O regime comunista de Cuba está prestes a condenar as intelectuais dissidentes Alina Bárbara López Hernández e Jenny Pantoja Torres a anos de trabalho forçado, em represália a protestos pacíficos e críticas públicas que elas fizeram contra a ditadura que controla Havana.
Segundo agências internacionais e veículos locais, o regime comunista comandado por Miguel Díaz-Canel está prestes a condenar as opositoras por meio de uma denúncia formal que foi apresentada nesta segunda-feira (26) pela promotora Ana Lilian Caballero Arango, da Promotoria Provincial de Matanzas. No documento, a promotora solicita ao Judiciário cubano, que é controlado pela ditadura castrista, penas de quatro e três anos de privação de liberdade para as acadêmicas, a serem convertidas em “trabalho correccional” sem internamento. As acusações, baseadas em supostos crimes de “atentado, desacato e desobediência”, referem-se à detenção das duas dissidentes em 18 de junho de 2024, quando seguiam da província de Matanzas para Havana com o objetivo de participar de uma manifestação contra o regime comunista.
Naquele momento, as duas intelectuais foram interceptadas em um táxi pela polícia, que alegou motivos para exigir a identificação das passageiras. O relato da promotora afirma que López teria resistido à abordagem, “insultado” os agentes e chegado a agredi-los, além de causar danos materiais avaliados em 5.650 pesos cubanos.
“Meu personagem resulta uma espécie de versão feminina de Bruce Lee, que salta de um carro, reparte golpes, rasga charreteras e rompe as botas de uma oficial que unicamente me havia pedido o carnet de identidade”, ironizou a historiadora em publicação nas redes sociais, negando todas as acusações.
Já Pantoja, segundo a versão oficial, teria participado da suposta resistência e também teria provocado danos à polícia. As duas, no entanto, afirmam que foram elas as vítimas de violência policial. De acordo com López Hernández, as duas foram “golpeadas, violentadas e tratadas como animais”, além de serem mantidas sob custódia por horas sem justificativa legal. Ela relatou ainda sequelas físicas decorrentes das agressões: “Ainda sofro as sequelas dos golpes e torções no pescoço e cabeça, de que derivou uma labirintite pós-traumática diagnosticada por um neurocirurgião”, declarou.
A promotora rejeitou as queixas das investigadas e anexou exames médicos feitos na delegacia, afirmando que “os sintomas referidos por ambas não eram reais” e que não houve agressão por parte dos oficiais. No entanto, as acadêmicas insistem que as versões oficiais visam descaracterizar o episódio como perseguição política. “Tudo dito pela promotora, desde a primeira sílaba até a última, é falso”, afirmou Alina López, destacando que as declarações das duas foram feitas separadamente, logo após a detenção, e sem possibilidade de combinação prévia.
O caso gerou forte repercussão entre artistas e intelectuais, com mais de 220 escritores, músicos e cineastas assinando uma carta aberta denunciando a violência policial e o processo judicial.
Além do pedido de pena de trabalho forçado, López Hernández foi condenada a pagar indenização à policial supostamente agredida, incluindo valores por “danos ao uniforme” e até mesmo “reposição de cabelo em extensões artificiais” para a agente. Ambas também receberam proibição de sair do país durante a vigência da pena.
O processo contra as intelectuais ocorre em um momento de grave crise social e econômica na ilha comunista, com crescente tensão e repressão contra opositores. López Hernández considera o episódio “uma demonstração de impunidade” do regime. “No limiar de um verão em que a tensão social é enorme por conta da dramática crise nacional, o governo cubano faz gala de colosal imprudência e decide adicionar pressão”, afirmou.
Nos últimos anos, tanto López quanto Pantoja foram alvo de detenções arbitrárias e perseguição por participarem de protestos mensais exigindo reformas políticas e o respeito à liberdade de expressão em Cuba.
O caso das duas intelectuais se soma à longa lista de violações dos direitos humanos cometidas pelo regime cubano, em meio ao silêncio de organizações internacionais e à leniência de blocos como a União Europeia, que continuam defendendo uma política de diálogo com a ditadura, sem resultados práticos para a população da ilha.