caso de Rubinho Nunes e do estreante Silvão, que tem Milton Leite como seu padrinho político.
Rubinho, porém, está praticamente descartado pelo prefeito. Antes da campanha eleitoral, Rubinho era aliado de Nunes e já vinha sendo cotado para suceder a presidência. Mas, durante a eleição deste ano, Rubinho decidiu se juntar a campanha de Marçal, candidato à prefeitura e derrotado no primeiro turno.
Com o desembarque de Rubinho da sua campanha, o prefeito chamou o vereador de “traidor”, “sem caráter” e “sem personalidade”. Mesmo reeleito, Nunes não engoliu a atitude de Rubinho e, inclusive, teria pedido aos caciques do União Brasil a sua expulsão do partido.
Procurado pela reportagem, Rubinho não quis se manifestar.
Outro candidato declarado à presidência da Câmara, João Jorge (MDB) está empenhado em furar o acordo entre Nunes e o União Brasil. “O presidente Milton Leite alega haver um acordo por conta das coligações. Não tenho informação desse acordo”, disse Jorge.
Para tentar se viabilizar, Jorge busca se reunir com Nunes e Baleia Rossi, presidente do MDB. “Estou aguardando uma posição do prefeito. O MDB nunca fez prefeito de São Paulo e precisa aproveitar este momento de crescimento. A hora de se colocar é agora, afirmou Jorge, que evitou bola dividida com Leite.
“O Milton é um político gigante e vejo com naturalidade ele apresentar o seu sucessor”, completa o vereador emedebista.
Assim como o União Brasil, a bancada do MDB e do PL terão sete cadeiras cada na próxima legislatura. A maior bancada será a do PT, com oito vereadores, mas sem chance de emplacar um mandatário com a derrota de Guilherme Boulos (PSOL).
Os vereadores da sigla de Jair Bolsonaro chegaram a compactuar o lançamento de um candidato, numa reunião no início de outubro. A ideia, porém, foi barrada pelo presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto.
“Precisávamos muito do União Brasil. Pablo Marçal estava desesperado atrás deles”, disse Valdemar em entrevista ao Painel.
Líder do PL na Câmara de São Paulo, Félix tenta emplacar um projeto para desfazer as mudanças na Lei Orgânica do Município promovidas por Leite. O atual presidente fez alterações para se reeleger por mais duas vezes ao comando da Câmara —em 2022 e 2023.
O texto anterior previa somente somente uma reeleição por mandato. Caso Félix consiga restaurar a legislação, haverá uma nova eleição para presidência daqui a dois anos. Leite já bateu o pé e diz que, pelo acordo, o União detém a cadeira presidencial durante todo o mandato de Nunes.
Já o vereador Goulart, que ganhou a simpatia de Leite e foi escalado como relator das revisões do Plano Diretor e da Lei de Zoneamento de São Paulo, diz que ficou “feliz por ser lembrado”, mas não irá se opor às decisões de Leite.
“O que me ocorre é que tem um acordo com o União, dito pelo presidente do União e ratificado pelo prefeito em uma entrevista. Se tiver o acordo, não tem o que conversar”, afirmou Goulart.