Unidades de conservação de São Paulo estão sofrendo com a superpopulação de javalis e javaporcos (frutos do cruzamento de javali com porco). A espécie, considerada invasora e exótica, prejudica a biodiversidade das áreas protegidas.
Estimativas da Fundação Florestal, vinculada à Semil (Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo), apontam que existem ao menos 380 javalis e javaporcos distribuídos por cinco unidades de conservação do estado: as Estações Ecológicas de Angatuba, Barreiro Rico, Itirapina e Santa Bárbara e o Parque Estadual de Ilhabela.
Por serem espaços abertos ao público, a superpopulação da espécie no local pode oferecer risco aos visitantes, além dos impactos ambientais.
Para tentar solucionar o problema, o governo abriu na última segunda-feira (16) um edital no valor de R$ R$ 1,11 milhão para contratar o serviço de monitoramento e controle, incluindo a captura e o abate dos animais. É a primeira vez que este modelo será adotado, segundo a Semil.
Os javalis e javaporcos deverão ser capturados com armadilhas feitas com redes ou cercados, usando ceva de milho (uma preparação especial dos grãos) para atraí-los. Depois de capturados, serão abatidos, e as carcaças devem ser destinadas adequadamente. Os trabalhos devem durar ao menos 18 meses.
“A estimativa é de abater até 50 animais em cada uma das Estações Ecológicas de Barreiro Rico, Angatuba e Santa Bárbara; 30 na Estação Ecológica de Itirapina; e 200 no Parque Estadual de Ilhabela”, diz a instituição em nota.
O javali-europeu (Sus scrofa) não ocorre naturalmente no Brasil. Ele foi introduzido a partir de países vizinhos e acabou se espalhando rapidamente pelo território nacional a partir do fim da década de 1980. A sua disseminação foi facilitada pela ausência de predadores naturais, além de serem animais com reprodução rápida e que encontram uma abundância de alimentos tanto em áreas de vegetação nativa quanto em plantações.
Considerada uma das espécies invasoras mais danosas e numerosas do mundo, segundo a UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza), seu cruzamento com porcos deu origem ao javaporco, subespécie ainda maior e mais destrutiva, podendo pesar mais de 170 kg.
De acordo com a Semil, esses animais competem com animais nativos e consomem diversas espécies vegetais, atacando florestas e lavouras. Onívoros, se alimentam, ainda, de pequenos animais invertebrados e vertebrados, como tartarugas, aves e répteis.
Seus hábitos de cavar, revirar o solo em busca de alimento, chafurdar na lama e se refrescar nos cursos d’água danificam nascentes, mudam a cobertura do solo e alteram a composição da vegetação —facilitando o espalhamento de ervas daninhas e interrompendo processos ecológicos, como a sucessão e composição de espécies.
“Além disso, se alimentam de pequenos animais, ninhos e plantas, incluindo espécies ameaçadas de extinção. Dessa forma, as atividades de rotina da gestão [das unidades de conservação], incluindo pesquisas, podem ser afetadas ou suspensas como medida de segurança”, afirmou em nota a Fundação Florestal.
O vencedor da concorrência deverá ter autorização de manejo de javalis junto ao Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) e apresentar um plano de ação a ser validado pela Fundação Florestal.
No documento devem constar um levantamento sobre a presença dos animais nas unidades de conservação e o método usado para a instalação de armadilhas, a captura e o abate. As técnicas não podem provocar maus-tratos e devem ocorrer sem causar estresse e afugentamento da espécie.