O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), disse que não sabia da autorização dada pela subprefeitura de Pinheiros para criar a campanha publicitária “Largo da Batata Ruffles” no espaço público na região da avenida Brigadeiro Faria Lima, zona oeste da cidade. Não haveria mudança no nome oficial do largo, que receberia instalações no valor de R$ 1,1 milhão e anúncios da marca, propriedade da PepsiCo.
Neste sábado (14), Nunes disse à Folha que a autorização, publicada no Diário Oficial do Município, foi um erro. “Eu não tinha conhecimento da autorização que o subprefeito deu. Houve um erro de fluxo nesse processo, isso deveria passar pela Secretaria Municipal de Licenciamento e Urbanismo, passar por um conselho e que não passou, então houve uma falha ali na emissão do documento.”
O prefeito se referia à Comissão de Proteção à Paisagem Urbana (CPPU), que agora vai analisar os termos da parceria. A declaração foi dada durante agenda do prefeito no Autódromo de Interlagos, onde ocorrem corridas da 12ª etapa da Stock Car Pro Series, na tarde deste sábado.
Segundo o subprefeito de Pinheiros, Alan Cortez, o termo foi suspenso porque a PepsiCo começou a fazer publicidade sobre a ação. “O termo de cooperação nada mais é do que cuidar da zeladoria urbana da praça. Ele tem a prerrogativa de somente cuidar da zeladoria urbana da praça. O que a empresa fez? Ela desvirtuou o termo. Porque ela começou a fazer uma propaganda de publicidade.”
Como a subprefeitura não pode autorizar publicidade e mobiliário urbano, Cortez disse que decidiu suspender o termo e encaminhar o processo à CPPU. O subprefeito confirmou que Nunes não teve envolvimento no processo. “O prefeito não tem culpa, ele não sabe [do caso] porque isso é uma rotina administrativa, é apenas um termo de cooperação. O termo de cooperação que eu faço é diariamente, mensalmente, com outras empresas também.”
De acordo com o prefeito, os termos da parceria agora serão analisados pela comissão. “Precisa manter o largo da Batata bonito, mas também tem toda uma questão da nossa legislação. Mudar o nome, jamais. Não sei quem foi da imprensa que soltou esse negócio, em nenhum momento se falou em mudar o nome. Mudança de nome é só por ato de lei do prefeito de São Paulo.”
O acordo havia sido assinado em 28 de novembro e se tratava de um contrato de comodato (espécie de aluguel sem custo) de bens e serviços e doação, celebrado entre a Prefeitura de São Paulo, a Social Service Comunicação Mkt de Responsabilidade e a Pepsico do Brasil.
Em nota, a PepsiCo disse que a parceria trata-se de um termo de cooperação e doação, sem necessidade de consulta pública ou licitação, e negou irregularidades. “A companhia reitera que seguiu todas as diretrizes do processo administrativo com a subprefeitura de Pinheiros e que a iniciativa não contempla a mudança do nome do Largo da Batata (naming rights).”
Nas redes sociais, muitos se manifestaram contra a iniciativa. Alguns usaram a ironia para sugerir outros nomes hipotéticos vinculados a marcas, como Avenida Leite Paulista, Viaduto do Chá Mate Leão, Ladeira Porto Seguro […] continuem a cafonice”, disse um internauta. “Avenida Brigadeiro de Leite Moça”, “Travessa Vidros Marinex”, “Vila Carrão Chevrolet”, “Lá No Posto Ipiranga” e “Casa de Apostas Betano Verde” foram outras sugestões feitas.
Questionado sobre a intenção da prefeitura de seguir com a parceria, Nunes não comentou o caso específico.
“A gente sempre tem incentivado a ter com o [setor] privado, em várias áreas. Não especificamente essa eu posso dizer se vai avançar ou não. Muitos pedidos, às vezes, não são do interesse da cidade de São Paulo.”
De acordo com a PepsiCo, o projeto de revitalização do largo da Batata prevê melhorias e benfeitorias do espaço público. A companhia também afirmou que “aguarda a avaliação dos demais órgãos competentes ligados à Prefeitura para definir a continuidade da ação.”