O serviço de inteligência do Reino Unido divulgou um novo levantamento que indicou um aumento do número de adolescentes envolvidos com terrorismo no país.
O diretor-geral da agência governamental, Ken McCallum, disse em outubro que um a cada oito suspeitos de cometer atos terroristas tem menos de 18 anos e muitos estão sendo recrutados em plataformas digitais, sem ter antecedentes criminais ou conexão anterior com grupos terroristas, o que dificulta as investigações, segundo as autoridades.
Os dados oficiais apontam que o número de menores de idade comprometidos com atividades criminosas relacionadas ao terrorismo triplicou nos últimos três anos. Ao todo, 13% de todos os suspeitos no Reino Unido têm menos de 18 anos.
Até junho deste ano, segundo o levantamento, a Polícia Britânica prendeu 242 pessoas por suspeita de crimes de terrorismo. Desse número, 17% eram menores de 18 anos, a porcentagem mais elevada registada desde que os dados começaram a ser recolhidos há mais de duas décadas.
A análise feita pela inteligência britânica concluiu que esses jovens, alguns com 13 anos de idade, são cada vez mais atraídos por uma retórica extremista, inclusive jihadista, nas redes sociais e aplicativos de mensagens.
Segundo McCallum, nos últimos anos, esses adolescentes passaram a ter um acesso mais facilitado a “material inspirador” e instruções sobre como realizar ataques terroristas, o que contribuiu para a radicalização desse público, um alvo recorrente de recrutadores extremistas.
Os números mais recentes envolvendo crimes cometidos por menores apontam que esse tipo de conteúdo, que inclui propaganda, vídeos de doutrinação e fóruns de discussão, tem um apelo particularmente perigoso nessa idade.
“Hoje, para um jovem poder acessar conteúdos inspiradores e instrutivos a partir do seu quarto é um limiar muito mais baixo do que era há 20 anos”, explica o diretor-geral da agência governamental britânica.
Em abril, um jovem de 15 anos foi condenado a sete anos de prisão por planejar um ataque pela plataforma Discord com o objetivo de matar participantes de um festival de música no Reino Unido em 2022.
O adolescente tentou, na ocasião, comprar facas pela internet e adquirir um veículo para realizar o ataque no Festival da Ilha de Wight, evento que atrai cerca de 50 mil pessoas, no entanto, foi detido no dia por autoridades britânicas após um alerta do FBI, que identificou a ameaça na plataforma de mensagens, que ficou mais conhecida após se tornar um ponto de encontro de jovens que jogam online.
Em junho deste ano, outro jovem de 19 anos, identificado como Mason Reynolds, foi preso por elaborar um ataque suicida com bomba em uma sinagoga no distrito de Hove.
Segundo a BBC, ele já havia sido condenado anteriormente por publicar um artigo relacionado à preparação de um ato terrorista e admitir outros 10 crimes envolvendo conteúdo relacionado a terrorismo.
No ano passado, Daniel Harris, também de 19 anos, foi condenado a 11 anos de prisão, após publicar vídeos na internet que “inspiraram” ataque a tiros em massa nos EUA, perpetrado por Payton Gendron, em Nova York.
Segundo o Tribunal da Coroa de Manchester, Harris defendia o “extermínio total de subumanos” nos conteúdos que publicava. Os vídeos foram divulgados na internet entre fevereiro de 2021 e março de 2022.
Payton Gendron, também de 19 anos, realizou um massacre racista que custou a vida de dez afro-americanos em 2022, no estado de Nova York. O agressor, que havia compartilhado vídeos do britânico, foi condenado à prisão perpétua nos EUA.
Além da crescente ameaça terrorista no Reino Unido, a inteligência britânica alertou sobre outro perigo: o aumento de iniciativas de terror patrocinadas pela Rússia, pelo Irã e pela China.
Desde janeiro, segundo a agência governamental, as autoridades atenderam mais de vinte conspirações apoiadas por Teerã em solo britânico.