Um anel de metal, com mais de 2,4 metros de diâmetro e pesando mais de 500 quilos, caiu do céu em uma vila remota no Quênia na semana passada. O objeto não feriu ninguém, mas assustou moradores que temiam uma bomba ou algo pior.
A Agência Espacial do Quênia disse que estava investigando a origem do material, um anel de separação de um foguete de lançamento.
“Objetos desse tipo geralmente são projetados para queimar ao reentrar na atmosfera da Terra ou cair em áreas desocupadas, como os oceanos”, afirmou a agência espacial, descrevendo o incidente como “um caso isolado”.
Para os moradores do condado de Makueni, sudeste da capital Nairóbi, a queda do lixo espacial foi um grande choque.
“Eu estava cuidando da minha vaca e ouvi um estrondo alto”, disse o morador Joseph Mutua ao canal de notícias NTV do Quênia. “Olhei ao redor; não consegui ver fumaça nas nuvens. Fui até a beira da estrada para verificar se havia algum acidente de carro, mas não houve nenhuma colisão.”
Então Mutua e seus vizinhos olharam para cima e viram um grande objeto circular caindo lentamente do céu. Alguns moradores disseram que se assemelhava a um volante de carro gigante e brilhava na cor vermelha enquanto caía. A cor do anel mudou para cinza após aterrissar em um matagal, achatando árvores e arbustos.
“Se o objeto tivesse caído em uma casa, teria sido catastrófico”, disse Mutua. “Não sabíamos se era uma bomba ou o que quer que fosse e caiu aqui.”
Embora a agência tenha oferecido garantias de que o anel, desde então removido, não representava uma ameaça, as pessoas que vivem na aldeia de Mukuku ainda estavam irritadas com a queda.
“Queremos que o proprietário desta terra seja compensado”, disse Paul Musili, outro morador, às estações de televisão. “Desde que esse objeto caiu, não temos dormido. Todos estão se perguntando o que está acontecendo.”
O major Aloyce Were, da Agência Espacial do Quênia, disse que as autoridades ainda estavam avaliando a extensão dos danos à área, aos residentes e ao gado mantido no local.
Horas após o objeto ter caído, Were e sua equipe foram ao local, onde encontraram residentes traumatizados. “O espaço não é mais tão seguro como antes.”
O espaço está ficando lotado. No ano passado, a Agência Espacial Europeia (ESA) estimou que havia mais de 14 mil toneladas de material em órbita baixa da Terra. Cerca de um terço disso é lixo, de acordo com a astrofísica Sara Webb, da Universidade de Tecnologia Swinburne em Melbourne, Austrália, e seus colegas.
Com cerca de 110 novos lançamentos a cada ano e pelo menos dez satélites ou outros objetos se fragmentando a cada ano, a quantidade continuará a aumentar, segundo a agência espacial. E mais desses objetos estão caindo na Terra sem se fragmentar na reentrada como se espera.
Em março de 2023, um pedaço da Estação Espacial Internacional (ISS) abriu um buraco no telhado de uma casa na Flórida, e no mês seguinte, vários fragmentos consideráveis de metal de uma cápsula SpaceX foram encontrados em uma fazenda canadense. Um pedaço de metal semelhante, com peso estimado em 45 quilos, foi descoberto em maio em um acampamento na Carolina do Norte.
“Chegamos a esse ponto em nossa exploração e uso do espaço em que isso não é algo que acontece uma vez na vida. Agora é quase todo mês ou a cada dois meses”, disse Webb.
Embora o tamanho dos destroços que caíram sobre o Quênia tenha sido excepcional, há pelo menos 40,5 mil objetos maiores que dez centímetros ainda em órbita, e milhões de pedaços menores. Até mesmo esses fragmentos poderiam causar danos catastróficos se colidissem com objetos maiores, como um satélite, o que por sua vez gera mais detritos que poderiam atingir ainda mais objetos, criando um evento em cascata conhecido como Síndrome de Kessler, segundo Webb.
Responsabilizar uma empresa ou país pela queda no Quênia pode ser difícil, acrescentou Webb. A Comissão Federal de Comunicações dos EUA emitiu sua primeira multa por detritos espaciais em 2023 (US$ 150 mil) para a Dish, provedora de televisão.
Embora existam diretrizes internacionais para reduzir detritos espaciais, essas medidas, estabelecidas no início dos anos 2000, não acompanharam a taxa de lançamentos, de acordo com Stijn Lemmens, analista sênior de mitigação de detritos espaciais da ESA.
“Nossa preocupação é que, devido à baixa adoção de contramedidas no momento, o problema cresce mais rapidamente”, afirmou Lemmens.
Segundo ele, uma parte da solução é garantir que foguetes, satélites e outros veículos espaciais sejam projetados com uma vida útil mais curta e com a capacidade de se removerem da órbita com segurança.
Foguetes mais antigos estão sendo monitorados para se preparar para sua reentrada, acrescentou ele.
Reduzir os detritos espaciais também requer uma “mudança de mentalidade”, disse Lemmens, para que os humanos considerem o espaço como um recurso finito, e não “onde podemos simplesmente descartar coisas”.