O fotógrafo Thomaz Farkas conseguiu combinar com maestria o experimentalismo com as imagens documentais. Na juventude, se dedicou a registrar cenas do seu entorno, primeiro no Pacaembu, onde morava, tanto da construção do estádio nos anos 1940 quanto da torcida nos jogos que ali se disputavam.
Na mesma época, direcionou seu olhar para o centro da cidade, nas imediações da rua São Bento, onde seu pai, Desidério, fundou a primeira loja da Fotoptica.
Quem quiser ver uma incrível exposição de suas fotos deve ir ao IMS (Instituto Moreira Salles) até março. Em “Thomaz Farkas, todomundo” é possível perceber o grande alcance de sua arte e também conhecer seu trabalho como documentarista que fazia imagens do povo e lutava contra um sistema opressor.
Nascido em 1924 em Budapeste, capital da Hungria, ele fotografou incansavelmente até os 25 anos de idade e foi um dos pioneiros no Brasil a captar imagens em cores.
Na maturidade, optou pelos documentários cinematográficos, buscando personagens fundamentais, como Pixinguinha e Hermeto Pascoal, e registrando a vida das pessoas comuns.
Na fase inicial de seu trabalho, um de seus interesses principais eram as multidões. Aos 18 anos, ingressou no influente Foto Cine Clube Bandeirante, avançado centro de debates sobre fotografia.
No Pacaembu, em preto e branco, captou, entre 1942 e 1947, a torcida em polvorosa e os olhares concentrados nos jogos, sempre explorando as luzes e as sombras e preocupado com as formas.
Na região central, estreitou sua relação com a cidade circulando pelos dois lados do viaduto do Chá. Seu foco estava na efervescência das ruas, tomadas por pessoas trajadas elegantemente.
Como diz um dos curadores da mostra no IMS, Sérgio Burgi, a exposição é uma oportunidade de fazer uma apresentação integrada da obra de Farkas. Os outros curadores são Juliano Gomes e Rosely Nakagawa
“Pudemos mostrar os mundos paralelos do cinema e da fotografia na sua obra”, afirma Burgi. “Ele compreendeu a dimensão social, política e humanística das imagens que captava.”
Segundo Burgi, suas imagens do centro de São Paulo têm um sentido documental, mas também são uma experiência de linguagem. Fotos coloridas da região são raríssimas na segunda metade da década de 1940.
Um dos fundadores da moderna fotografia brasileira, Farkas demonstrava inquietude, grande senso crítico e refletia sobre os ambientes que registrava.
Estava sempre atento aos movimentos, seja na dança, nos esportes universitários, no futebol ou no universo do trabalho. Ele cursou engenharia na escola Politécnica da USP e, a partir da década de 1960, assumiu a direção da Fotoptica.
Por ser dono de uma loja de equipamentos fotográficos, tinha grande facilidade de acesso aos materiais necessários para o seu ofício.
Mas o dado fundamental é que em vez de se tornar apenas um comerciante, ele se transformou num artista e também num financiador de cineastas perseguidos pela ditadura.
A partir dos anos 1950, seu interesse migra da fotografia para o cinema. Dirigiu e produziu quase 40 documentários, sempre ligado em experimentações formais e com uma visão política progressista.
Seu primeiro curta-metragem, chamado “Estudos”, se perdeu. Em 1954 filmou no parque do Ibirapuera “Pixinguinha e a Velha Guarda do Samba”, um clássico.
Entre as obras cinematográficas que dirigiu ou produziu se destacam “Brasil Verdade”, “Todomundo”, “Hermeto Campeão”, “Jânio a 24 Quadros”, “Coronel Delmiro Gouveia”, “Subterrâneos do Futebol” e “Viramundo”. Farkas morreu em 2011, aos 86 anos, e foi um homem antenado com seu tempo.
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