Faltam quatro meses para o Carnaval de 2025, mas a polêmica sobre a ocupação da capital paulista por foliões já botou o bloco na rua. Conselho comunitário ligado à Secretaria da Segurança Pública do governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), o Conseg do centro de São Paulo avalia ir à Justiça para restringir cortejos carnavalescos na região central da cidade, segundo o presidente da entidade, Cândido Prunes.
Em um extenso relatório sobre as festividades de 2024, o Conseg Centro estima em mais de 300 horas o período total de fechamento de vias como a rua da Consolação e as avenidas Ipiranga e São Luís durante os dias em que desfiles de blocos estiveram autorizados.
Além apresentar diversas críticas aos cortejos, como quanto à sujeira deixada pelos foliões, som alto dos trios elétricos e danos a canteiros e jardins municipais, o documento cobra da gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) informações sobre o evento em 2025.
“Queremos saber antecipadamente quais serão os locais, os trajetos, os horários, mas a prefeitura está sonegando essas informações porque sabe que nós poderemos fazer uma análise para questionar judicialmente”, diz Prunes.
Em nota, a Secretaria de Cultura da administração de Nunes diz haver expectativa de publicar até o fim deste ano o edital para definição dos blocos que desfilarão em 2025. A prefeitura também afirma pautar a discussão sobre a programação carnavalesca por meio do diálogo com as regiões envolvidas e organizadores.
Fundador do bloco Espetacular Charanga do França, um dos mais conhecidos do Carnaval paulistano, o músico Thiago França diz concordar com a necessidade de definição antecipada das regras e infraestrutura para os desfiles, mas discorda das demais posições apresentadas pelo relatório do Conseg.
Também morador da região central, França afirma que o documento reflete uma posição política conservadora, cuja intenção é impedir a passagem dos blocos pelas ruas do centro. “O incômodo é com todos os movimentos ligados à cultura, com a retomada do Carnaval de rua e com tudo o que está relacionado a grupos políticos de esquerda”, diz.
A conclusão do relatório do Conseg Centro faz críticas a diversos aspectos do Carnaval, incluindo a mobilização de agentes e recursos públicos para a organização, e utiliza o termo “algazarra” diversas vezes para se referir ao evento. O texto, no entanto, não pede a proibição dos cortejos.
O presidente do conselho também afirma não haver influência política no posicionamento da entidade. “O Conseg não é contra o Carnaval de rua e quem diz isso o faz por ignorância ou má-fé”, responde Prunes. “Sou presidente do Conseg, não tenho filiação política”, diz.
Sobre as críticas quanto à organização e limpeza das vias, a Secretaria Municipal das Subprefeituras enviou nota à Folha na qual afirma que as ações de zeladoria neste ano aconteceram durante os oito dias de festa e contaram com 15.614 agentes de limpeza e uma frota de 1.403 veículos.
Ao todo, diz a nota da gestão Nunes, cerca de 548 toneladas de lixo foram recolhidas e banheiros químicos foram instalados nos trajetos dos blocos oficiais cadastrados, conforme instruções prévias dos próprios organizadores.
A prefeitura também destaca pesquisa do Observatório do Turismo que apontou, em 2024, um índice de 95% de satisfação das pessoas com o carnaval de rua da cidade.