A visita de Donald Trump Jr., filho mais velho do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, à Groenlândia nesta terça-feira (7), gerou preocupação e intensificou o debate político na Dinamarca e nesse território autônomo.
Apesar de a viagem ter sido declarada como particular, a presença do herdeiro do próximo ocupante da Casa Branca, acompanhada por cerca de 20 pessoas, reacendeu especulações sobre o interesse de Donald Trump na ilha.
A visita de Trump Jr., que não incluiu encontros com autoridades locais, ocorreu poucas semanas após declarações de Donald Trump reafirmando que a aquisição da Groenlândia seria uma “necessidade absoluta” para a segurança nacional dos EUA. Em uma publicação na rede Truth Social, Trump afirmou que a Groenlândia é “um lugar incrível e que as pessoas se beneficiarão se ela se tornar parte da nação (EUA)”. Ele ainda acrescentou que “este é um acordo que precisa ser feito”.
Durante uma coletiva de imprensa em Mar-a-Lago, na Flórida, nesta terça-feira, Donald Trump não descartou a possibilidade de impor tarifas à Dinamarca ou até utilizar meios militares para assegurar o controle do território.
“Meu ponto de partida, e o do governo, é muito claro: o futuro da Groenlândia é definido na Groenlândia”, respondeu a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, pedindo calma à população em entrevista ao canal TV2.
O presidente da Groenlândia, Mute B. Egede, também manifestou sua posição sobre a visita, enfatizando a autonomia do território: “Deixe-me repetir: a Groenlândia pertence aos groenlandeses. Nosso futuro e nossa luta pela independência é assunto nosso. Os dinamarqueses, os americanos e os demais podem ter uma opinião, mas não devemos cair na histeria e nos distrair com pressões externas”, escreveu ele em uma publicação feita no Facebook.
Nesta semana, o chefe de governo groenlandês cancelou uma reunião prevista com o rei Frederico X da Dinamarca, alegando “problemas de agenda”, mas confirmou que viajará ao país para participar de outros eventos oficiais.
A visita de Trump Jr. acontece em um momento delicado para a Groenlândia, que se prepara para eleições regionais até maio deste ano. Com uma superfície de 2 milhões de quilômetros quadrados, dos quais 80% estão cobertos por gelo, a Groenlândia ocupa uma posição geopolítica estratégica no Ártico. O país conta com uma população de apenas 56 mil habitantes e uma economia altamente dependente da ajuda anual da Dinamarca, o território enfrenta dificuldades para se sustentar financeiramente. Apesar de suas ricas reservas minerais e petrolíferas, os altos custos de extração têm impedido o desenvolvimento pleno desses recursos.
Os Estados Unidos mantêm uma base militar no norte da ilha, resultado de um acordo de defesa firmado com a Dinamarca em 1951. Essa presença militar reforça o interesse estratégico americano na região, especialmente diante da crescente influência da Rússia e da China no Ártico.
Reações
A visita de Trump Jr. e as declarações de seu pai geraram críticas tanto em Nuuk, capital da Groenlândia, quanto em Copenhague, capital da Dinamarca. A parlamentar groenlandesa Aaja Chemnitz, da base de Egede, expressou sua indignação nas redes sociais: “É inacreditável que algumas pessoas sejam tão ingênuas a ponto de acreditar que a felicidade será alcançada ao nos tornarmos cidadãos dos EUA. Não, obrigado. Não quero ser uma peça nos sonhos molhados de Trump de expandir seu império”.
Rasmus Jarlov, líder do Partido Conservador dinamarquês, ironizou as intenções de Trump, sugerindo que seria mais realista a Dinamarca comprar uma parte dos Estados Unidos, referindo-se à elevada dívida pública americana.
A primeira-ministra Frederiksen também foi alvo de críticas da oposição, que a acusou de ser menos enérgica agora do que em 2019, quando Trump propôs pela primeira vez a compra da Groenlândia, gerando um atrito diplomático entre os dois países.