A dança não exige gênero, idade e nem corpo magro. Qualquer pessoa pode praticá-la. Melhora a socialização, a saúde mental e física. Em relação às mulheres, os homens têm ainda mais efeitos positivos na autoconfiança, autoestima e na timidez, dizem especialistas.
O empoderamento masculino é um outro aspecto da dança, segundo a psicóloga, psicodramatista e terapeuta familiar Marina Vasconcellos.
“Mulheres adoram homens que dançam bem. Não interessa se ele é bonito, feio, baixinho, gordo… Aqueles que querem conquistar uma mulher se sentem mais seguros. Melhora o humor, a autoestima o relacionamento com as pessoas —principalmente se ele for muito travado. O homem fica mais poderoso, empoderado”, diz Vasconcellos.
O oncologista Antônio Barcellos, 46, sempre recomendou atividade física aos pacientes. Seguir o próprio conselho não foi fácil. Para ele, a escolha de um exercício envolve outras questões além de disponibilidade. De início, não cogitou dançar.
“Eu imaginava que dança era uma aula complicadíssima de balé, ou coisa de lambada, ou que as pessoas fazem na Dança dos Famosos [quadro do Domingão do Huck, na Globo]. A outra coisa que passava pela minha cabeça era dança de salão, lenta demais, que exigia uma parceira ou um parceiro e aquilo também complicava muito o processo para mim. Achava que nunca iria conseguir fazer aquilo”, conta.
Barcellos sempre achou exercício algo monótono. Além da musculação, fez pilates e ioga, mas não se encontrou. Um dia, decidiu experimentar a dança e se matriculou na academia Boate Class, na Consolação, região central de São Paulo. Lá, faz de cinco a sete horas de aulas de dança por semana, há um ano e meio. Aprende vários ritmos. A academia o deixa confortável, relaxado e feliz.
Aos poucos, a musculação foi substituída pela dança. O corpo se transformou: perdeu gordura e ganhou músculo. Houve melhora na memória —que havia piorado após os 40 anos—, no equilíbrio corporal e nos níveis de glicemia e colesterol.
Murilo Lima, 30, sócio da academia Boate Class, disse que 30% dos alunos são homens. Apesar do percentual menor, há a percepção de que eles estão frequentando cada vez mais as aulas de dança.
O medo de sofrer preconceito por dançar nunca ameaçou Antônio Barcellos. Por experiência própria e na conversa com amigos, o médico percebe que a ideia é mais internalizada. “Ninguém veio me falar nada, mas eu fui dançar lembrando das coisas que eu ouvia na minha infância: se você for dançar, você não pode fazer balé; tem que ter cuidado com a dança que você vai fazer; cuidado como você rebola. Essas coisas estão mais internalizadas”, comenta.
“Se você passou dos 40 anos e ainda vai levar a vida preocupado com a sociedade e os outros te julgando e dizendo o que é certo e errado, o que você pode ou não fazer e o que vai acontecer, você vai passar o resto da vida escravo nesse pensamento”, diz o médico.
Coreógrafo e dançarino há mais de 40 anos, Carlinhos de Jesus afirma que o benefício da dança para o homem está na conscientização, na quebra de tabu, na liberdade de encarar a prática como uma atividade benéfica e não específica de gênero.
“A gente percebe uma diferença muito grande de aceitação, de entendimento, de capacitação e de resultados muito maior com as mulheres, porque elas crescem ouvindo ‘ah, vá fazer balé’. Eu com dez anos queria entrar numa academia de dança e meu pai me botou no jiu-jitsu. Ele não falou nada. Eu entendi que ele não queria”.
“Quando ele me viu dançando nas festas e que as meninas todas solicitavam a minha presença, por machismo, ele orgulhosamente me apontava e dizia ‘esse é o meu filho’. Mas ele não me botou numa academia de balé. Os homens crescem com o pensamento de que a dança não é coisa para homem, até descobrirem que isso é um tabu ridículo e que a dança traz benefícios”, diz o coreógrafo.
Para o artista, a criação machista é o problema. Por outro lado, a educação toma outro rumo, atualmente. “Estamos vivendo uma geração que os homens estão rompendo ou nascendo com uma outra visão. A minha geração era totalmente machista e hoje lido com a mudança de visão e comportamento. Alguns resistem, outros não. Se você colocar dentro de um laboratório os homens que dançam e os que não dançam, verá transformações incríveis de pele, de comportamento, de virilidade”, comenta.
O funcionário público aposentado Walter Renê Rivera Filho, 59, trocou o futebol com os amigos pelas aulas de dança. A motivação surgiu do medo de se machucar no esporte e de um gosto antigo de dançar nos bailes e nas domingueiras.
Um dia, Filho foi convidado para integrar um grupo de “passinho de flashback”, com músicas que marcaram os anos de 1970 a meados de 2000. Para aprender as coreografias, matriculou-se numa academia e descobriu os benefícios da dança para a mente e o corpo. Há pelo menos um ano e meio, dois dias na semana Walter tem um compromisso com os “passinhos” na academia DualFit, no Jaçanã, zona norte da capital paulista. A esposa e as duas filhas acompanham.
“Foi a melhor coisa que eu fiz. Tira o estresse e as preocupações. Beneficia a parte física. Temos que decorar os passinhos e isso faz bem para mente. Eu me sinto bem melhor, mais motivado. Eu parei de jogar futebol para fazer dança por causa da minha idade. Com 59 anos, se eu me machucar a recuperação é mais lenta. Na dança, não tem esse problema”, relata o aposentado.
Carlinhos de Jesus concorda. “Na dança, a probabilidade da pessoa se machucar é infinitamente menor. Nas aulas trabalhamos o alongamento, a postura e a flexibilidade. E a dança tem que ser executada de acordo com as suas possibilidades. É uma atividade de baixíssimo grau de impacto e altíssimo grau de resultados e de prazer”, explica o dançarino Carlinhos de Jesus.
Defensor da atividade para qualquer corpo, gênero e idade, Carlinhos diz que a dança libera hormônios ligados ao prazer e bem-estar.
“Eleva a autoestima, a pessoa se sente mais valorizada, e como dizia minha avó, com viço na pele, porque os hormônios liberados hidratam. Previne doenças cardíacas, articulares, circulatórias, respiratórias. Isso para qualquer pessoa”. A dança também ajuda a controlar a pressão arterial, fortalece os músculos, diminui as dores nas costas, auxilia na perda de peso, no combate à depressão e ansiedade e mantém o cérebro ativo.
O autônomo Paulo Roberto Araújo dos Santos, 58, procurou a academia Vivaz, em Guarulhos, há pouco mais de um ano, devido ao gosto pelo samba rock.
Ele resume os benefícios em melhora de qualidade de vida, disposição e aumento do círculo de amizades. “A interação com outras pessoas faz bem ao físico e emocional. Você se torna alguém mais agradável e melhor”, afirma.