Aproximadamente 4 em cada 10 crianças se afastam de atividades rotineiras como creche, pré-escola e convivência social devido à falta de saneamento básico. Esse dado foi revelado pelo Instituto Trata Brasil em um estudo divulgado nesta quinta-feira (10).
Segundo a pesquisa, a ausência de saneamento básico é um fator determinante para o baixo desempenho escolar e, futuramente, para uma renda inferior na fase adulta.
Na vida adulta, a diferença chega a impactar a capacidade de adquirir uma casa própria, com uma disparidade financeira de mais de R$ 126 mil entre quem teve e quem não teve acesso a saneamento básico na infância.
Além disso, o estudo reforça que o acesso a serviços como água tratada e coleta de esgoto reduz consideravelmente o risco de contrair doenças hídricas, como dengue, ou respiratórias, como gripe e covid-19.
Afastamento devido a doenças na infância
De acordo com o Ministério da Saúde, a primeira infância (até seis anos de idade) foi afetada por doenças como dengue e gripe, atingindo 6,6 milhões de crianças em 2019, conforme a Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE. Diante disso, 4 em cada 10 crianças tiveram que se afastar de atividades como creche e pré-escola.
Na segunda infância (de 7 a 11 anos), a falta de saneamento impacta o desenvolvimento físico e cognitivo das crianças, especialmente devido ao afastamento escolar, que compromete o desempenho acadêmico.
Efeitos na educação
A pesquisa comparou dois grupos, um com acesso a água tratada e outro sem, com base nos resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) de 2021. Alunos sem água tratada tiveram uma pontuação 20,9 pontos inferior em língua portuguesa e 19,1 pontos menor em matemática, em relação aos que têm água tratada.
Na prática, esses alunos enfrentam dificuldades para identificar temas em textos ou interpretar horas em um relógio de ponteiro, por exemplo.
Impactos na vida adulta
O estudo conclui que a falta de saneamento afeta a qualificação profissional e dificulta a obtenção de empregos bem remunerados.
Quando o acesso ao saneamento básico é garantido, a qualidade de vida melhora, diminuindo o afastamento por doenças, aumentando a produtividade e, consequentemente, os salários.
Saneamento e doenças infantis
Em 2005, o Brasil tinha 36,7% de cobertura de saneamento e uma taxa de 5,5 casos de diarreia para cada 100 crianças de até 2 anos. Com o aumento para 43,9% de cobertura até 2010, os casos de diarreia caíram para 2,5 por 100 crianças.
Entre 2010 e 2015, os casos reduziram ainda mais, para 2,2 a cada 100 crianças.
A região Sudeste, com 89% de abastecimento de água e 80,6% de coleta de esgoto, apresenta os menores índices de diarreia em crianças de até 2 anos. Já a região Norte, com apenas 50,3% de fornecimento de água e 7,5% de coleta de esgoto, registra os maiores índices, com 45,431 casos por mil crianças.