Saiu há pouco a palavra do ano em 2024, escolhida pelo dicionário Oxford. Com 37 mil votos e depois de um longo debate, foi escolhida a expressão “brain rot” (algo como apodrecimento cerebral). A expressão foi definida pelo dicionário como “a suposta deterioração mental de uma pessoa resultante do consumo excessivo de conteúdos online considerados triviais ou simplórios”.
Seu uso não é novo. O primeiro registro foi no livro “Walden”, de Henry David Thoreau, publicado em 1854. Na época, ele usou a expressão para criticar os jornais, a mídia do momento.
Nas palavras dele: “Tenho certeza de que nunca li nenhuma notícia memorável em um jornal. Para um filósofo, todas as notícias são fofocas. Quem as edita são velhas tomando chá. Para quem é estudioso ou sagaz, para quem não tem o cérebro apodrecido, não há uso para elas. O funcionamento saudável do intelecto depende de se manter longe de repetições sem fim”.
É nessa vibe que vou ousar prever qual será a palavra do ano em 2025. Para mim, essa palavra será “agente” ou qualquer derivação dela relacionada à inteligência artificial. No inglês há vários neologismos, como agentic (agêntico), agentify (agentificar), agentness (agenciedade), agentive (agentivo), agentoid (agentoide) etc. Vamos combinar que, se qualquer coisa parecida vencer no ano que vem, minha previsão vai se ter concretizado. E claro, ninguém vai se lembrar disso.
Mas, como falta ainda um ano para o fim de 2025, vale investigar por que “agente” está com tudo. O tema é longo, então vou dar só uma dica. Ler o artigo que Tiago Peixoto e Luke Jordan publicaram na semana passada em inglês chamado “Agentes para poucos e filas para muitos? Ou agentes para todos?“.
No texto, eles fazem uma proposta ousada. Democratizar o uso de agentes de inteligência artificial para acessar serviços públicos. Afinal, os agentes de IA já estão em toda parte. Por exemplo, eles arruinaram os sites de reservas de restaurantes nos EUA.
Pessoas usando agentes de IA reservam todos os horários disponíveis nos restaurantes mais badalados. Depois revendem essas reservas por (muito) dinheiro no mercado secundário. O mesmo acontece com shows disputados. Os ingressos esgotam em minutos. A maior parte deles é comprada por cambistas usando agentes de IA. Depois revendem tudo por preços maiores no mercado secundário.
O que Tiago e Luke propõem é que o uso de agentes de IA possa ser feito também com os serviços públicos. Em vez de ficar na fila aguardando por um serviço público ineficiente, um agente de IA poderia fazer isso por você. Por exemplo, nos EUA a plataforma DirectFile preenche o seu Imposto de Renda automaticamente. Na África do Sul, o site WeQ4U ajuda no licenciamento de veículos.
No Brasil, é comum usar “despachantes” para agilizar o acesso a serviços públicos. Só que eles são acessíveis a poucos. O que eles sugerem é que a IA possa virar o despachante universal, capaz de auxiliar qualquer pessoa, de graça, a acessar os serviços públicos de forma eficiente. Thoreau provavelmente iria gostar.
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