A Blue Origin, empresa espacial fundada por Jeff Bezos, criador da Amazon, está prestes a realizar o voo inaugural de seu foguete de grande porte, o New Glenn. Esse marco, esperado há anos, busca fortalecer sua posição em um setor espacial cada vez mais competitivo, especialmente contra a SpaceX, de Elon Musk.
Com 98 metros de altura, o foguete New Glenn poderá decolar de Cabo Canaveral, na Flórida, já na quarta-feira (8), à 1h da manhã (horário local), segundo o regulador norte-americano de aviação. Uma segunda janela de lançamento está prevista para sexta-feira (10).
Após vários adiamentos, a Blue Origin espera com este voo reduzir a vantagem de sua principal concorrente, a SpaceX, comandada por Elon Musk.
Embora já realize voos suborbitais com turistas no foguete New Shepard, a Blue Origin ainda não colocou nenhuma carga em órbita. Com o New Glenn, muito mais potente, a empresa planeja entrar no mercado de lançamentos de satélites comerciais e militares de grande porte, além de missões para a Lua e Marte.
Segundo Laura Forczyk, analista do setor espacial, o voo inaugural será “um grande avanço para a Blue Origin e para a indústria espacial”. Com sua alta capacidade, o foguete poderá não apenas competir no mercado de lançamento de satélites, mas também transportar astronautas, destaca a especialista.
Rivalidade crescente
O objetivo da Blue Origin é claro: desafiar a liderança da SpaceX, que domina o mercado, além de competir com empresas como a americana ULA e a europeia Arianespace.
“Nos últimos anos, a SpaceX tem sido praticamente o único player em lançamentos comerciais e militares”, comenta Scott Hubbard, ex-executivo da Nasa e professor da Universidade de Stanford.
Para Hubbard, a chegada de um concorrente ao Falcon 9 da SpaceX, que opera desde o início dos anos 2010, é uma boa notícia. “Se eu ainda estivesse na Nasa, ficaria satisfeito em ver mais competição, o que aumenta a segurança e pode reduzir os custos de lançamento”, avalia.
Assim como os foguetes da SpaceX, o New Glenn será parcialmente reutilizável e terá capacidade para transportar até 45 toneladas em órbita baixa, mais que o dobro do Falcon 9 (22,8 toneladas), mas ainda menos que o Falcon Heavy (63,8 toneladas).
Embora ambas as empresas tenham sido fundadas no início dos anos 2000, a Blue Origin adotou uma abordagem mais cautelosa, avançando em ritmo mais lento.
No voo inaugural, o primeiro estágio do New Glenn tentará um pouso controlado em uma balsa no mar, uma manobra semelhante às realizadas pela SpaceX. “Ninguém conseguiu pousar um propulsor reutilizável na primeira tentativa, mas estamos confiantes e humildes sobre nossas chances de sucesso”, afirmou em setembro David Limp, CEO da Blue Origin, na plataforma X (antigo Twitter).
Reposicionamento de satélites
Além do foguete, a missão levará um protótipo do rebocador espacial multifuncional Blue Ring, projetado para operar no espaço e reposicionar satélites em suas órbitas finais. As capacidades técnicas do dispositivo serão testadas ao longo de uma missão que deve durar cerca de seis horas, informou a empresa.
Se o lançamento for bem-sucedido, novos voos do New Glenn estão previstos para 2025. A Blue Origin já possui contratos com diversos clientes, incluindo a Nasa, para uma missão a Marte em maio de 2025, e outra tripulada à Lua com o programa Artemis 5, programada para 2030.
A empresa também fechou acordos com o governo dos EUA para missões de segurança nacional e com clientes comerciais, como a canadense Telesat, para o lançamento de satélites de internet.
Assim como a SpaceX com a Starlink, a Blue Origin será responsável por lançar parte dos satélites do grupo Amazon. Nesse segmento, Bezos e Musk também competem, cada um trabalhando para criar sua própria constelação de satélites.
As relações estreitas de Elon Musk com o futuro presidente Donald Trump levantam preocupações sobre potenciais conflitos de interesse que poderiam impactar as atividades de Bezos. Para reduzir tensões, o fundador da Amazon visitou recentemente a Flórida para se reunir com Trump, enquanto a empresa anunciou a doação de um milhão de dólares ao comitê de posse presidencial.
(Com AFP)