Fogos de artifício iluminaram o teto do Chase Stadium do Inter Miami na noite de sábado (9), mas não havia nada para o time da casa comemorar.
Quando o apito final soou, o Inter Miami havia sido derrotado por 3 a 2 pelo Atlanta United, nono colocado, e eliminado dos playoffs da MLS. O Atlanta venceu o decisivo Jogo 3 da série e avançou para as semifinais da Conferência Leste.
A pirotecnia foi uma maneira estranha de terminar uma temporada de sucesso para o clube de Lionel Messi. Espere. Como a campanha de 2024 do Inter Miami pode ser considerada um sucesso?
Sair nesta fase dos playoffs é um embaraço para um time cuja notoriedade disparou desde a chegada de Messi, em julho de 2023. Em um estádio temporário que se tornou uma fortaleza para Miami este ano, Messi e seus companheiros foram eliminados por um adversário que foi medíocre durante a maior parte da temporada.
Depois de estabelecer o recorde de pontos da temporada regular da MLS (74) e conquistar o Supporters’ Shield, concedido ao clube com o melhor desempenho na temporada regular, Miami estava, na mente de muitos, obrigado a vencer a final da MLS Cup no final dos playoffs em 7 de dezembro. Então, o que deu errado? E o que essa eliminação significa para o Messi, de 37 anos, e para o técnico do Miami, Gerardo Martino?
O argentino Martino, de 61 anos, foi forçado a mexer em sua escalação no momento mais inoportuno da temporada. O sempre confiável Sergio Busquets, sofrendo de uma lesão no peito, foi colocado no banco, e Yannick Bright, um meio-campista que recupera bolas com habilidades de posse refinadas, estava indisponível devido a uma lesão muscular sofrida no Jogo 2 em Atlanta.
Messi se destacou no sábado, orquestrando o primeiro gol do jogo (marcado por Matias Rojas) e, depois que Atlanta assumiu a liderança por 2 a 1, marcando o gol de empate ele mesmo. Mas o gol da vitória dos visitantes veio quando o meio-campista Bartosz Slisz, com uma cabeçada poderosa, surpreendeu a torcida do Chase Stadium faltando 14 minutos para o fim.
Miami marcou 79 gols durante a temporada regular e rotineiramente dominou a posse de bola, mas suas fraquezas também estavam à vista de todos. Atlanta expôs a linha alta de Miami ao longo da série e finalizou suas chances de forma clínica. Apesar do sucesso na temporada regular, o time de Martino sempre foi suscetível ao contra-ataque, e essa vulnerabilidade após perder a posse de bola lhes custou caro.
O grupo de proprietários do Miami, composto por David Beckham e os irmãos Jorge e Jose Mas, gastou mais de US$ 70 milhões (R$ 406 milhões) em contratações para o time, levando a regra do teto salarial da MLS ao limite. Messi, Busquets, Luis Suárez e Jordi Alba trouxeram seus currículos espetaculares para a MLS com uma coisa em mente: ganhar títulos. Um troféu da Leagues Cup em 2023 preparou o palco para uma temporada de conto de fadas.
Com Martino no comando, um técnico acostumado aos holofotes mais brilhantes do futebol mundial após liderar o Barcelona e as seleções da Argentina e do México, Miami tinha todas as ferramentas, incluindo a vantagem de jogar em casa, para vencer sua primeira MLS Cup. Sair tão cedo é um cenário pior para a MLS e a Apple, parceira de transmissão da liga.
“Não é um sucesso quando você perde na fase de quartas de final”, disse Martino. “Se pensarmos onde estávamos em novembro passado, houve progresso para o clube, não apenas para o time. Se considerarmos as expectativas que tínhamos para esses playoffs, ficamos muito aquém.”
Uma MLS Cup nunca definirá o legado de Messi —nada que ele faça enquanto estiver com o uniforme rosa e preto do Miami prejudicará ou fortalecerá a carreira do maior jogador do esporte. Como Beckham disse em 2023, o Inter Miami teve sucesso quando assinou com Messi.
Messi, vencedor de oito Ballon d´Or e herói da Copa do Mundo pelo lado triunfante da Argentina em 2022, também está jogando na MLS por razões que vão muito além das quatro linhas. Miami o contratou para mudar a trajetória do futebol americano, para se tornar um ícone em um país que ainda vira as costas para o jogo global.
Internacionalmente, o projeto do Inter Miami foi um sucesso retumbante, mas nos Estados Unidos, o fenômeno Messi foi normalizado. Era quase inacreditável sugerir que ele algum dia viria para a MLS. Agora, após apenas 1,5 temporada, os fãs da MLS reclamam da fadiga de Messi.
Ele tem sido um companheiro de equipe exemplar e uma alegria de assistir, mas sua relutância em falar com a imprensa diminuiu seu impacto nos Estados Unidos. Quando Messi fala, o mundo ouve. Quando ele não se envolve com a imprensa em um país cujo cenário midiático é dominado por programas de debate esportivo que discutem tudo menos futebol, o silêncio, como dizem, pode ser ensurdecedor.
No final de outubro, em uma entrevista com o jornalista Fabrizio Romano, Messi disse que seu superpoder desejado seria a invisibilidade. Pode-se empatizar com alguém cuja vida tem sido tudo menos privada por mais de 20 anos. Em Fort Lauderdale, a milhares de quilômetros dos paparazzi do futebol que o seguiram por anos em Barcelona e Paris, após sua mudança para o Paris St.-Germain, Messi tem uma vida tão normal quanto jamais teve. Mas a MLS não pode se dar ao luxo de que ele passe despercebido nos Estados Unidos.
Esta derrota nos playoffs contra o Atlanta provou que grandes momentos podem ser efêmeros. Não é segredo que Messi, que completará 38 anos em junho, está se aproximando do fim de sua ilustre carreira. Ele não descartou jogar na Copa do Mundo de 2026, que será realizada nos Estados Unidos, México e Canadá. O contrato de Messi com o Inter Miami vai até a temporada de 2025 da MLS, um ano antes dessa Copa do Mundo e um ano antes da inauguração do novo estádio do clube em Miami.
Com isso em mente, a eliminação precoce de Miami coloca pressão adicional sobre os proprietários do clube para maximizar o talento de Messi e seu enorme apelo de marca. O tempo, aparentemente, está se esgotando.
Os playoffs da MLS continuarão sem Messi, e para uma liga que precisa de tanta atenção quanto possível, o resultado de sábado em Fort Lauderdale foi desanimador.
Mas este é o futebol na América. Ainda há um longo caminho a percorrer em direção à relevância.