O design de Persona foi adaptado para uma fantasia medieval de incrível gabarito, verdadeiramente hipnotizante e que não vais querer largar. Drama, política, intriga social e muito mais marcam um jogo cujas personagens, arte, enredo, combates, sistemas e música conquistam.
Metaphor: ReFantazio é um título há muito desejado pelos adeptos dos RPGs produzidos no Japão, mas por mais que a Atlus tenha afirmado que este seu novo pilar não é similar a Persona (a sua principal série atualmente), não há como negar que apresenta aqui uma espécie de Persona a fazer cosplay medieval. No entanto, não há qualquer problema com isso pois os veteranos vão encontrar um design ao qual já estão habituados, suavizado e refinado para não se tornar tão assustador para novatos.
De certa forma, o ambiente de fantasia medieval é a grande novidade, uma vez que o refinamento geral que a Atlus está a aplicar aos seus mais recentes jogos (como tornar mais fácil executar certas tarefas ou reduzir o número de botões e menus que tens de pressionar para executar algo, por exemplo) já é perceptível em Shin Megami Tensei 5: Vengeance e Persona 3: Reload. Metaphor: ReFantazio é decididamente um produto da nova Atlus e também é fácil perceber que foi desenvolvido em paralelo com jogos como Persona 5 Royal e Persona 3 Reload.
A personalidade é familiar, mas a fantasia é medieval
Mesmo sem se focar num grupo de adolescentes no Japão da era moderna, Metaphor: ReFantazio usa o cenário de fantasia medieval para explorar na mesma as hipocrisias sociais, políticas e religiosas de uma sociedade que se divide de forma tão mesquinha por causa de crenças e estatutos. No entanto, ao invés da perspectiva tão própria de um protagonista que é como a tua janela para um grupo de indivíduos, o foco está no protagonista que controlas, um aspirante a rei que na verdade apenas deseja salvar o seu amigo príncipe e o legítimo sucessor.
Mais uma vez, Metaphor: ReFantazio percorre um caminho familiar em termos da narrativa, é o que esperas de um jogo desta equipa da Atlus. Tens um grupo de indivíduos que contraria os preconceitos de uma sociedade medieval e desafia todas as probabilidades para enfrentar os sucessivos dramas que corroem e corrompem todo o tipo de almas. Apesar da familiaridade, as personagens conquistam, o ambiente e cenários ajudam imenso a capturar a atenção e é fácil ser absorvido pelos eventos. Ao longo das mais de 80 horas para o terminar, existem frequentes momentos de 20 ou 30 minutos nos quais apenas assistes a diálogos e nem dava pelo tempo a passar. Quando a escrita é tão envolvente, as situações tão interessantes e o cenário tão bem conseguido, tudo parece resultar.
Seguindo nesta temática da familiaridade, Metaphor: ReFantazio é sem surpresas muito similar a Persona no seu design, mecânicas de combate e progressão. Por mais que a Atlus tente mudar os nomes, mesmo que tire o romance ou alivie as pressões sobre as escolhas de como passar o tempo, é quase impossível não sentir que estás a jogar um Persona: ReFantazio.
Os arquétipos substutem as Personas no combate por turnos
O sistema de combate por turnos não aposta em Personas, mas sim em Arquétipos que podes desbloquear ao progredir na narrativa ou desbloquear novos níveis nas relações com diversas personagens. Também existe um lugar e personagem especiais chamado Akademia e More, respectivamente, no lugar da Velvet Room e Igor. No entanto, os sistemas de arquétipos são mais simples e “soltos” do que em Persona, qualquer personagem pode equipar e progredir um arquétipo.
Até podes misturar algumas habilidades de um arquétipo noutro, mas a dada altura são tantas que tens mesmo de alternar frequentemente em arquétipos. Isto é muito incentivado pela Atlus pois seja para inimigos nas masmorras principais, secundárias ou nos bosses, tens frequentemente de mudar de arquétipos devido ao sistema de fraquezas.
Sim, mais uma vez, tal como Persona e Shin Megami Tensei, o sistema de combate está construído sobre a mecânica de explorar as fraquezas ou aplicar críticos para ganhar mais uma oportunidade de atacar antes dos inimigos. Isto vai-te forçar a testar diferentes arquétipos para usar a arma ou habilidade que causa a fraqueza para tirar mais dano e voltar a atacar. O uso de buffs e debuffs também é importante, especialmente nos bosses, mas existe agora uma peculiar novidade.
Ao percorrer os locais e masmorras, podes derrotar com um golpe os inimigos mais fracos, sem entrar em combate, mas ganhas na mesma dinheiro, XP e Magla (usada para adquirir novos arquétipos) o que confere um tom de hack and slash a alguns momentos. Tendo em conta que o grind pode intensificar-se em algumas partes, isto é muito bem vindo e dinâmico.
A pressão para gerir o tempo e atividades é menor, mas existe
Para o design, aquela pressão de escolher o que fazer e com quem passar o tempo não é tão intensa, mas está presente. A Atlus determinou que apenas podes explorar masmorras durante o dia e se decidires fazê-lo, à noite não podes fazer nada a não ser descansar.
No entanto, podes optar por participar em atividades que melhoram diversos atributos do protagonista na sua jornada para se tornar mais interessante aos cidadãos que vão escolher o próximo rei, conversar com aliados para subir o nível de relação e desbloquear benéficos dentro e fora dos combates, mas também podes participar em missões extra, como caçadas.
Apenas tens de escolher uma atividade por cada um dos dois momentos do dia e saber que ao escolher uma atividade ou personagem deixas outras de lado. Mas podes suspirar de alívio pois não é de forma alguma agressivo como em Persona.
A qualidade gráfica pode deixar a desejar
Este é sem sombra de dúvida um dos melhores RPGs que joguei desde 2016, desde esse fenomenal Persona 5, talvez até mesmo um dos meus favoritos de sempre, mas ainda assim existem alguns problemas, por mais pequenos que sejam. Em termos gráficos e nas animações, é claramente um jogo simples, salvo pela sua estética e arte.
Existem imensos momentos gráficos que te vão deixar a pensar que, tal como Persona 3, Metaphor: ReFantazio podia correr numa PS3 e não ficarias surpreendido. A simplicidade dos elementos 3D nos cenários é a principal sugestão disso, mas no geral, o estilo artístico volta a triunfar acima das humildes capacidades técnicas.
Mais um hino da Atlus aos JRPGs
Metaphor: ReFantazio é uma experiência demasiado familiar para os adeptos dos jogos da Atlus, mas quando a qualidade do desafio, personagens, mundo, estilo e estética são tão bons, é impossível não voltar a ficar rendido ao talento desta equipa japonesa. Após Persona 5 em 2016, a Atlus volta a apresentar mais um JRPG de esplendoroso gabarito, no qual as suas forças eclipsam facilmente os pontos menos positivos. Num ano onde me deliciei com Final Fantasy 7 Rebirth, jogar mais um majestoso título como este é algo que não esperava, mas é mais uma sensacional experiência para acarinhar.
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