Esta é uma reinterpretação arrojada da fórmula soulslike, que mantém o ADN da FromSoftware mas aposta num formato cooperativo e roguelike marcado pela constante pressão de tempo e elevada dificuldade. A experiência exige dedicação, resiliência e repetição, recompensando os mais persistentes com momentos memoráveis de conquista.
Elden Ring: Nightreign é a mais recente entrada no universo criado pela FromSoftware, apresentando-se como a nova etapa do aclamado RPG de ação. Segue-se a Elden Ring, lançado em 2022, que na altura representou um marco no género soulslike e redefiniu a fórmula da própria saga. Com total liberdade de progressão, uma mitologia complexa e um combate exigente, o jogo original foi muito bem acolhido, tornando-se um dos lançamentos mais influentes da década. A expansão que se seguiu, Shadow of the Erdtree, aprofundou a mitologia ao explorar novas áreas e ao introduzir novos desafios para os jogadores mais audazes.
Nightreign é uma continuação espiritual e estrutural das fundações lançadas em Elden Ring, apresenta um novo mundo, devastado por um eclipse eterno e afetado pela ascensão de uma estranha nova ordem. Apesar de manter a estética e o sistema de combate que definiram Elden Ring, este novo capítulo distingue-se por uma abordagem mais dinâmica ao design do mundo, com novos sistemas, inimigos e narrativas paralelas.
Estrutura Roguelike e Mecânicas Cooperativas
Ao contrário do título original, Elden Ring: Nightreign tem uma estrutura roguelike cooperativa, desenhada para equipas de até três jogadores que desafiam o mundo em ciclos de três dias em cada expedição. Cada sessão começa com a preparação e exploração de Limveld, uma nova região inspirada em Limgrave, com uma topografia fixa, mas com eventos e inimigos gerados processualmente, e culmina num confronto final contra um boss antes do reinício do ciclo.
É idealizado à volta da coordenação estratégica entre jogadores, com especial destaque para a gestão de recursos, o combate cooperativo e a adaptação. Apesar de poder ser jogado a solo, o jogo é claramente pensado para dinâmicas de grupo, o que reforça a imprevisibilidade através de um mundo que se torna progressivamente mais hostil à medida que o tempo passa e a área de jogo encolhe.
Funcionamento das Expedições e Objetivo Final
A entrada em Nightreign é feita através de uma fase inicial, que inclui um tutorial para nos familiarizarmos com esta nova fórmula e com o que podemos fazer com ela. Depois de completar o processo de aprendizagem, entramos nas expedições com ciclos de três dias. Escolhemos o personagem e se queremos ir num grupo de três jogadores ou solitariamente. Uma vez no mapa, parte-se à descoberta, com muitos desafios que culminam num boss final, o Nightlord, sendo este o nosso principal objetivo: sobreviver aos dois primeiros dias para chegar ao confronto decisivo no terceiro dia.
Os mapas são todos eles diferentes conforme o boss final, com a mesma estrutura de base mas com alterações muito específicas para cada um dos bosses finais. Há que conhecer bem os mapas, saber onde estão os recursos mais valiosos e claro, estudar rotas rápidas para lá chegar. É importante matar muitos dos mini bosses, pois estes são os que dão mais XP e drops mais valiosos, desde armas a recursos. Os Sites of Grace são pontos para subir de nível, recuperar saúde e recarregar os fascos.
É muito importante saber o que vamos fazer nas expedições, pois não há tempo a perder, a cada dia que termina o mapa encolhe. Como num battle royale comum, existe um circulo que se fecha e temos de nos deslocar para a zona segura, e assim sucessivamente até conseguirmos matar o boss do segundo dia, só aí temos acesso ao grande final contra o Nightlord.
Urgência e Ritmo de Jogo
Apesar de apresentar um novo conceito, Nightreign mantém-se firmemente enraizado na estrutura já criada em Elden Ring. O que muda é a forma como se joga: a liberdade de contemplação do original dá agora lugar a uma constante corrida contra o tempo. Obriga o jogador a percorrer o mapa rapidamente, em busca de equipamento e recursos para fortalecer a personagem antes que o ciclo avance. A pressão é constante, e o tempo disponível em cada um dos dias extremamente limitado, obriga a decisões rápidas e a uma gestão criteriosa das rotas e prioridades dentro do mapa.
É precisamente esta urgência constante que mais distingue Nightreign de Elden Ring. A velocidade com que tudo acontece impõe um ritmo muito mais agressivo, e a presença de companheiros de equipa, altamente recomendada, torna-se quase indispensável. A dificuldade é elevada, principalmente no confronto com o boss final, onde um único erro pode significar o fim da expedição. Uma morte é suficiente para forçar o reinício de todo o ciclo, a não ser que o jogador tenha a sorte de encontrar um item raro no mapa capaz de dar uma segunda oportunidade. Estes artefactos existem, mas encontrá-los requer uma exploração eficiente, um bom conhecimento do terreno, e claro, muita sorte.
Frustração Inicial e Recompensa a Longo Prazo
Esta nova fórmula não é fácil de digerir e, nas primeiras horas, pode ser completamente frustrante, um verdadeiro teste de paciência. A morte é constante e a sensação de progresso parece não existir. Mas, com o tempo e a repetição, começa a surgir uma sensação de domínio: aprendes a geografia do mapa, identificas as áreas com os melhores drops e ganhas confiança para te aproximares dos inimigos mais difíceis. A experiência melhora significativamente quando jogas com companheiros competentes, capazes de contribuir ativamente para a expedição, porque carregar aliados ineficazes só torna a viagem ainda mais dolorosa.
Dominar os novos sistemas e mecânicas de Nightreign pode, sem dúvida, ser altamente recompensador, especialmente quando, depois de tanto esforço, consegues finalmente derrotar o Nightlord. O sentimento de realização é verdadeiro e intenso. No entanto, estas vitórias são raras e precedidas de inúmeras tentativas falhadas, muitas das quais terminam em meros momentos com o boss final. Esta repetição constante, juntamente com a necessidade de reiniciar toda a expedição após cada fracasso, começa a desgastar a motivação. Houve alturas em que me perguntei porque continuava a jogar, sabendo que o resultado podia ser tão curto e frustrante. Esta pode ser a maior fraqueza da proposta da FromSoftware: um ciclo de tentativa e erro que por vezes oferece pouco retorno afetivo ao investimento de tempo e esforço.
Relíquias: Benefícios e Limitações
Logicamente, existem elementos destinados a tornar o jogador mais eficaz durante as expedições, as chamadas relíquias. Estas são ganhas aleatoriamente no final de cada expedição, independentemente do sucesso ou fracasso da mesma. No entanto, as mais valiosas vêm, como seria de esperar, de vitórias sobre o Nightlord. As relíquias funcionam como peças de equipamento que concedem buffs específicos, dando vantagens tanto ao jogador como aos seus companheiros. A sua utilidade, no entanto, depende muito do contexto: é fundamental ter em conta qual será o boss final, pois certas caraterísticas das relíquias podem ser decisivas nesse confronto.
No entanto, as variações de relíquias raramente contribuem de forma positiva para o equilíbrio do jogo. É necessária muita sorte para que o drop seja ótimo, pois muitas delas contêm elementos descartáveis. Algumas têm vantagens mal distribuídas entre as classes ou sinergias inconsistentes, obrigando o jogador a contar com a sorte para conseguir combinações eficazes, melhor dizendo, reliquias perfeitas.
Aleatoriedade, Exploração e Exigência
Uma sensação de aleatoriedade domina a estrutura do jogo: os inimigos mais importantes para subir de nível, os drops mais valiosos e até os percursos ideais nos mapas dependem de factores imprevisíveis. Embora o mundo apresente áreas escondidas e segredos, cada um com o seu próprio boss, o ritmo imposto pelo ciclo de tempo constante exige uma atitude acelerada. Isto obriga os jogadores a explorar, otimizar rotas e escolher equipamentos sob pressão, numa luta contra o tempo que não perdoa erros ou distrações.
A batalha final contra o Nightlord é o culminar deste ciclo contínuo e talvez o exemplo mais óbvio de como o jogo se tornou extremamente exigente. Chegar a este boss demora mais de trinta minutos, e o fracasso significa começar tudo de novo, algo que acaba por ser desencorajador e deixa uma sensação de grande frustração. Por um lado, é uma experiência que recompensa os jogadores metódicos e admiradores da fórmula da FromSoftware, que não desistem perante uma dificuldade extrema; por outro, essa mesma exigência vai inevitavelmente afastar quem não estiver disposto a investir horas a fio em tentativas frustradas.
Cooperação e Espírito Soulslike
Ainda assim, Nightreign consegue cativar-nos precisamente por este constante apelo à superação de obstáculos que, à primeira vista, parecem intransponíveis. Este é o fio condutor que nos mantém ligados à substância da fórmula Souls, um certo grau de masoquismo que alimenta a persistência e que transforma cada vitória difícil num genuíno sentimento de glória conquistada. Neste contexto, a cooperação torna-se parte integrante dessa conquista: a entreajuda não é apenas útil, é essencial. E há um prazer inegável ao ver três jogadores unidos, lutando com determinação pelo mesmo objetivo, partilhando cada pequena vitória como um triunfo coletivo.
Além disso, a diversidade dos mapas, a imprevisibilidade dos desafios e a necessidade constante de adaptação tornam cada expedição única. Há um apelo inegável nesta repetição metódica, que gradualmente se transforma em mestria e eficiência. Para aqueles que apreciam o puro desafio e a aprendizagem constante, Nightreign é uma extensão fiel e ambiciosa do legado da FromSoftware.
Desempenho Técnico
Tecnicamente, joguei Nightreign na PS5 Pro e, como seria de esperar, a experiência mantém-se muito próxima do que vimos em Elden Ring, incluindo os seus problemas recorrentes. Há dois modos visuais disponíveis: desempenho e qualidade. A recomendação é claramente para o modo de desempenho, apesar de ter quedas frequentes na fluidez, especialmente em momentos mais exigentes. Já o modo de qualidade, com o foco no visual, compromete seriamente a jogabilidade, a taxa de fotogramas torna-se demasiado incomodativa, o que num jogo onde os reflexos podem ditar a sobrevivência é simplesmente intolerável.
Conclusão: Fascínio e Exaustão
Sinto uma dualidade impressionante em Elden Ring: Nightreign. Por um lado, fiquei completamente viciado no jogo, sempre motivado a tentar novamente, a otimizar rotas, a ser mais eficiente e a ultrapassar desafios cada vez maiores. Há um verdadeiro fascínio nesse ciclo de aperfeiçoamento. No entanto, há também o lado menos agradável, a frustração de investir horas de esforço apenas para ver tudo a ruir em segundos, sem qualquer recompensa importante. Essa sensação de vazio após cada fracasso vai gradualmente enfraquecendo a motivação, tornando cada nova tentativa uma batalha não só contra os inimigos, mas também contra a própria exaustão emocional.
Embora frustrante em muitos aspectos – como o sistema de relíquias aleatórias e o desequilíbrio técnico, o jogo compensa com profundidade estratégica, mapas cheios de segredos e um aspeto cooperativo que reforça a sensação de progressão partilhada. É uma proposta exigente e não é feito para todos, mas entrega precisamente aquilo que os fãs mais dedicados do género estão à procura de: desafio, descoberta e superação.
Considerações Finais
Não há como contornar a exigência imposta por Nightreign, a FromSoftware elevou ainda mais a fasquia, criando uma experiência que, tal como no jogo original, não é feita para todos. Aqui, o grau de dificuldade e dedicação necessário é ainda mais intenso, reservado aos que realmente apreciam e se entregam a este estilo de jogo. Para esses jogadores, há um vasto mundo a explorar, repleto de segredos, estratégias e recompensas ocultas. Quem há muito ansiava por uma abordagem mais focada, desafiante e implacável dentro do universo Elden Ring encontrará aqui exatamente aquilo que procurava: desafio, descoberta e superação.
Prós: | Contras: |
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