As férias oferecem uma desculpa para se reunir com os entes queridos, se soltar e se deliciar: pratos cheios de comidas, cochilos sem desculpas e, para alguns, muito álcool.
Mas o consumo excessivo de álcool não se limita à temporada de férias.
As taxas gerais de consumo excessivo de álcool agora são equivalentes entre adultos jovens e pessoas de meia-idade. Isso porque os jovens, especialmente os homens jovens, estão bebendo menos —enquanto os adultos de meia-idade estão consumindo mais álcool do que antes.
Há muito tempo somos alertados sobre os riscos do consumo excessivo de álcool, geralmente definido como tomar quatro ou cinco drinques em um período de duas horas.
Agora os pesquisadores estão cada vez mais focados em um padrão mais perigoso de uso de álcool, que eles chamam de consumo de alta intensidade: consumir oito ou mais bebidas alcoólicas seguidas, para mulheres; e dez ou mais, para homens.
O consumo de alta intensidade é mais perigoso e está aumentando entre certos segmentos da população.
A definição de consumo excessivo de álcool deriva do trabalho de Henry Wechsler, psicólogo social da Universidade Harvard que em 1993 acompanhou o uso de álcool entre estudantes universitários em todo os Estados Unidos.
Ele descobriu que as mulheres jovens que relataram consumir pelo menos quatro drinques por noite e os homens que beberam pelo menos cinco tiveram mais problemas relacionados à bebida.
Mas outros pesquisadores notaram que algumas das piores consequências associadas ao consumo excessivo de álcool, como apagões e intoxicação por álcool, tendiam a acontecer quando as pessoas tomavam muito mais do que quatro ou cinco doses.
Ao longo dos anos, os especialistas se referiram a níveis mais pesados de consumo excessivo de álcool de diferentes maneiras, incluindo “consumo extremo” e o muito menos cativante “consumo ritualístico extremo de álcool”. Nos últimos anos eles optaram por “consumo de alta intensidade”.
O consumo excessivo de álcool tem sido associado à juventude, mas as tendências estão mudando.
Desde 2005, a pesquisa Monitoring the Future, que acompanha o comportamento de adolescentes americanos até a idade adulta, pergunta a pessoas de 19 a 30 anos com que frequência elas consumiram bebidas em alta intensidade nas duas últimas semanas.
A pesquisa descobriu que, entre os participantes do estudo, o consumo de alta intensidade diminuiu de cerca de 11% em 2013 para 8,5% em 2023.
“Embora a prevalência esteja diminuindo, ela ainda é alta”, especialmente para aqueles com mais de 20 anos, disse George F. Koob, diretor do Instituto Nacional de Abuso de Álcool e Alcoolismo. Quase 1 em cada 8 pessoas com 27 e 28 anos consome regularmente dez ou mais drinques em uma noite, de acordo com os dados mais recentes de 2023.
A série National Alcohol Survey, que coleta dados da população em geral, define consumo de alta intensidade como a ingestão de pelo menos oito drinques seguidos por qualquer pessoa, homem ou mulher, nos últimos 12 meses.
A análise mais recente da pesquisa também mostrou um declínio no consumo de álcool de alta intensidade entre os jovens adultos, em geral. Mas sua frequência entre homens com 30 anos ou mais e mulheres de 18 a 64 anos aumentou, disse Camillia Lui, cientista do Alcohol Research Group que analisou os dados.
Problemas associados ao consumo de álcool de alta intensidade
Especialistas que estudam os efeitos do álcool disseram que vale a pena distinguir entre consumo excessivo e consumo de alta intensidade, porque o último vem com consequências mais graves.
Consumir oito ou dez drinques em um curto período de tempo pode produzir uma concentração de álcool no sangue de mais de 0,2%, “o que aumenta significativamente o risco de ferimentos, overdose e morte“, disse Koob. Para comparação, um consumo regular (quatro ou cinco drinques) normalmente resulta em uma concentração de cerca de 0,08%.
Os bebedores de alta intensidade também são mais propensos a sofrer um “apagão total”, sem lembrança do que aconteceu, ou a acabar na sala de emergência, “gravemente intoxicados e representando um perigo para si e para os outros”, disse Keith Humphreys, especialista em dependência e psicólogo da Universidade Stanford.
Quando as pessoas bebem tanto, “o risco de danos aumenta drasticamente”, acrescentou. Além disso, um número maior de bebidas por ocasião está associado a uma maior probabilidade de desenvolver transtorno por uso de álcool, disse Koob.
E “beber em alta intensidade não prejudica apenas o bebedor”, afirmou Lui. Pode levar a agressões físicas, acidentes de carro causados por embriaguez, danos materiais e problemas de relacionamento, por exemplo.
Por que as pessoas estão bebendo tanto?
Há muitas razões para o uso abusivo do álcool, desde uma disposição genética até a automedicação.
Mas quando se trata de beber em alta intensidade, estudos descobriram que os jovens eram amplamente motivados pela expectativa de que isso os tornaria mais sociáveis e os ajudaria a se divertir com os amigos —isso, para eles, superou quaisquer consequências negativas potenciais.
A Pesquisa Nacional de Álcool mostrou que adultos de meia-idade e idosos bebem durante eventos sociais, mas também relataram usar a bebida como forma de lidar com o estresse, disse Lui.
Mais pesquisas são necessárias para entender por que algumas faixas etárias estão em extrema compulsão. Embora cinco drinques sejam arriscados, não é o mesmo que dez, disse Humphreys. “A dose faz o veneno.”