O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) gravou uma mensagem ao mercado financeiro nesta sexta (20) em que se diz convicto com a necessidade da estabilidade econômica e do combate à inflação. A fala vinha sendo cobrada nos bastidores pelo mercado financeiro para se comprovar que o petista realmente estava comprometido com a responsabilidade fiscal do governo.
Seguimos mais convictos que nunca que a estabilidade econômica e o combate à inflação são as coisas mais importantes para proteger o salário e o poder de compra das famílias brasileiras. Tomamos as medidas necessárias para proteger a nova regra fiscal e seguiremos atentos à… pic.twitter.com/m66knQTWQI
— Lula (@LulaOficial) December 20, 2024
A gravação da mensagem ocorreu no Palácio da Alvorada nesta sexta (20) com a presença também de Haddad, Simone Tebet (Planejamento) e Rui Costa (Casa Civil), que fazem parte da Junta de Execução Orçamentária (JEO) do governo. Foi mais um sinal ao mercado financeiro de que há um discurso único do governo com a responsabilidade fiscal.
Isso porque havia uma grande desconfiança do mercado financeiro de que Haddad poderia estar isolado com Tebet na necessidade de cortar gastos, enquanto que Lula sempre levantou a bandeira de que recursos à saúde, educação e benefícios sociais seriam investimentos – um sinal de que ele não estaria comprometido com as contas públicas.
“Tomamos as medidas necessárias para proteger a nova regra fiscal [o arcabouço que limita os gastos públicos] e seguiremos atentos à necessidade de novas medidas. O Brasil é guiado por instituições fortes e independentes que trabalham em harmonia para avançar com responsabilidade”, frisou Lula a Galípolo durante a mensagem.
Autonomia para Galípolo no BC
O presidente disse a Galípolo que ele foi indicado ao cargo de presidente do Banco Central – posteriormente aprovado pelo Senado – por uma “relação de confiança minha e de toda equipe do governo”.
“Eu quero te dizer que você será, certamente, o mais importante presidente do Banco Central que esse país já teve, porque você vai ser o presidente com mais autonomia que o BC já teve”, seguiu.
Desde que Galípolo foi indicado por Lula ao cargo havia a dúvida se ele agiria com autonomia ou cederia a possíveis pedidos do Planalto para, principalmente, reduzir a taxa básica de juros. Este é o assunto mais delicado da relação entre o governo e o Banco Central, em que Lula sempre direcionou especificamente a Roberto Campos Neto a responsabilidade pelos altos patamares da Selic.
“Certamente, você vai dar uma lição de como é que se governa o Banco Central com a verdadeira autonomia. […] Quero que você saiba que jamais, jamais haverá, da parte da presidência, qualquer interferência no trabalho que você tem que fazer no Banco Central”, pontuou Lula.
Campos Neto foi indicado ainda durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) e já foi acusado por Lula de presidir a autarquia com viés político e a favor do mercado financeiro. No entanto, Gabriel Galípolo ressaltou em diversas entrevistas e discursos que seguiria a mesma política de manter os juros altos pelo tempo necessário até levar a inflação para o centro da meta de 3% – que já ultrapassou o teto de 4,5%, com previsão de fechar o ano em torno de 4,9%.
No entanto, o mercado financeiro sempre esperou que Lula viesse a público para garantir que não tentaria interferir na direção do Banco Central, que agora conta com ampla maioria de indicados no Comitê de Política Monetária (Copom).
A gravação não abre espaço para uma fala de Galípolo e nem dos outros ministros presentes no encontro.