Com um espetacular e divertido sistema de combate de ação, mecânicas RPG simplificadas, forte história e elenco, sem esquecer o design de hubs que crescem quanto mais tempo passas neles, a Bioware entrega um jogo inesperado, mas muito divertido
Dragon Age: The Veilguard é provavelmente um dos maiores testes ao talento de uma Bioware que, após os problemas com Mass Effect: Andromeda e Anthem, já não é um sinónimo automático de qualidade garantida. Eis que chega um novo épico com algumas escolhas inesperadas, com garra e energia para te fazer acreditar que a produtora ainda se lembra do que é preciso para criar aqueles espetaculares RPGs que tanta fama e bom nome lhe trouxeram durante décadas.
Quando referimos escolhas inesperadas estamos a referir-nos à aposta num sistema de combate de ação tão acessível que vibra com uma eletricidade surpreendente, mas também à decisão de não aprofundar os sistemas e mecânicas RPG. Dragon Age: The Veilguard é um jogo que podemos considerar como altamente acessível no que diz respeito a esta vertente pois parece que a Bioware optou por focar a sua atenção na construção do mundo, história, elenco e diversão.
Dragon Age: The Veilguard não é um jogo revolucionário, mas é um jogo que relembra os tempos em que os videojogos eram mais simples, mas divertidos, com aquela energia que te fazia sentir gosto por estar a jogar e não a fazer outra coisa qualquer.
Uma narrativa complexa com um elenco de luxo
Onde Dragon Age: The Veilguard promete conquistar os jogadores é com a sua narrativa, elenco e abordagem à associação entre estes dois elementos e as tarefas opcionais. A Veilguard é um grupo de pessoas unidas por diversos motivos na luta contra os deuses dos elfos, que num momento de infelicidade libertaram-se da prisão na qual foram colocados por Solas. O jogo começa com um pequeno grupo a perseguir Solas, mas cresce para corresponder às crescentes ameaças relacionadas com a missão. Existe imenso drama, intriga e desenvolvimento de personagens, que também te fará lembrar a Bioware de outrora.
A campanha principal é empolgante, repleta de momentos cinematográficos e cutscenes espetaculares, com imensos confrontos intensos e alguns de grandes proporções. Ao longo da tua jornada, terás de tomar decisões, ajudar o elenco e facções nos seus dramas pessoais e é aqui que começas a sentir a complexidade criada pela Bioware para o enredo. As tuas escolhas terão impacto, ao ponto de mudar por completo linhas narrativas e até locais.
Sem revelar demasiado, numa fase inicial terás de escolher entre dois locais para ajudar, aquele que escolhes ajudar ficará igual, mas o outro sofrerá grandes alterações visuais, com impacto nas missões e interações com o elenco. Além disso, o final varia imenso de acordo com as tuas atividades secundárias pois esta é uma luta contra deuses, na qual todos precisam de grande moral e confiança.
As missões de aliados ajudam a descobrir mais de cada personagem e compensa segui-las até ao fim pois além de descobrir mais de cada um dos membros da Veilguard, também vais aceder a novos locais e desfrutar de algumas boas boss fights opcionais. Sem esquecer que os locais por onde passas expandem-se quanto mais missões executas neles, o que permite ver mais da imaginação da Bioware para locais de fantasia.
Grande fantasia e belo estilo artístico
A Bioware já é conhecida por apresentar cenários de imponente escala, construídos para alcançar um tom majestoso que transmitem com eficácia a sensação de escala, para que te sintas pequeno num mundo de fantasia que desperta o teu imaginário. Dragon Age: The Veilguard consegue cumprir com a tradição da produtora, levando-te ao longo de diversos locais de requintada fantasia, que fazem a tua mente viajar e despertam o desejo de querer sentir que estás mesmo naquelas localizações. A floresta de Arlathan faz pensar que estamos num espaço imaginado por Tolkien, Treviso é misteriosa e melancólica, Trevian é tropical e solarenga, entre outros exemplos de locais repletos de fantasia que dão gosto de explorar.
Estes locais convidam à exploração com os seus diversos segredos escondidos, mas o mais interessante é que este design linear foi construído para os hubs crescerem ao ritmo da campanha. Ao progredir na narrativa principal, vais chegar a novas áreas em cada local no norte de Thedas, mas ao cumprir missões de companheiros e facções também vais abrir ainda mais o espaço explorável para cada um destes locais. A Bioware criou uma experiência muito linear, mas cada zona é uma espécie de hub que cresce quanto mais ajudas a facção que nela reside. Tendo em conta o quão trágico se pode tornar o final, cumprir as missões de aliados até ao final e ajudar as facções não é propriamente opcional. Se acompanhares cada aliado até ao final da sua jornada pessoal, além de se tornar Veilguard, ganhará um fato especial, buff e arma, o que ajuda imenso no épico confronto final.
A jornada dura perto de 34h com apenas algumas tarefas extra cumpridas, mas ultrapassa o dobro disso se quiseres descobrir todos os segredos e cumprir todas as missões de aliados e facções. Tendo em conta que me diverti imenso a descobrir mais de cada zona e de cada personagem, diria que é uma forma de descobrir mais brilho nesta experiência. Mais do que isso, Dragon Age: The Veilguard não deve ser jogado em linha recta, mesmo que seja possível. Frequentemente dei por mim a passar mais de 5h seguidas em conteúdo secundário e a querer continuar, mas para ver o final a tempo da análise tive de me concentrar na campanha principal. É especialmente gratificante jogar as missões de aliados e ver a sua evolução como personagens, assistir às conversas e ver as suas histórias. Além de descobrir mais de cada um, descobres mais áreas para explorar e mais envolvido me senti em Thedas.
As missões extra dão boa XP para adquirir mais habilidades e eventualmente chegar à Especialização (Nível 20), o que tornou o combate ainda mais empolgante.
Combate fácil de aprender que dá imenso gosto de jogar
É quase impossível jogar Dragon Age: The Veilguard sem sentir que a Bioware adotou a postura do “menos é mais”, mesmo que corra o risco de ter um jogo demasiado simples para muitos fãs de RPGs. Alguns até podem sentir que é um jogo desprovido de profundidade nos seus sistemas e mecânicas, mas mesmo para um veterano do género, há aqui muito capaz de agradar. Mesmo sem a profundidade de outros jogos, não se pode negar que é dos sistemas mais divertidos num jogo do género, fácil de aprender, com atalhos que tornam fácil executar tarefas como usar habilidades ou dar ordens de ataque aos companheiros. Essa mesma filosofia está presente na gestão das personagens, árvore de habilidades e até na navegação pelos menus, tudo é rápido e intuitivo.
No entanto, o sistema de combate é o elemento de Dragon Age: The Veilguard no qual essa simplicidade se torna num factor realmente importante para o teu desfrutar da experiência. A criação de personagens é extremamente profunda, mas além das inúmeras opções de personalização física, tens de escolher a classe e ficas preso a ela todo o jogo. Escolhes uma que mais se enquadra no teu estilo de jogo e jogas toda a jornada com ela. As já referidas Especializações permitem aprofundar ainda mais a tua personalização sobre essa classe, focam-se em partes específicas de cada uma, e fazem-se sentir bem nos combates.
As batalhas são travadas em tempo real, enquanto controlas Rook (apenas podes ordenar aos aliados o uso de uma habilidade ou mudar o seu alvo), o que aproxima Dragon Age: The Veilguard quase de um hack and slash. É tudo frenético e intuitivo, até inesperado para a Bioware, mas muito divertido. Vivemos numa era na qual existem RPGs de toda a espécie, com diversos sistemas de combate e níveis de profundidade. Desfrutar deste combate foi refrescante e uma mais valia, no entanto poderá não ser bem assim para muitos, que preferem algo mais profundo, com controlo sobre mais personagens.
Apesar disso, Dragon Age: The Veilguard não é um martelar de botões, os inimigos estão desenhados para explorar os comportamentos dos jogadores, para te forçar a diversificar comportamentos. Por mais simples que seja, terás de equipar as habilidades que mais se adaptam ao teu estilo de jogo, combinar ataques físicos com habilidades a longo alcance. Mesmo que Dragon Age: The Veilguard seja “leve” no que diz respeito aos sistemas RPG e não seja necessária muita atenção, tens de ter em conta os atributos das armas e equipamento para reforçar o teu estilo de jogar.
Darás por ti constantemente a atacar, a usar ataques fortes para aumentar a barra que deixa o inimigo atordoado, usarás habilidades para aumentar consideravelmente o dano, a desviar-te de ataques, e a usar Ultimates que tiram grande ano de área. Os inimigos, apesar da pouca variedade, conseguem oferecer um bom desafio, mas é recomendado jogar numa dificuldade superior à normal, caso contrário é um passeio no parque.
Pena que algumas das melhores lutas contra “bosses” estejam nas missões de aliados, mas é mais um motivo para te incentivar a apostar no conteúdo que a Bioware não colocou na campanha principal, mas que deve na mesma ser considerado como obrigatório.
Conclusão
Com uma qualidade gráfica espetacular (por vezes custa a acreditar que está a correr numa PS5), que apenas peca com algumas quedas de resolução e detalhe em algumas cenas, este novo Dragon Age é mais um forte épico que te lembra a Bioware de outrora, aquela que tanto desejas ver de volta. O sistema de ação e a leveza dos sistemas RPG podem incomodar alguns, mas também podem ser um trunfo para muitos outros. Especialmente com qualidade deste elenco, escrita, banda sonora, design de locais e do sistema de combate que é mesmo divertido.
Dragon Age: The Veilguard é decididamente um jogo Bioware, com um design que te fará pensar no melhor que tiveste na geração da Xbox 360 e PS3 no que diz respeito ao design e jogabilidade, pensados para divertir com elevada personalização, sem se preocupar em complicar para aumentar as horas de jogo. Com uma qualidade gráfica impressionante, sistema de combate divertido, e uma trama interessante, desfruta ainda daquele tom cinematográfico e frenético que esperavas das campanhas dessa na referida anterior geração.
Prós: | Contras: |
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