Por Raphael Satter e Christopher Bing
WASHINGTON (Reuters) – O FBI está investigando um consultor de longa data da Exxon Mobil (NYSE:) pelo suposto papel da empresa em uma operação de invasão hacker e vazamento de informações que teve como alvo centenas dos principais críticos da companhia petrolífera, disseram três pessoas familiarizadas com o assunto.
A operação envolveu hackers terceirizados que conseguiram invadir contas de e-mail de ativistas ambientais e outras pessoas, disseram fontes à Reuters.
O esquema teria começado no final de 2015, quando autoridades dos Estados Unidos alegam que os nomes dos alvos do ataque foram compilados pelo DCI Group, uma empresa de relações públicas e lobby que trabalhava para a Exxon na época, disse uma das fontes. O DCI forneceu os nomes a um detetive particular israelense, que, então, terceirizou a invasão, de acordo com a fonte.
Com o objetivo de promover a narrativa de que a Exxon era alvo de uma vingança política destinada a destruir seus negócios, parte do material roubado foi posteriormente vazado para a imprensa pelo DCI, segundo apuração da Reuters. O FBI descobriu que o DCI compartilhou as informações com a Exxon antes de vazá-las, afirmou a fonte.
Alguns ativistas ambientais entrevistados pela Reuters disseram que a operação de hacking atrapalhou os preparativos para diversos processos judiciais movidos por cidades e procuradores-gerais estaduais contra a Exxon e outras empresas de energia. Essas ações judiciais foram inspiradas em litígios contra a indústria do tabaco dos anos 1990, que resultaram em um acordo histórico e restrições abrangentes à venda de cigarros.
O material roubado continua sendo usado para enfrentar litígios segundo os quais a gigante do enganou o público e seus investidores sobre os riscos das mudanças climáticas. Em abril passado, um grupo comercial da indústria, que recebeu financiamento da Exxon, citou um dos documentos hackeados — um memorando interno delineando a estratégia de litígios proposta pelos ambientalistas — em uma tentativa de convencer a Suprema Corte a arquivar um processo movido pela cidade de Honolulu contra a Exxon e outras empresas de energia.
O caso ainda não teve uma decisão definitiva.
O grupo, a Associação Nacional de Fabricantes, afirmou que não tinha conhecimento da acusação de que o material havia sido hackeado “e avaliará se deve parar de usá-lo em futuros processos”.
A Exxon e o DCI encerraram sua parceria por volta de 2020, segundo duas pessoas familiarizadas com o assunto.
Em comunicado, a Exxon disse que “não esteve envolvida nem tinha conhecimento de quaisquer atividades de invasão hacker”, classificando as alegações contrárias como “teorias da conspiração”. A Reuters não conseguiu determinar se a própria Exxon também foi alvo da investigação do FBI.
A DCI declarou: “Orientamos todos os nossos funcionários e consultores a cumprir a lei”.
Os vazamentos “causaram um impacto tremendo na comunidade ambiental,” disse Kert Davies, diretor de investigações do grupo ambiental Center for Climate Integrity. Davies foi um dos alvos dos hackers.
Matt Pawa, um advogado cuja estratégia impulsionou grande parte dos litígios contra a Exxon, afirmou que os vazamentos alimentaram uma contraofensiva legal que quase o faliu.
“Esses documentos foram usados diretamente pela Exxon para vir contra mim com tudo”, disse ele em uma entrevista recente. “Isso virou minha vida de cabeça para baixo”.
A investigação sobre a operação de invasão e vazamento ocorre em meio à preocupação crescente entre agências de aplicação da lei em todo o mundo sobre como esquemas de ciberespionagem podem comprometer processos judiciais.
O FBI vem investigando o amplo uso de hackers por contrato para interferir em processos judiciais desde o início de 2018, conforme relatado anteriormente pela Reuters.
O detetive particular israelense contratado pelo DCI, Amit Forlit, foi preso neste ano no Aeroporto de Heathrow, em Londres, e luta contra sua extradição para os Estados Unidos sob acusações de invasão hacker e fraude eletrônica.
Autoridades norte-americanas se recusaram a comentar as investigações. Elas não falaram publicamente sobre o caso contra Forlit, que permanece sob sigilo.
Em audiências judiciais realizadas este ano, contudo, advogados britânicos em nome do governo norte-americano alegaram que Forlit havia realizado trabalho de invasão sob encomenda para uma “firma de relações públicas e lobby baseada em Washington” e que ele trabalhava em nome de uma corporação de petróleo e gás que queria desacreditar indivíduos envolvidos em litígios sobre mudanças climáticas.
Nessas audiências, a empresa de energia e a firma de lobby não foram nomeadas.
A operação de invasão e vazamento ocorreu logo após uma série de reportagens em 2015 alegando que cientistas da Exxon sabiam há décadas que os combustíveis fósseis estavam aquecendo a Terra, enquanto os principais executivos da empresa afirmavam publicamente o contrário. A Exxon declarou que suas pesquisas internas e suas posições públicas sobre mudanças climáticas foram mal interpretadas.
(Reportagem de Raphael Satter e Christopher Bing em Washington)