Cerca de 15% dos 11,4 milhões de moradores da cidade de São Paulo residem em favelas da capital paulista, segundo dados do Censo 2022 divulgados nesta sexta-feira (8). Ao todo, são 1.728.265 pessoas, soma da população dos 1.359 territórios em solo paulistano.
Em todo o estado, são 3.630.519 habitantes, ou 8,2% da população, dividida em 92 cidades, parcela próxima da média nacional dos residentes em favelas (8,1%). Já na comparação com os 16,4 milhões de moradores de favela no Brasil, SP abriga 22% dessa população.
Ainda, a população paulistana em favelas superou a do Rio de Janeiro na comparação com o recenseamento de 2010. Naquele ano, eram 1,4 milhão vivendo nesses territórios no Rio e 1,3 milhão nos de São Paulo. Mas o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) não recomenda uma comparação direta por causa do alcance do mapeamento. Na operação de 2022, o instituto registrou 12.348 favelas, ante 6.329 em 2010.
No recorte de concentrações urbanas do IBGE, que agrupam municípios isolados ou arranjos populacionais com mais de 100 mil habitantes, a concentração de São Paulo, com 20,6 milhões de habitantes, tem 2,9 milhões —14,3% deste total— morando em favelas.
Ao todo, o estado de São Paulo tem 3.123 favelas. A menor delas, em quantidade de moradores, é a Intercontinental, na capital paulista, com 52 moradores, seguida pela Vila Pelica, em Cubatão, com 56.
A maior delas, tanto na capital quanto no estado, é a centenária Paraisópolis, na zona sul da cidade, com 58.527 habitantes. A segunda maior é Heliópolis, também na capital, com 55.583 moradores, e a terceira, a Vila São Pedro, em São Bernardo do Campo, com 28.466 residentes.
Para a nutricionista Jaqueline Amorim, 28, em Paraisópolis as distâncias se encurtaram ao longo dos anos. Ela chegou à comunidade aos três anos de idade, com a mãe, e se lembra das filas para escolas e do acesso difícil a serviços de saúde, que dependia de carona para fora da favela, até uma unidade de atendimento.
Hoje, segundo o recorte do IBGE, são 20 estabelecimentos de saúde —hospitais, postos de saúde e outras unidades de atendimento, públicas ou privadas—, 14 de ensino e 82 religiosos, além de 2.755 que se enquadram em “outras finalidades” e podem conter lojas e mercados, por exemplo.
Em toda a cidade, para comparação, são 10.717 estabelecimentos de saúde, cerca de 1 para cada 1.069 habitantes. Em Paraisópolis, a relação vai a 1 estabelecimento de saúde para cada 2.926 pessoas.
Dos 21.442 domicílios particulares permanentes ocupados mapeados pelo Censo na favela, 88,5% tinham rede geral, rede pluvial ou fossa ligada à rede para esgotamento sanitário, e 1.032, 4,8%, usavam rio ou córrego como solução.
Atualmente, Jaqueline, coordenadora do Agrofavela Refazenda, projeto do G10 Favelas, já vê mais facilidade no acesso a educação e saúde para os filhos, Estevan, 7, e Sofia, 5.
O Censo, diz ela, precisa ser cada vez mais detalhado para captar as necessidades da favela. “Muitas pessoas vão pelo número do Censo, e se está errado, não é só um número. É uma vida, são mães, mulheres e crianças.”
E o que falta em Paraisópolis? Segundo Jaqueline, mais promoção de cultura e mais espaços de lazer.
Para ela, a mobilização social é fundamental para superar o que ainda falta em acesso a serviços, comércio, alimentação e infraestrutura, especialmente pela criação de uma rede. “Quem não consegue correr atrás, hoje tem quem corra por você”, afirma a nutricionista, que mora com os filhos e a mãe, Maria Nilza Gomes, 49. “É reunião, filho, pega na casa da tia, leva na escola, uma loucura. Mãe solo, baiana, preta, é trabalho.”