Na semana em que os atos de 8 de janeiro de 2023 completam dois anos, a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília é condenada pela maioria dos brasileiros de acordo com uma pesquisa divulgada nesta segunda (6) pela Quaest.
A condenação quase que absoluta entre os entrevistados atinge tanto os eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como de Jair Bolsonaro (PL). No entanto, a participação ou influência do ex-presidente nos atos divide os entrevistados e chega a metade deles (50%) – apenas 39% não acreditam que ele teve algum papel na organização do vandalismo.
- Desaprova os atos de 8/1: 86%;
- Aprova: 7%;
- Não sabe/não respondeu: 7%.
Para o pesquisador Felipe Nunes, CEO da Quaest, a rejeição aos atos de 8/1 mostra o que ele vê como uma “resistência” da democracia brasileira e uma “responsabilidade” da elite política.
“Diante de tanta polarização, é de se celebrar que o país não tenha caído na armadilha da politização da violência institucional”, pontuou.
A suspeita de participação de Bolsonaro nos atos, que acabou indiciando-o com outras 39 pessoas, também mantém o que se viu em fevereiro de 2023, aumentando a percepção de que teve alguma influência:
“O fato mais contundente capaz de provocar essa mudança [aumento da percepção de participação de Bolsonaro nos atos] foi a deflagração dos documentos e evidências em torno da tentativa de golpe de Estado. Vale lembrar que 48% dos brasileiros acreditam que Bolsonaro participou do plano de tentativa de golpe, enquanto 34% defendem que não”, explica Felipe Nunes.
Já outros 2% dos entrevistados acreditam que não houve nenhuma tentativa de golpe, enquanto que 17% não souberam responder.
Neste ponto, a pesquisa mostra que mesmo eleitores de Bolsonaro estão começando a acreditar na possibilidade de participação dele nos atos. Hoje já são 37% os que veem alguma influência, contra apenas 12% na pesquisa realizada no final de 2023. Os que não acreditam caiu de 81% para 55%.
Mas, o contrário também acontece entre os eleitores de Lula:
“Ao longo do tempo, os eleitores moderados de Lula, que enxergam algum exagero nas acusações que Bolsonaro vem sofrendo, tendem a relativizar suas posições. Ao mesmo tempo, os eleitores moderados de Bolsonaro, que enxergaram como graves as acusações contra o ex-presidente, tendem a ficar mais severos na avaliação sobre seus atos, para não se sentirem cúmplices de algo que acreditam ser errado”, analisa o CEO da Quaest.
Relação do 8/1 com os EUA
Além de completar dois anos dos ataques às sedes dos Três Poderes no Brasil, os atos de 8/1 também encontram paralelo com 6 de janeiro de 2021, quando o Capitólio dos Estados Unidos foi invadido por eleitores de Donald Trump durante a cerimônia de certificação da vitória de Joe Biden.
Para Felipe Nunes, as duas manifestações antidemocráticas foram conduzidas de maneiras tão diferentes pelos respectivos líderes dos países que ainda influenciam diretamente na percepção da população.
“Vale comparar os dados do Brasil com o dos EUA. Em janeiro de 2021, logo depois da invasão do Capitólio, 9% dos americanos aprovavam os atentados (no Brasil 4%). Um ano depois, a aprovação nos EUA foi a 14% (no Brasil, 6%); e dois anos depois, chegou a 20% (mas no Brasil foi só a 7%)”, disse.
Nunes vê que Biden acabou politizando o debate sobre a invasão ao Capitólio “fazendo com que Republicanos e Democratas se comportem como torcedores diante de um jogo de futebol”. “O governo Lula, a meu ver, tem tratado o assunto na maior parte das vezes com cautela, permitindo que o assunto seja conduzido no tempo do estado democrático de direito”, emendou.
A Quaest ouviu 2.012 pessoas entre os dias 4 e 9 de dezembro de 2024 em todos os estados do país. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.