Organizações ligadas ao mercado financeiro e ao setor empresarial emitiram, nesta segunda-feira (14), uma nota conjunta para expressar “profunda preocupação” com os incêndios florestais que tomaram o Brasil nos últimos meses.
O documento, ao qual a Folha teve acesso com exclusividade, cobra “abordagem integrada, sustentável e baseada em princípios sólidos de governança” entre governo, setor privado e sociedade civil.
As queimadas “comprometem os esforços nacionais de combate às mudanças climáticas e de descarbonização, além de colocar em risco os compromissos internacionais firmados pelo país, ameaçando o futuro sustentável que desejamos construir”, dizem as organizações, também aludindo a impactos na biodiversidade, saúde pública e economia.
Assinam a nota Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) e B3, bem como CDP Latin America, Apimec Brasil, Chapter Zero Brazil e CBARI (Comissão Brasileira de Acompanhamento do Relato Integrado).
Também são signatários os institutos de Direito e Ética Empresarial (IBDEE), de Direito Empresarial (Ibrademp), de Governança Corporativa (IBGC), de Clima e Sociedade (iCS) e Ethos de Empresas e Responsabilidade Social.
A nota das associações financeiras cobra atuações também dentro das empresas privadas. As instituições sugerem, por exemplo, a adoção dos princípios de governança climática propostos pelo Fórum Econômico Mundial, dizendo que a agenda ambiental é “fundamental para uma boa governança corporativa”.
Entre os princípios, estão: a responsabilização climática das lideranças, análise de riscos climáticos, desenvolvimento de estratégias internas e diálogo transparente entre tomadores de decisão, administradores, investidores e demais partes interessadas (“stakeholders”, no jargão econômico).
A nota ainda sugere ações conjuntas entre poder público, organizações, empresas e sociedade. São exemplos: zerar o desmatamento ilegal, com reforço em equipes de fiscalização e combate; garantir o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa; desenvolver medidas efetivas de proteção a povos originários; lançar campanhas de educação ambiental; e criar incentivos fiscais para estimular projetos de mitigação das mudanças climáticas.
O documento sugere também a “aprovação da legislação que cria a figura jurídica” da autoridade climática. O cargo é uma promessa feita desde a campanha eleitoral do presidente Lula (PT), mas nunca saiu do papel.
A ideia foi retomada nas últimas semanas, como parte da resposta do governo à crise das queimadas. O projeto, no entanto, é alvo de divergência entre a Casa Civil de Rui Costa e o Meio Ambiente de Marina Silva, o que pode atrasar ainda mais a criação. As pastas têm visões diferentes sobre o escopo da função e a quem ela deve estar subordinada.
O país foi tomado por fumaça em agosto, e as chamas se espalharam ainda mais em setembro. Dados do Monitor do Fogo da plataforma MapBiomas, divulgados na última quinta-feira (10), apontam que a área atingida pelas queimadas passou de 106 mil km² no mês passado, um aumento de 88% em relação aos 56 mil km² registrados no mês anterior.
Os números mostram que um novo recorde mensal foi batido. Agosto já tinha registrado a maior área queimada desde 2019, início da série histórica da plataforma, e setembro repetiu o feito.
No acumulado do ano, uma área comparável ao estado de Roraima foi queimada no Brasil. De janeiro a setembro, mais de 223 mil km² foram impactados —133 mil km² a mais que em 2023, um salto de 150%.
A maioria absoluta das queimadas tem origem humana, e os efeitos são potencializados pela seca histórica que acomete grande parte do país, sob influência do fenômeno climático El Niño. O fogo tem se espalhado mais facilmente por causa do calor, do vento e da falta de umidade no solo e no ar.