Com fósseis de dinossauros alcançando milhões de dólares em leilões recentes, era talvez inevitável: uma empresa privada disse na última sexta-feira (13) que definiu a data para uma oferta pública que permitirá a investidores comprar ações de um fóssil de estegossauro.
Foi o mais recente sinal do mercado em expansão de fósseis de dinossauros, o que tem levantado preocupações de paleontólogos. Eles temem que suas instituições estejam sendo excluídas do mercado por colecionadores privados, pondo em risco seu acesso a espécimes de pesquisa.
Agora, um fóssil de estegossauro que ainda está em grande parte enterrado no estado de Wyoming está sendo transformado em um veículo de investimento registrado na Comissão de Valores Mobiliários (SEC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos.
Rally, que vende ações em uma ampla variedade de itens colecionáveis, disse que o estegossauro será lançado em bolsa na próxima sexta (20), quando 200 mil ações serão oferecidas a investidores por US$ 68,75 (R$ 415) cada uma. A venda poderá arrecadar até US$ 13,75 milhões (R$ 83 milhões), de acordo com um registro na SEC. A empresa descreve a venda como uma oferta pública inicial, mas as ações só serão vendidas por meio de seu aplicativo ou em seu site, não em um mercado de ações.
Os acionistas vão esperar um pagamento pelo dinossauro, apelidado de Steg, quando ele for negociado de forma privada ou leiloado em cerca de um ano, segundo a empresa, que vende ações em ativos alternativos como carros de luxo, obras de arte caras, cartões de beisebol e uma cópia da Declaração de Independência americana.
“Assumimos um risco”, disse Rob Petrozzo, cofundador e diretor de produto da Rally. “Sentimos que há margem suficiente para que os investidores vejam um retorno.”
O mercado de fósseis tem batido recordes nos últimos anos, o mais recente dos quais foi o lance vencedor de US$ 44,6 milhões (R$ 244 milhões, à época) feito pelo bilionário Kenneth C. Griffin no leilão de um estegossauro fossilizado. Mais tarde, ele depois decidiu emprestá-lo ao Museu Americano de História Natural, em Nova York.
O estegossauro oferecido a investidores foi descoberto alguns meses antes da compra de Griffin. A empresa disse que pagou US$ 2,25 milhões (R$ 13,6 milhões) para reservar os direitos sobre o fóssil e financiar o restante de sua escavação, realizada por Thomas Lindgren, que dirige uma empresa que fornece espécimes para instituições e colecionadores privados.
Ele trabalha na indústria de fósseis há mais de 40 anos, incluindo um longo período como diretor consultor de história natural na casa de leilões Bonhams. Durante uma entrevista, descreveu a descoberta dos restos do estegossauro ao lado dos ossos de saurópodes e terópodes.
“Não era um dinossauro perfeito deitado ali, mas era um bastante completo”, afirmou Lindgren. Segundo ele, sua escavação desenterrou 67% dos ossos que cientistas esperariam encontrar em um estegossauro. Há expectativa de encontrar mais conforme a escavação continua.
Lindgren já havia feito parceria com a Rally antes, ajudando a empresa a oferecer ações em um crânio de tricerátopo e em uma mandíbula de megalodonte para investidores.
De acordo com um registro da SEC, o esqueleto de estegossauro mede mais de 7 metros de comprimento e tem quase 2 metros de altura, com a maior parte de sua cauda espinhosa e a maioria de suas placas dorsais preservadas. O fóssil inclui a característica marrom escura típica de fósseis encontrados na Formação Morrison que ajudou a preservar o estegossauro, que se estima ter vagado pela Terra aproximadamente 150 milhões de anos atrás.
Lindgren e seu sócio comercial, Jeffrie Parker, encontraram o dinossauro enquanto escavavam a Pedreira Bone Cabin, a cerca de 90 quilômetros fora de Laramie, Wyoming, sob um contrato de arrendamento de longo prazo que sua empresa tem com o proprietário da terra. Em 1897, cientistas do Museu Americano de História Natural exumaram os restos de um estegossauro e de outros dinossauros lá. No entanto, os funcionários do museu abandonaram o local no início dos anos 1900, quando parecia que a pedreira de fósseis estava esgotada.
“O museu gostava de ossos grandes”, disse Lindgren, explicando por que ainda está encontrando fósseis significativos em locais de escavação próximos. “Se eles não perceberam o que tinham, não pegaram.”
Lindgren e seus colegas disseram que manteriam 80% de propriedade no estegossauro quando ele for oferecido ao público. O paleontólogo tem a expectativa que a maior transparência no processo de escavação possa atrair potenciais compradores.
Petrozzo afirmou que esperava que a chance incomum de investir em um dinossauro cujo esqueleto ainda está parcialmente enterrado no solo expandisse a clientela típica da Rally, que ele descreveu como “pessoas de 31 anos que ganharam um pouco de dinheiro, mas não são necessariamente milionárias”.
“Os investidores do Steg podem incluir pessoas de 18 anos que queiram uma parte, gestores de private equity ou instituições de grande porte”, disse Petrozzo. “Você terá uma mistura de pessoas, muito disso é impulsionado pela cultura popular.”