O presidente dos EUA, Donald Trump, disse nesta quinta-feira (17) que permitirá a pesca comercial em uma das maiores reservas oceânicas do mundo, introduzindo operações industriais pela primeira vez em mais de uma década em uma vasta área do Pacífico pontilhada de atóis de coral e povoada por tartarugas-marinhas e baleias ameaçadas de extinção.
Trump emitiu um decreto abrindo o Monumento Nacional Marinho do Patrimônio das Ilhas do Pacífico, que fica a cerca de 1.200 quilômetros a oeste do Havaí. O presidente George W. Bush estabeleceu a unidade de conservação em 2009, e Barack Obama o expandiu em 2014, chegando a 1,3 milhão de quilômetros quadrados.
Um segundo decreto orienta o Departamento de Comércio a afrouxar regulamentações que “sobrecarregam excessivamente as indústrias americanas de pesca comercial, aquicultura e processamento de pescado”. Também solicita ao Departamento do Interior uma revisão de todos os patrimônios marítimos e emitir recomendações sobre quais deveriam ser abertos à pesca comercial.
“Os Estados Unidos deveriam ser o líder mundial dominante em frutos do mar”, disse o presidente americano.
O santuário marinho, uma cadeia de ilhas e recifes em meio a mais de 160 montes submarinos, é um tesouro de biodiversidade marinha. Ambientalistas afirmam que abrir a área para pesca comercial representa uma séria ameaça aos frágeis ecossistemas da região.
Trump, acompanhado no Gabinete Oval por um pescador da Samoa Americana e Aumua Amata Coleman Radewagen, delegada do território na Câmara dos Representantes, disse que seus predecessores haviam privado as comunidades das ilhas do Pacífico de “terrenos férteis”.
“É tão horrível e tão estúpido”, disse Trump. “Estamos falando de um oceano imenso e eles são forçados a ir e viajar de quatro a sete dias para pescar em uma área que não é tão boa.” Ele se refere ao tempo que leva para os pescadores viajarem de suas ilhas de origem até os pesqueiros fora da área protegida.
“Obrigada, presidente Trump”, disse Radewagen, republicana, em um comunicado na quinta-feira. “Esta proclamação sensata é importante para a estabilidade e o futuro da economia da Samoa Americana, mas também é uma notícia fantástica para a segurança alimentar dos EUA.”
Radewagen enviou em janeiro uma carta a Trump pedindo que a pesca fosse reaberta ao redor do santuário. A economia da Samoa Americana depende fortemente da pesca, particularmente do atum.
Outros republicanos disseram que as ordens permitem uma pesca comercial responsável que será um impulso econômico para os americanos no Havaí e nos territórios do Pacífico.
“Nossos compatriotas americanos na região indopacífica dependem da pesca comercial para sua estabilidade econômica e seu futuro”, disse o deputado Bruce Westerman, republicano do Arkansas, que lidera o Comitê de Recursos Naturais da Câmara.
Ele disse que um maior acesso aos pesqueiros será uma “nova oportunidade econômica monumental”.
O decreto sobre o Monumento Nacional Marinho do Patrimônio das Ilhas do Pacífico afirmou que as medidas existentes, como a Lei de Espécies Ameaçadas e a Lei da Água Limpa, protegem suficientemente os recursos, as espécies e os habitats da área.
Ativistas ambientais disseram que as alegações da administração Trump de que essas leis são suficientes para proteger a vida marinha são falsas. Eles questionam a legalidade da proclamação de Trump ao abrir a zona costeira e dizem que pretendem entrar com um processo para impedi-lo.
“Este é um presente para as frotas de pesca industrial e um tapa na cara da ciência e das gerações de ilhéus do Pacífico que há muito pedem maior proteção dessas águas sagradas”, disse Maxx Phillips, diretor para o Havaí e Ilhas do Pacífico no Centro para Diversidade Biológica, organização ambiental sem fins lucrativos.
Angelo Villagomez, pesquisador sênior do Centro para o Progresso Americano, organização de pesquisa, disse que abrir monumentos marinhos para pesca industrial “estabelece um precedente perigoso de que nossas terras e águas públicas estão à venda para o maior licitante”.
Villagomez observou que os Estados Unidos controlam quase 5 milhões de milhas quadradas de oceano e disse: “há espaço para termos a pesca mais bem gerenciada do mundo e redes de proteção marinha, salvaguardando os lugares mais ameaçados, icônicos e especiais em nosso oceano”.
Robert H. Richmond, ecologista marinho da Universidade do Havaí, contestou a ideia de que abrir o monumento ajudará a indústria pesqueira e disse que há dados sólidos mostrando que grandes áreas protegidas, na verdade, melhoram a pesca. Isso porque elas fornecem uma área segura livre de embarcações onde os peixes podem se acumular, crescer e estar em maior densidade, onde a desova é mais bem-sucedida.
“Elas são como contas bancárias [com os peixes]”, comparou Richmond, “e sua reprodução são os juros”.