Os médicos costumam indicar exames preventivos de Papanicolau para detectar câncer de colo do útero a cada três anos para mulheres a partir dos 21 anos. Agora, a partir dos 30 anos, as elas têm uma nova opção.
Em vez de se submeterem a um exame pélvico, essas pacientes podem ir ao consultório médico e coletar sua própria amostra vaginal para ser testada para o papilomavírus humano, a infecção que causa a maioria dos casos de câncer de colo do útero, de acordo com novas diretrizes emitidas nesta terça-feira (10) por um painel de saúde nos Estados Unidos.
A coleta própria da amostra foi aprovada em maio pela FDA (Administração de Alimentos e Medicamentos). O teste de HPV deve ser repetido a cada cinco anos, dos 30 aos 65 anos, quando a maioria das mulheres pode parar a triagem, disse a Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA.
Outras opções de triagem para aquelas com 30 anos ou mais incluem continuar com exames de Papanicolau a cada três anos, ou um exame combinado de Papanicolau e teste de HPV a cada cinco anos, disse a força-tarefa. Mas um teste de HPV a cada cinco anos é o método de triagem ideal, proporcionando o melhor equilíbrio entre riscos e benefícios.
As novas recomendações se aplicam a mulheres e qualquer pessoa designada como mulher ao nascer e que ainda tenha colo do útero, independentemente de terem sido vacinadas contra o HPV.
O conselho foi emitido em meio a uma crescente preocupação com a queda nas triagens de câncer e a confusão resultante de mudanças ao longo do tempo nos regimes de triagem e testes usados para detecção precoce e prevenção do câncer.
O uso de swabs (cotonetes) vaginais autocoletados para testes de HPV está sendo recomendado pela primeira vez nas diretrizes, em parte para aumentar a triagem e torná-la mais fácil.
“É importante enfatizar que o câncer de colo do útero é um dos tipos de câncer mais tratáveis e evitáveis”, porque a triagem é muito eficaz, diz John Wong, vice-presidente da força-tarefa.
O câncer de colo do útero tende a crescer lentamente, ele explica. Os exames de Papanicolau podem detectar alterações pré-cancerosas, enquanto os testes de HPV detectam infecções persistentes que não se resolvem sozinhas e podem desencadear alterações celulares cancerígenas ao longo do tempo.
As mulheres que costumam desenvolver câncer de colo do útero são aquelas que não têm feito triagens regulares, dizem os especialistas. Cerca de um quarto das mulheres entre 21 e 65 anos não estavam em dia com suas triagens de câncer cervical em 2021, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças.
Mulheres asiático-americanas e hispânicas eram mais propensas a estar atrasadas nas triagens do que mulheres brancas ou negras, de acordo com pesquisas da Entrevista Nacional de Saúde.
O câncer de colo do útero já foi um dos principais causadores de morte por câncer entre mulheres americanas, mas tanto as taxas de câncer quanto as mortes causadas por ele caíram mais de 70% desde que o teste de Papanicolau foi introduzido.
A doença ainda mata 350.000 mulheres anualmente em todo o mundo, e é a principal causa de morte por câncer para mulheres em 37 países, a maioria deles na África Subsaariana e na América Central e do Sul, onde a triagem não está facilmente disponível.
Nos Estados Unidos, no entanto, a incidência caiu nas últimas cinco décadas para 6,8 casos por 100.000 mulheres por ano em 2022, de 13,9 casos por 100.000 mulheres a cada ano em 1975, enquanto as mortes diminuíram para 2,2 por 100.000 mulheres de 5,5 por 100.000, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer. A detecção precoce e a prevenção por meio do uso de exames de Papanicolau precipitaram grande parte do declínio.
Mas mudanças recentes nas diretrizes de triagem deixaram não apenas muitos pacientes confusos, mas também alguns provedores, diz Karen Lu, vice-presidente executiva e médica chefe do Moffitt Cancer Center em Tampa, Flórida.
“Você pode se perder tanto nos detalhes que esquece o panorama geral”, que é que o câncer cervical é evitável e curável quando detectado precocemente, diz Lu.
“O que nos preocupa, como médicos que cuidam de mulheres com câncer cervical, é que se a triagem se tornar menos rotineira, as pessoas meio que esquecem de fazê-la.”
E só porque a triagem de câncer de colo de útero precisa ser feita apenas a cada cinco anos após os 30 anos, não significa que outros cuidados ginecológicos possam ser ignorados, observa Lu.
“As pessoas equiparam um exame pélvico a um exame de Papanicolau, mas isso não é absolutamente verdade”, ela disse. “O exame do colo do útero e do útero, especialmente nos 40 e 50 anos, quando o risco de câncer endometrial e ovariano começa a aumentar, ainda deve ser feito.”
Neste ano, a Sociedade Americana do Câncer estima que 13.820 novos casos de câncer de colo de útero invasivo serão diagnosticados e que cerca de 4.360 mulheres morrerão por causa dele.
As recomendações de triagem da sociedade são ligeiramente diferentes das emitidas pela força-tarefa: recomenda começar a triagem aos 25 anos com um teste de HPV e realizar esse teste a cada cinco anos.
Se o teste de HPV não estiver disponível, a sociedade recomenda “co-teste” a cada cinco anos —um exame combinado de Papanicolau e teste de HPV— ou fazer um exame de Papanicolau a cada três anos.
As diretrizes da Sociedade Americana do Câncer enfatizam que “a coisa mais importante a lembrar é fazer a triagem regularmente, não importa qual teste você faça”.
Um teste de HPV positivo ou anormal ou um exame de Papanicolau deve ser seguido por testes repetidos e, se necessário, procedimentos de acompanhamento, dependendo dos achados, diz Wong.
As mulheres podem parar a triagem aos 65 anos, desde que tenham um histórico de resultados normais dos últimos três exames de Papanicolau ou seus dois últimos testes de HPV —desde que tenham sido feitos nos últimos 10 anos, e pelo menos um tenha sido feito nos últimos cinco anos.
Nenhuma dessas recomendações se aplica a mulheres que estão em risco aumentado de câncer de colo do útero e precisam de monitoramento extra, incluindo mulheres com HIV ou sistemas imunológicos comprometidos, mulheres que foram expostas ao dietilestilbestrol durante a gravidez, e qualquer pessoa que teve câncer cervical ou foi tratada para lesões pré-cancerosas no passado.
As novas diretrizes da força-tarefa são uma recomendação preliminar, mas geralmente há pouca mudança entre a versão preliminar e a final das diretrizes.