Esta é a quarta edição da newsletter Inteligência emocional, modo de usar. Inscreva-se abaixo para receber a temporada completa no seu email.
A decisão de ficar ou partir é dolorosa. Nas últimas edições, falamos sobre como fazer o amor durar e como resolver conflitos. Mas nem tudo são flores. Há momentos em que os desafios de uma relação pesam e a ideia de colocar um ponto final começa a ser uma possibilidade.
É aí que começamos a fazer comparações com os relacionamentos de nossos amigos, os filmes ou livros que vimos e lemos… Nada como uma comédia romântica marcada por uma paixão ardente para nos fazer questionar: estamos fazendo algo errado? É ruim não ter mais o mesmo frio na barriga do começo? Ou não fazer sexo com a mesma frequência de antes?
Fato é: não sabemos medir o que é normal para um relacionamento. Qual a quantidade ideal de brigas? De sexo? Qual o grau normal de afeto? Não há uma resposta.
A decisão de terminar uma relação é solitária. Atualmente, a sociedade não condena mais a separação e psicólogos dizem que crianças preferem uma família desfeita a uma infeliz. Não sobram mais tantas desculpas e o peso da escolha recai totalmente sobre a pessoa.
Parece difícil achar uma solução, né? A ideia desta edição é criar meios para encontrar respostas que já estão dentro de nós.
Pode ajudar ter uma lista de perguntas e reflexões, do tipo advogado do diabo, em que se basear. Exemplifico algumas:
- Quanto da nossa infelicidade pode ser atribuída a este parceiro em particular e quanto pode –como corremos o risco de descobrir cinco anos e vários problemas depois– revelar-se simplesmente uma característica inerente a qualquer tentativa de viver em proximidade com outro ser humano?
- Embora, claro, seja sempre basicamente sempre culpa deles, como nós poderíamos estar contribuindo para a discórdia? De que maneira podemos ser um pouco difíceis de conviver?
- Observe de perto quantas pessoas sexualmente disponíveis e inteligentes os solteiros ao nosso redor, especialmente aqueles conectados em novos aplicativos de namoro, conseguem encontrar no dia a dia.
- Tente ter mais uma conversa com seu parceiro em que você não o acuse de falsidade e, em vez disso, simplesmente explique, com calma, como você realmente se sente e como está triste com algumas coisas.
- Reflita sobre como você realmente se sentiria como criança se você tivesse dois quartos pequenos, dois novos padrastos e possivelmente alguns meio-irmãos. Compare com a realidade de seu arranjo atual.
- Questione o quanto é normal para qualquer casal ter ótimo sexo depois de 22 meses juntos.
- Pergunte a si mesmo se você está preparado para enfrentar o risco de, talvez, não conseguir mais do que trocar um tipo de infelicidade familiar por uma variedade nova e mais complexa de infelicidade?
- Pergunte-se se você quer escolher a esperança ao invés da experiência.
Pensar sobre tudo que elenquei acima pode trazer motivos firmes para tomar uma decisão. Talvez a dúvida não seja zerada, mas podemos reduzir pelo menos um pouco as chances de arrependimentos.
Seja qual for o caminho, o que devemos buscar, acima de tudo, é uma resolução. Precisamos nos recomprometer com o amor (de um jeito ou de outro) ou abrir mão dele com gentileza.
Entender as expectativas do outro
Por Saulo Velasco
“Muitos casais competem entre si para saber quem está mais certo e quem está mais errado. Esse tipo de conflito em que uma pessoa está tentando ganhar —e a outra também— faz a relação deixar de valer a pena. Some o sentimento de ‘estamos juntos e precisamos fazer concessões para aprender com o outro’. O momento de crise pode ser uma oportunidade de se aprender sobre o outro e de falar para o outro coisas que não falávamos. A gente faz uma série de suposições sobre o que o parceiro quer, como gosta que as coisas sejam feitas. O conflito é a hora em que isso rasga e você descobre que aquilo que você acreditava que era importante para o outro talvez não seja a mesma coisa que o outro considera importante para si.”
Hora de pensar
Um exercício de reflexão relacionado ao tema da edição
Assinale a resposta (A ou B) que pareça mais apropriada. As perguntas foram criadas deliberadamente para que você frequentemente se sinta um pouco dividido entre as duas opções. Talvez ambas pareçam um pouco verdadeiras ou nenhuma delas se encaixe exatamente no seu caso. Escolha aquela que, na comparação, melhor se encaixe no seu caso.
A: Meu instinto me diz para partir.
B: Meu instinto me diz para ficar.
A: A lógica me diz para partir.
B: A lógica me diz para ficar
A: Tenho dificuldade em dar más notícias aos outros.
B: Acho fácil dar más notícias aos outros.
A: Quando algo está errado em um relacionamento, fico emburrado.
B: Quando algo está errado em um relacionamento, explico.
A: Um inimigo me diria para ficar.
B: Um inimigo me diria para partir.
A: As coisas estão indo bem para mim fora do relacionamento.
B: As coisas estão indo mal para mim fora do relacionamento.
A: Não vale a pena consultar um terapeuta para tentar salvar meu relacionamento
B: Um terapeuta pode nos ajudar.
A: Sinto pena e me sinto responsável por meu parceiro.
B: Eu amo meu parceiro.
A: Eu explorei totalmente todas as maneiras de salvar nosso relacionamento.
B: Existem algumas coisas que ainda podem ser tentadas para melhorar a forma
como meu parceiro e eu nos relacionamos.
A: As reclamações de meu parceiro sobre mim são injustificadas.
B: As reclamações de meu parceiro sobre mim são pelo menos parcialmente válidas.
A: De modo geral, acho fácil ser feliz ou satisfeito.
B: De modo geral, acho difícil ser feliz ou satisfeito.
A: Meus amigos acham que eu poderia me sair melhor.
B: Meus amigos acham que encontrei meu par.
A: Daqui a um ano, não vou me arrepender de deixar meu parceiro.
B: Daqui a um ano, vou me arrepender de deixar meu parceiro.
E agora? Você esperava uma conclusão, certo? Algo como “se você respondeu mais A, faça isso” ou “se respondeu mais B, faça aquilo”. Mas não há respostas certas ou erradas, nem uma conclusão final. A ideia é que, a partir das afirmações que selecionou, você possa ter mais clareza na hora de tomar uma decisão sobre ficar ou partir.
Esta edição foi produzida em parceria com a The School of Life, organização global referência no desenvolvimento e na aplicação do autoconhecimento, e teve colaboração de:
Alain de Botton. Fundador e CEO Global da The School of Life. É filósofo e escritor best-seller, conhecido por trazer a filosofia para o cotidiano.
Desirée Cassado. Professora em cursos da The School of Life, psicóloga pela UFScar, mestre em psicologia experimental e em terapia comportamental pela USP.
Saulo Velasco. Diretor de Aprendizagem da The School of Life, onde ministra cursos. Psicólogo, com pós-doutorado em psicologia experimental pela USP.