Durante o último dia da viagem internacional à Rússia, o presidente Lula (PT) comentou o escândalo das fraudes do INSS com descontos irregulares de aposentadorias e pensões pagas pelo governo brasileiro. O petista afirmou que as investigações estão nas mãos da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU) e prometeu apurar o envolvimento de integrantes do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Após a crise aberta pela revelação do esquema que provocou a queda do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, o governo petista passou a acusar o ex-presidente da República, principalmente após a repercussão do vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG). O parlamentar cobra a abertura da “CPI do roubo dos aposentados” para investigar a disparada dos desvios a partir de 2023.
Lula declarou que a CGU e a Polícia Federal “foram a fundo para chegar no coração da quadrilha” durante a investigação do esquema sem fazer “show de pirotecnia”. “[Foi] um processo de investigação com muita inteligência, sem nenhum alarde. Eles conseguiram desmontar uma quadrilha que estava montada desde 2019 nesse país. E vocês sabem quem governava o Brasil em 2019”, disse em referência ao adversário político.
Lula não mencionou que o dinheiro repassado às associações suspeitas passou de R$ 706 milhões ao fim do governo Bolsonaro em 2022 para R$ 1,2 bilhão em seu governo em 2023 e R$ 2,8 bilhões em 2024.
Ele também ignorou o fato de que o governo anterior tentou criar travas exigindo que os descontos da folha de pagamento dos aposentados fosse revisado a cada dois anos e determinou a obrigatoriedade da comprovação dos descontos. Esses dispositivos acabaram revogados com um projeto de lei da esquerda aprovado em 2022 no Congresso com apoio de centrais sindicais. O texto foi assinado pelo atual ministro da Previdência Wolney Queiroz.
O presidente Lula ainda admitiu que evita comentar o assunto, pois as investigações estão sob responsabilidade da PF, CGU e da Advocacia-Geral da União (AGU), mas afirmou que espera uma apuração, sem pressa, sobre o envolvimento de pessoas ligadas ao governo Bolsonaro.
“O crime foi um assalto a aposentados e pensionistas nesse país. O que eu acho mais grave: eles não foram no cofre do INSS, eles foram no bolso do povo. Isso nos deixa mais revoltados e por isso vamos a fundo para saber quem é quem nesse jogo e se tinha alguém do governo passado envolvido nisso. Não tenho pressa.”
Lula garante que vítimas de descontos do INSS não serão prejudicadas
A participação de entidades e sindicatos nos desvios, por meio de descontos na folha de pagamentos de aposentados e pensionistas, é investigada no esquema de fraudes do INSS. Segundo o governo federal, o ressarcimento será utilizado para ressarcimento das vítimas.
A AGU já fez o bloqueio de bens de pelo menos quatro associações suspeitas, mas deixou de fora da lista o Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), que tem como vice-presidente José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico, irmão de Lula.
Segundo o presidente, existem “entidades sérias no meio que, certamente, não cometeram nenhum crime” e que as investigações devem apontar quais associações foram utilizadas no esquema para o desvio das aposentadorias e pensões.
“A gente quer apurar e aquelas entidades que roubaram vão ter seus bens congelados. Desses bens, vamos repatriar o dinheiro para que a gente possa pagar as pessoas”, prometeu.
Lula ainda garantiu que as vítimas não serão prejudicadas, no entanto, o ressarcimento ainda depende de uma análise do INSS. “Devolver ou não vai depender de constatar a quantidade de pessoas que foram enganadas. A quantidade de pessoas que teve o seu nome em uma lista sem que eles tivessem assinado. Porque aqueles que assinaram, autorizaram [o desconto”, declarou. “Os prejudicados serão aqueles que um dia ousaram explorar o aposentado e o pensionista brasileiro”, completou.