Origins não é o tipo de jogo que vai conquistar de forma significativa novos jogadores e tem alguns problemas que podem incomodar veteranos, mas é uma base sólida para construir uma nova era.
Dynasty Warriors Origins é a resposta da Koei Tecmo e a sua Omega Force às crescentes preocupações da comunidade fiel a uma série muito própria que tem permanecido praticamente congelada no tempo desde 2002. A experiência “Musou”, um contra centenas”, é uma espécie de “guilty pleasure” que entretém os adeptos da série, mas tirando a tentativa de transitar para mundo aberto em DW9, nada de realmente inovador foi feito nos últimos 20 anos.
Somente os jogos colaborativos (desde Gundam e Fire Emblem até The Legend of Zelda, One Piece, Dragon Quest, Persona e Berserk) conseguiram trazer uma verdadeira sensação de novidade, graças à combinação da fórmula Musou com as especificidades de cada uma destas propriedades. Ao tirar proveito de mecânicas de jogabilidade dessas séries para as combinar com Musou, a Omega Force conseguiu os mais divertidos e interessantes jogos da série.
Enquanto conseguia criar jogos Musou mais divertidos ao explorar propriedades de parceiras, a Koei Tecmo viu Dynasty Warriors murchar, mas Origins é um reinício que pretende mudar isso. Para dar início a uma nova era Musou, a Omega Force mexeu com o design, tirou ideias dos jogos Soulslike para os combates, o que resultou em novas mecânicas, e apostou com força numa narrativa fácil de acompanhar, mais cinematográfica.
Isto também significa a presença de um só protagonista principal jogável, que através da mudança de armas tenta alcançar o mesmo resultado que tens nos outros jogos ao trocar de personagens. É uma decisão que vai incomodar muitos fãs pois o enorme elenco servia para muito mais do que usar armas diferentes, servia para alcançar maior carisma com o elenco.
Ainda assim, é inegável que Origins mostra uma Koei Tecmo que pretende posicionar Dynasty Warriors para uma nova era, com um design que reverte à estrutura de missões, mas com um mapa mundo tridimensional que o diferencia de tudo o que veio antes. O Viajante, o protagonista, percorre as várias áreas da China Antiga para se deslocar entre as várias cidades, conversar com aliados que dão objetivos extra, comprar armas ou melhorar talismãs, e também para participar nas missões principais que avançam a narrativa ou nas missões extra para ganhar dinheiro e pontos de habilidade.
O inesperado foco na narrativa é surpreendente e muito bem-vindo, especialmente porque torna a campanha fácil de acompanhar, mas infelizmente o protagonista não tem o charme de outras figuras lendárias da série. Ao seguir a narrativa, percebes facilmente o que a Omega Force pretende, mas não conseguiu criar uma figura memorável. Além disso, muitas cenas parecem não ter propósito, por mais que a equipa tente disfarçar que tudo é uma desculpa para te colocar a combate.
Após o mapa mundo e a nova abordagem à narrativa, dois elementos inesperados, Origins também mostra o desejo de refrescar a série dentro dos combates. Sim, mantém-se a base de Musou, um contra centenas, mas a habitual corrida para conquistar bases, proteger aliados ou derrotar generais específicos ganha uma nova dimensão com um toque de Soulslike. Sim, parece que hoje em dia todos se inspiram nos trabalhos da FromSoftware e chegou a vez de Musou.
Há muito que a Omega Force se esforça para fazer das experiências Musou mais do que martelar um botão durante dezenas de horas. Seja com os objetivos que transmite uma sensação de corrida contra o tempo, combos, habilidades especiais ou até estados Musou (Super Guerreiros), foram implementadas imensas mecânicas diferentes. Mais uma vez, foram as especificidades das franquias de parceiras que conseguiram trazer algo de realmente fresco ao longo dos anos, mas em Origins consegue finalmente algo diferente para Dynasty Warriors.
Claramente inspirado nos jogos da FromSoftware, muito provavelmente Sekiro em primeira linha, Dynasty Warriors Origins aprofunda a jogabilidade com um pouco de estratégia, graças à introdução de contra-ataques, esquiva que desacelera o tempo quando executada no momento perfeito, adversários mais fortes com escudos que tens de quebrar com ataques normais ou especiais, e ainda ataques que devem ser contra-atacados com um ataque específico na janela de tempo disponível.
Origins não esconde que é uma experiência na qual vais martelar o botão de ataque, mas agora és incentivado ainda mais a usar combos, diferentes armas, ler os movimentos dos adversários principais para reagir de acordo e a tempo, sem esquecer a importância dos contra-ataques para destruir os escudos e deixar os adversários atordoados, à mercê de um grande castigo. É o Musou que bem conhecemos, mas com uma camada extra de profundidade, refinamento e energia, inspirado pela FromSoftware para entrar na era moderna de ação.
Essa é mesmo a sensação que perdura ao longo das horas, os contra-ataques, necessidade de desviar dos golpes mais poderosos, os novos duelos contra as figuras mais importantes na história, e a constante necessidade de reagir a tempo ao que o adversário mais feroz faz, diferencia Origins dos anteriores Dynasty Warriors. No entanto, este toque de modernização na série não chega à custa da sua essência, permanece um jogo Musou.
O grind para obter dinheiro, melhores armas, pontos de habilidade e o uso de várias armas para obter pontos de proeficiência e subir o rank são as formas implementadas para melhorar o protagonista. Também são as formas de prolongar a experiência e é aqui que mais poderás sentir cansaço na experiência. Muitas missões extra que vais repetir para melhorar o protagonista repetem os mesmos locais, objetivos, NPCs importantes, e algumas até se assemelham a missões da história, o que pode resultar em algum cansaço quando não estás a seguir a campanha.
Apesar de sentir que Dynasty Warriors Origins consegue dinamizar a essência ao incentivar usar diversas armas e que os movimentos acrobátidos são espetaculares, frequentemente dei por mim a cumprir missões extra sem diversão, apenas para obter mais dinheiro ou subir o rank para poder comprar uma arma melhor ou conseguir seguir a campanha. Podes entrar numa missão de história com Rank inferior ao recomendado, mas será muito mais difícil.
Um dos elementos nos quais Dynasty Warriors Origins realmente deixa a desejar é na qualidade técnica. Apesar do design refrescado e da jogabilidade que tenta encontrar a sua própria energia ao copiar ideias da FromSoftware, ainda é um jogo que graficamente deixa a desejar, apesar de esporádicos momentos belos. Além disso, também pode sofrer quedas de desempenho, mesmo na PS5 Pro em modo Performance. Quando a jogabilidade és suscetível à crítica “parece um jogo da PS3”, mesmo com as novidades, a componente visual precisava de mais charme.
Durante muitos anos, a sensação que perdurou foi que a fórmula Musou estava a vibrar nos jogos com colaborações (especialmente em esforços como Dragon Quest Warriors, Hyrule Warriors: Age of Calamity, Persona 5 Strikers e Fire Emblem: Three Hopes), mas Dynasty Warriors Origins vem colocar finalmente o nome original em destaque. É o mais importante, fresco e evolutivo título Dynasty Warriors nos últimos 15 anos, um jogo que pode conquistar os fãs de sempre com a inspiração nos jogos FromSoftware, mas dificilmente conseguirá despertar a atenção de quem considera datado o design Musou.
Prós: | Contras: |
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