A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, classificou como inaceitáveis os ataques considerados misóginos que sofreu no Senado, na última terça (28), e disse que tomará atitudes no “momento oportuno”.
Marina se retirou de uma sessão da Comissão de Infraestrutura (CI) do Senado na última terça-feira (27), após, em meio a bate-boca com senadores, ouvir do líder do PSDB, senador Plínio Valério (AM), que ela não merecia respeito como ministra.
“Os mecanismos de autocorreção precisam ser acionados, porque não é só uma questão daquele indivíduo que está desonrando o seu mandato e os seus eleitores, mas toda a Casa está sendo ali vituperada. É inaceitável para uma instituição, qualquer que seja ela, ainda mais o Senado da República”, afirmou à Folha.
“Meus advogados já estavam trabalhando desde a primeira agressão do senador Plinio [Valério]. Recebi também a solidariedade do Ministro [Jorge] Messias, da Advocacia-Geral da União”, completou.
Plínio Valério havia dito, em outra sessão, que tinha desejado enforcá-la. Marina exigiu desculpas e deixou a reunião após o parlamentar se recusar a fazê-lo.
A discussão na comissão ficou mais tensa quando o senador Omar Aziz (PSD-AM) defendeu a pavimentação do polêmico trecho da rodovia BR-319, que liga Manaus (AM) a Porto Velho (RO) e é criticada por ambientalistas por ser um vetor de desmatamento. Aziz integra a base do governo Lula (PT) no Congresso.
Ainda durante a sessão, o presidente da comissão, Marcos Rogério (PL-RO), afirmou que Marina devia “se pôr em seu lugar”, provocando protestos da senadora Eliziane Gama (PSD-MA).
Além de Eliziane, o líder do PT, Rogério Carvalho (SE), também interveio a favor da ministra, mas a base do governo não demonstrou uma ação efetiva para blindá-la —apesar de já haver a expectativa de que o encontro seria tumultuado e da agressão anterior a contra Marina.
O embate aconteceu poucos dias após o Senado aprovar o projeto que flexibiliza o licenciamento ambiental com impulso do presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) e com apoio de parte do governo Lula.
O projeto foi apelidado por ambientalistas de “mãe de todas as boiadas” e “PL da Devastação”.
A proposta enxuga instrumentos de consulta, pode impulsionar atividades de risco —como a exploração de Foz do Amazonas, a mineração, empreendimentos infraestrutura, e a BR-319— e deixar sem proteção contra desmatamento quase 20 milhões de hectares possivelmente impactados pelo Novo PAC.
Após os ataques sofridos, Marina recebeu apoio em série de parte da base do governo, sobretudo de parlamentares e ministras mulheres e do PT.
Lula ligou para ela, após o incidente, para defender a atitude de sua ministra, e a primeira-dama Janja também prestou solidariedade a ela publicamente.
“Não fui convidada por ser mulher. Fui convidada como ministra. Como convidada dei a chance de ele pedir desculpas, e aí permaneceria na reunião. Como pessoas que não respeitam a democracia, as mulheres, os indígenas, o povo preto, não são afeitas a pedir desculpas, ele disse que não ia se desculpar, e obviamente que me tirei da audiência”, disse ela, após o episódio.
“O que não pode é alguém achar que, porque você é mulher preta, vem de trajetória de vida humilde, que você vai dizer quem eu sou e dizer que devo ficar no meu lugar. Meu lugar é onde todas as mulheres devem estar”, afirmou.