Na última semana, na mesma data em que era lançado o plano de contenção de gastos pelo governo federal, o mapa da desigualdade da cidade de São Paulo foi divulgado. Eles se encontram no tema da desigualdade social.
Com o plano de contenção veio a proposta que evidencia a enorme injustiça tributária no país de isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física para quem recebe até R$ 5 mil. O mapa revela a enorme desigualdade entre os distritos da maior e mais rica cidade do Brasil, o que ocorre também em muitas outras grandes cidades brasileiras.
Em São Paulo a idade média ao morrer em Alto de Pinheiros, um distrito rico da cidade, é de 82 anos e em Anhanguera, na periferia, de 58 anos. Uma diferença de 24 anos dentro da mesma cidade, a mais rica do país, porque em Anhanguera é maior a mortalidade infantil, o homicídio de jovens, a precariedade de habitação e saneamento. E os serviços de saúde e educação também têm um desempenho inferior ao necessário. A combinação destes fatores reduz a idade média ao morrer e tudo se passa como se perdêssemos um ano de vida a cada quilômetro no trajeto entre o Alto de Pinheiros e Anhanguera.
Levantamos o dado em 2006: a diferença de idade média ao morrer entre os distritos era a mesma há 18 anos. O que só confirma a incapacidade da gestão pública de resolver estes problemas. Qual outro tema é tão prioritário quanto o cuidado com a vida da população?
Enquanto quem vive em Pinheiros gasta 50 minutos por dia no trânsito, os moradores de Marsilac, no extremo sul, despendem duas horas e 20 minutos em deslocamentos diários, com grande impacto em sua qualidade de vida.
O acesso à internet é fácil na Sé e no Itaim Bibi, onde há 43 antenas por quilômetro quadrado, sendo que em Marsilac só há 0,09 antenas por quilômetro quadrado, o que aumenta a exclusão por dificultar o acesso à informação, trabalho, estudos, comércio.
Outro dado: 11% das crianças nascidas em Parelheiros são filhas de mães com 19 anos de idade ou menos, enquanto em Alto de Pinheiros, nenhuma jovem com a mesma idade deu à luz no ano passado. Já no acesso à cultura há um deserto em 24 distritos que não têm nenhum espaço cultural.
Ao analisar o conjunto de dados, o mapa evidencia que há um ciclo da desigualdade que começa pela habitação precária nas periferias, passa pela falta de saneamento e pelas altas taxas de homicídios e de mortalidade infantil e se consolida no enorme tempo gasto em deslocamento de pessoas que têm acesso ruim à internet. Este ciclo tem se perpetuado e precisa ser rompido por políticas que o revertam.
Se a cidade de São Paulo vive esta situação, o país não é diferente. Quando o Congresso Nacional impõe dificuldades para a isenção de imposto para quem ganha até R$ 5 mil e também para a cobrança de uma taxa de 10% para quem ganha acima de R$ 1,2 milhão por ano, temos a comprovação, na prática, das políticas que nos levaram a esta vergonhosa desigualdade social.
O início de novas gestões municipais em janeiro de 2025 na maioria das cidades brasileiras é oportunidade para encarar a desigualdade com a prioridade que merece.
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