O matemático Marcelo Viana tomou posse, na tarde desta quarta-feira (6), no auditório da Folha, no centro paulistano, como o novo titular da Cátedra Otavio Frias Filho de Estudos em Comunicação, Democracia e Diversidade. Em uma apresentação depois de assumir o posto, ele fez uma defesa da importância da matemática para o desenvolvimento econômico do país —e demonstrou seu argumento com dados.
“O grau de desenvolvimento de uma nação pode ser medido pela participação que a matemática tem em sua economia”, disse ele logo no começo de sua fala, na qual discutiu também gargalos no ensino básico e na transmissão de conhecimento entre universidade e setor produtivo.
Viana é diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e, desde 2017, assina uma coluna no jornal, na qual desmistifica a matemática para leigos.
A palestra deu o tom do novo ciclo da cátedra, com o tema Ciência, Tecnologia, Inovação e Desenvolvimento. A partir desse recorte, Viana está preparando uma série de palestras com especialistas —e, ao fim do processo, vai ajudar a organizar um livro com artigos de pesquisadores selecionados.
A cátedra é uma iniciativa do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP (Universidade de São Paulo) em parceria com a Folha.
Em sua posse, o novo catedrático apresentou uma série de estudos internacionais para embasar sua defesa de que há uma relação direta entre profissões ligadas à matemática e prosperidade econômica.
Ele lembrou um levantamento feito no Reino Unido em 2010, mostrando que trabalhos que fazem uso da matemática geraram 10% dos empregos e responderam por 16% do PIB do país naquele ano.
Viana enumerou outras pesquisas, feitas em anos posteriores, em outros países, revelando que o fenômeno está longe de ser algo só britânico. Na França, em 2022, por exemplo, a matemática estava ligada a 13% de todos os empregos e foi responsável por 18% do PIB do país.
“Com esses estudos saindo, eu sempre me perguntava: e o Brasil?”, afirmou ele. “Fiz convites a diferentes organizações com o intuito de encontrar alguém que pudesse fazer algo semelhante na realidade brasileira.”
O resultado veio. Neste ano, o Itaú Social, com apoio do Impa, publicou um estudo semelhante: no Brasil, a matemática corresponde a 4,6% do PIB e a 7,6% do total de empregos, dados bastante inferiores aos de nações ricas.
“Como devemos reagir? Entendendo que somos menos desenvolvidos do que essas nações, ou seja, o número reflete algo que já sabemos. Mas, longe de ser uma decepção, o dado sinaliza uma oportunidade”, afirmou Viana, acrescentando que levar o Brasil ao patamar francês poderia somar R$ 1,3 trilhão ao ano ao PIB nacional.
Viana apresentou, contudo, uma série de obstáculos a esse objetivo, como os “resultados catastróficos” no ensino de matemática a alunos em fase escolar. Sem falar no declínio nas matrículas para pós-graduação na área de exatas e a dificuldade de diálogo entre universidades e iniciativa privada.
“Há uma espécie de diálogo de surdos entre a universidade e o setor produtivo”, disse ele. “A formação superior cresce, mas sem estar em sintonia com as necessidades do mercado de trabalho.”
Com a posse, Viana se torna o terceiro titular da cátedra —antes dele, ocuparam o posto o sociólogo Muniz Sodré e a bióloga Suzana Herculano-Houzel, também colunistas do jornal.
A cátedra foi lançada em fevereiro de 2021, como parte das comemorações pelos cem anos da Folha. A iniciativa homenageia o jornalista Otavio Frias Filho (1957-2018), que liderou o projeto de modernização deflagrado pelo jornal em 1984 e dirigiu a Redação até sua morte, há seis anos, em decorrência de um câncer.
A cerimônia de posse do matemático teve a presença de Carlos Gilberto Carlotti Junior, reitor da USP; Maria Arminda do Nascimento Arruda, vice-reitora da universidade; Marcos Buckeridge, vice-diretor do IEA; Guilherme Ary Plonski, professor-sênior do IEA; André Chaves de Melo Silva, coordenador da cátedra; Sérgio Dávila, diretor de Redação da Folha; e Vinicius Mota, secretário de Redação do jornal.