O Kremlin anunciou neste sábado (17) que está elaborando uma lista de exigências que será enviada à Ucrânia como condição para um possível cessar-fogo no conflito. Segundo o porta-voz Dmitry Peskov, os termos não serão divulgados publicamente neste momento, uma vez que as negociações seguem em andamento e, segundo ele, devem ocorrer a portas fechadas. No entanto, Peskov admitiu que, diante de avanços concretos nas conversas entre as delegações, um encontro entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, poderia se tornar viável.
A possibilidade foi levantada após a mais recente rodada de negociações em Istambul, na sexta-feira, entre representantes dos dois países. O chefe da delegação russa, Vladimir Medinsky, declarou à imprensa internacional estar satisfeito com os primeiros resultados, mas adotou um tom mais agressivo ao se dirigir à imprensa russa. Em suas declarações, deixou claro que Moscou mantém a disposição de continuar a ofensiva militar e ampliar o controle sobre novos territórios, ameaçando inclusive as regiões ucranianas de Sumy e Kharkiv, no norte do país, onde tropas russas já iniciaram novos ataques.
Entre as exigências que deverão constar na proposta russa está a retirada imediata das forças ucranianas das quatro regiões anexadas pela Rússia — Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhya — ainda que Moscou não tenha controle total sobre esses territórios. Medinsky também reiterou outras condições que a Rússia vem mantendo desde antes da invasão em 2022, como o reconhecimento das anexações — incluindo a Crimeia, tomada em 2014 —, a desistência da Ucrânia em ingressar na OTAN, a desmilitarização do país, garantias legais aos falantes de russo, a substituição do governo de Zelensky, considerado ilegítimo pelo Kremlin, e o cancelamento de todas as sanções internacionais impostas desde o início da guerra.
Diálogo por trégua
Enquanto a Rússia afirma estar pronta para formalizar essas exigências como base para avançar nas tratativas, os Estados Unidos também participaram das movimentações diplomáticas do fim de semana. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, e o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, conversaram por telefone neste sábado (17) e manifestaram disposição para continuar trabalhando pela paz. Em nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores da Rússia, foi destacado que Rubio elogiou os acordos relacionados à troca de prisioneiros e reconheceu que a apresentação formal das exigências por parte de Rússia e Ucrânia representa um passo rumo à trégua. Segundo o comunicado, Moscou confirmou seu interesse em continuar cooperando com os americanos nesse processo.
A conversa entre Lavrov e Rubio também abordou outros temas internacionais e regionais, mas o foco central permaneceu nas tratativas de Istambul e na possibilidade de destravar uma negociação direta entre os líderes das duas nações. Ainda assim, a posição de Moscou segue firme: um encontro entre Putin e Zelensky só ocorrerá se houver progresso real nos acordos de bastidores e se Kiev der sinais claros de aceitar as condições impostas pelo Kremlin.