Um dos mais épicos JRPGs dos últimos 20 anos. Uma fenomenal carta de amor ao original e aos seus fãs, na qual darás por ti a perder a noção do tempo enquanto exploras as áreas abertas e participas nos mini-jogos, sem jamais tirar a campanha da cabeça. As pequenas mazelas gráficas não tiram o brilho a esta estrela.
Final Fantasy 7 Rebirth é simplesmente maravilhoso. Chega 4 anos após a primeira parte do projeto remake desse memorável clássico PS1 e consegue a mesma impressionante sensação de deslumbramento que marcou o anterior. Para quem tem em Final Fantasy 7 para PS1 o seu principal marco definidor na indústria dos videojogos, Final Fantasy 7 Remake é sem admiração um jogo de sonho, cujas pequenas falhas não lhe removem o intenso brilho. A sequela faz exatamente o mesmo, mas numa escala muito superior. Actualiza e expande o maior dos clássicos, corrige problemas da primeira parte e torna-se num JRPG de grande gabarito.
A segunda parte parecia um projeto impossível, basta pensar na escala do jogo original, uma verdadeira revolução JRPG que marcou para sempre a Squaresoft e toda a indústria japonesa, mas a verdade é que a Square Enix conseguiu. O melhor de tudo é o que faz de uma forma na qual ostenta a mesma capacidade para maravilhar que o original conseguiu. Contextualizados com as suas respetivas eras e panoramas tecnológicos, são dois triunfos pelos mesmos exatos motivos. É um jogo no qual perdes a noção do tempo, é um prazer de jogar e aguça o teu imaginário tal como o original conseguiu na sua altura.
Com uma banda sonora simplesmente de proporções divinais (que me ajudou a testar os Pulse Explore), uma história que expande a original e com um dos melhores sistemas de combate num RPG, Final Fantasy 7 Rebirth tornou-se num dos meus jogos favoritos de todos os tempos. É literalmente um hino ao original, mas ao mesmo tempo um colosso capaz de se erguer por si próprio, com dignidade para se tornar numa referência para as eras modernas, tal como o original foi para a sua geração de jogadores.
Uma narrativa remisturada
Não te vou contar nada sobre a narrativa de Final Fantasy 7 Rebirth, não mereces que te faça isso pois mesmo para jogadores do original, existe aqui novidade suficiente que merece ser protegida. Posso dizer que, tal como a primeira parte mostra, a história do original é respeitada, mas foi expandida e ajustada. Existem cenas expandidas, cenas novas, outras foram ligeiramente alteradas e isto resulta numa constante sensação de curiosidade pelo que vai acontecer em seguida.
Eu já conhecia a história do original, ordem de eventos e o que acontecia naqueles locais, mas a Square Enix expandiu diversos locais de forma empolgante ao ponto de sentir novidade em algo familiar. Junon, por exemplo, tem direito a um capítulo dedicado à pequena cidade na base do penhasco, a prisão em Golden Saucer foi expandida e isto não é filler ou forma artificial de prolongar a longevidade. Pelo contrário, é o expandir de elementos do original de uma forma que a equipa não conseguiu na altura. É mostrar mais deste mundo que tanto adoramos destas personagens, e do efeito da Shinra no resto do mundo, fora de Midgar. É o aprofundar de um universo de fantasia envolto num contexto muito atual: o clima e o impacto do ser humano na natureza.
A ideia de adaptar o CD1 de Final Fantasy 7 para um videojogo moderno é decididamente um projeto de ambição gigantesca e basta pensar em locais como Corel, Gongaga ou Costa Del Sol para perceber isso. A história de todos foi expandida, com novas personagens e cenas, a narrativa foi ajustada para melhorar a sua compreensão e a qualidade gráfica permite sentir com maior intensidade o drama que ocorre. Ver locais que até agora existiam como fundos pré-renderizados transformados em locais 3D de grande escala é de colocar sorrisos na face de qualquer fã.
No entanto, tão importante quanto o tamanho do mundo que vais explorar, a área jogável e os seus inúmeros segredos escondidos para quem se vai desviar da campanha, para saborear a sério este mundo, o novo olhar à narrativa também é um forte atrativo. Recriar a natureza excêntrica e ambiciosa do original na era atual também significa enfrentar desafios tecnológicos, mas diria que a Square Enix triunfa.
Um dos melhores sistemas de combate jamais vistos num JRPG
Final Fantasy 7 Remake mostra uma forte energia por parte da Square Enix, através de um sistema de combate eletrizante, que consegue capturar a essência da estratégia por turnos do original, misturado com o elevado dinamismo da ação em tempo real. É um cruzamento fenomenal e que parecia impossível de resultar. Aliás, foi uma das maiores dúvidas antes da chegada da primeira parte e conquistou sem qualquer sombra de dúvida.
Para a segunda parte, a equipa aposta nas Synergy Abillities como a principal novidade. Os combates permanecem frenéticos, com uma benéfica profundidade transmitida pelo desacelerar da ação quando escolhes habilidades, magia ou itens, mas a diversidade que cada personagem alcança é um ponto de impressionante valor. Combater com Cloud é diferente de combater com Yuffie ou Nanaki, por exemplo, o que te incentiva a aprender as especificidades de cada um. Aliás, o próprio jogo vai-te obrigar a usar todas as personagens ao longo da história.
Cloud com a sua postura Punisher para contra-ataques poderosos, Nanaki com a sua habilidade Revenge que permite ativar golpes que recuperam HP, Yuffie que atira o seu Shuriken para alternar entre combate a longo e curto alcance, Barret que pode ser usado como uma espécie de tanque, todas as personagens têm as suas mecânicas próprias e apesar do gameplay ser o mesmo, as especificidades vão exigir compreensão das suas habilidades e principais capacidades.
Poderá ser a minha memória a trair-me, já passou muito tempo desde a última vez que joguei a primeira parte, mas senti que os combates estão ainda mais divertidos e frenéticos. O botão de contra-ataque, pressionado no momento certo a negar dano, os bosses intensos e espetaculares que te forçam a testar várias combinações de equipas ou a alternar entre personagens, um dos melhores casos é um boss no qual apenas podes usar Cloud. Aqui, és forçado a perceber quando usar a postura Punisher e quando efetuar dodge, por exemplo. Além disso, como já sabes, tens de treinar as Materias e usar bem as habilidades, o que realça essa sensação de profundidade e frequente adaptação ao desafio. Além disso, tens as habilidades nas quais as personagens atacam em dupla e também são uma mais valia.
As áreas abertas, Chocobos e atividades extra
Perto do final da campanha principal, Final Fantasy 7 Rebirth permitirá Fast Travel sem restrições, mas até lá terás uma estrutura restrita, que de acordo com os contextos da narrativa, te forçará a deslocar até pontos específicos de cada uma das enormes áreas abertas do mundo para aceder a outras. Poderá irritar no início, mas é apenas uma forma de evidenciar que deves explorar ao máximo antes de seguir para uma nova. Especialmente porque é desta forma que Final Fantasy 7 Rebirth conquista ainda maior diversão. É assim que mais facilmente alcança aquela sensação de “as horas passam a voar”.
A campanha principal pode ser terminada em cerca de 50h e a equipa permite que o jogues em linha reta, mas estruturou o jogo para permitir grande personalização da aventura. Com isto, quero dizer que podes decidir se segues em frente na história, se vais para uma nova área, se procuras a próxima cutscene narrativa ou se te perdes a explorar cada região. Existem imensos incentivos para o fazer, desde desbloquear os chocobos de cada região, cumprir missões secundárias ou repetir as atividades de mundo aberto para obter mais recompensas.
Final Fantasy 7 Rebirth está repleto de easter eggs e após terminar a campanha, estou ansioso para acabar este texto e voltar ao jogo. Vi tanta coisa que não consegui fazer e estou com enorme curiosidade em ver tudo o que deixei para mais tarde. É a mesma sensação do original, que tropeças num inesperado segredo ou local a qualquer momento, que existem easter eggs que serão partilhados de forma entusiasmada ao longo das próximas semanas e meses. Sim, é um desses jogos.
Cada área obriga-te a completar uma missão opcional para desbloquear um Chocobo, mas as suas habilidades estão restritas à sua zona. O Chocobo da primeira área apenas corre e nada, enquanto o de Nibelheim consegue projetar-se no ar para chegar mais alto, por exemplo. Com isto em mente, a equipa de produção tornou cada local num recreio, que podes explorar para encontrar recursos (podes fabricar itens e equipamento), cumprir missões extra e as atividades de mundo aberto. Entre as missões extra que cumpri, as fetch quests são mínimas e no geral fica evidenciado o esforço em ir mais além. Algumas missões extra tem uma história mais detalhada e algumas até introduzem mecânicas próprias. No geral, revelam um bom equilíbrio e despertam curiosidade.
Sobre as atividades em mundo aberto, a Square Enix povoa os mapas com ícones de atividades extra para ajudar Chadley. Em troca recebes Materia e podes desbloquear Summons extra, se os derrotares no Simulador de Combates. Eliminar inimigos para desbloquear torres, eliminar inimigos específicos e difíceis, encontrar casas de Moogles, analisar cristais e encontrar pedras que permitem reduzir o poder dos Summons no simulador são as principais atividades criadas pela Square Enix e confesso que não senti cansaço. Não és obrigado a fazê-las, podes completar a campanha em “linha reta”, mas foi com estes incentivos que dei por mim a explorar o mundo e a descobrir belas paisagens que perderia se não me afastasse do percurso principal.
O mais divertido foi a sensação de imersão, de maravilhamento, a sensação que a qualquer momento tropeçaria numa inesperada missão extra, num momento cómico com Kyrie, numa bela paisagem que me deixaria impressionado como a nova versão captura a essência do original. Dei por mim a forçar-me a seguir para a campanha pois deixei-me “perder” a explorar o mundo, sempre à procura de ver um novo local ou chegar a um objetivo extra. Terás diversos ícones no mapa, mas a diversão do gameplay faz com que jamais sintas que estás a cumprir uma checklist.
A qualidade gráfica e os mini-jogos
Se jogaste a demo de Final Fantasy 7 Rebirth já sabes o que te espera e mesmo com a atualização, terás um efeito similar ao da primeira parte: um jogo visualmente impressionante num momento, mas que em meros segundos te coloca perante texturas tão fracas que se torna embaraçoso. Sim, a Square Enix repete o mesmo que fez na primeira parte e é impossível não lamentar que um jogo tão rico em termos gráficos consiga ser ao mesmo tempo tão pobre.
Isto é especialmente importante pois vais passar muito tempo nas áreas abertas e a qualidade de imagem faz-te sentir que corre numa resolução muito baixa, devido à falta de nitidez no modo Desempenho, enquanto o modo Gráfico melhora imenso as coisas, mas a performance deixa a desejar. Isto varia de pessoa para pessoa por isso, se conseguires jogar bem em modo 4K, a qualidade gráfica fica muito melhor.
Além disto, no oceano de elogios que tenho para tecer a Final Fantasy 7 Rebirth, tenho um contra a apontar: os mini-jogos. A Square Enix apresenta-te imensos mini-jogos e nem todos são divertidos. Alguns, como as corridas de Chocobos, por exemplo, divertem, mas outros não e quando se tornam obrigatórios para progredir na campanha, prepara-te para encorrilhar o nariz várias vezes.
Felizmente, Queen’s Blood, o jogo de cartas, é um autêntico mimo e dei por mim totalmente viciado, ao ponto de deixar a campanha em pausa para perseguir novos adversários e aprender mais sobre isto.
Conclusão
Final Fantasy 7 Rebirth é pura magia em forma de arte interativa. Dei por mim a pensar no quão majestoso é o original que lhe serve de base e o quão ambicioso foi para a altura. Apenas podemos descrever como fenomenal o que a Squaresoft conseguiu fazer com as limitações da altura. Jogar Final Fantasy 7 Rebirth faz-te sentir que estás a jogar um jogo dessa era, com uma campanha emocional, repleta de momentos impactantes, apoiada por um enorme mundo para explorar. É fácil perder a noção das horas a explorar estes vários locais por segredos, sempre à procura de easter eggs e curiosidades que reforçam imenso a sensação de descoberta e maravilhamento. O original é o meu jogo favorito de todos os tempos e Rebirth merece figurar ao seu lado.
Prós: | Contras: |
|
|