Uma articulação entre os governadores dos estados que compõem as regiões Sul e Sudeste avança para criar um banco de fomento dedicado ao financiamento de projetos sustentáveis, chamadi de Bancosud. A iniciativa foi anunciada pelo governador do Paraná e atual presidente do Consórcio de Integração Sul e Sudeste (Cosud), Ratinho Junior (PSD), no encerramento do último encontro do grupo, realizado em Florianópolis, no fim de novrmbro.
Essa será a primeira iniciativa após o consórcio passar a ter personalidade jurídica e CNPJ próprio, o que permite ao grupo estabelecer parcerias e acordos com instituições como o governo federal e o Congresso Nacional, além de participar de licitações em conjunto, implementar políticas públicas integradas e adquirir equipamentos e medicamentos como bloco político.
“Foi um momento histórico e muito importante, que marca a nova fase do Cosud, porque agora existimos juridicamente e já nascemos como o maior consórcio entre estados do Brasil”, disse Ratinho Junior. Criado em 2019, o Cosud reúne os estados de Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. Juntos, abrigam mais de 114 milhões de pessoas e respondem por 70% do PIB nacional.
De acordo com o governador Ratinho Junior, o Bancosud servirá como um instrumento para o financiamento de projetos voltados à sustentabilidade, como energia renovável, conservação ambiental e práticas econômicas alinhadas ao desenvolvimento sustentável. “Sul e Sudeste são as únicas regiões que não contam com um fundo de desenvolvimento, o que acaba nos prejudicando. Mas em vez de ficar chorando em cima do leite derramado, temos que ir para a prática e buscar uma solução”, disse o chefe do Executivo paranaense, citando o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) como modelo para a nova instituição.
A partir do encontro e do aval dos governadores, serão iniciados os estudos para a modelagem da iniciativa, ainda sem prazo de conclusão, com objetivo de focar na economia verde.
Créditos de carbono em alta são oportunidade para Bancosud
A iniciativa dos governadores em criar o Bancosud se insere em um contexto global de aumento da relevância do tema da sustentabilidade ambiental. Gilberto Braga, professor de Economia do Ibmec-RJ, lembra que os debates no G20 e no Brics têm impulsionado políticas como a tributação de super-ricos e financiamentos para projetos ambientais.
“Existe uma tendência de que haverá recursos de organismos internacionais para fins compensatórios e mitigatórios, voltados ao financiamento de projetos ecológicos em países com cobertura vegetal e ecossistemas a serem protegidos, preservados e recuperados, como é o caso do Brasil”, explicou Braga.
A criação de um novo banco com mecanismos voltados para a atração de capital internacional pode ser um diferencial para os estados atraírem esses investimentos. “O que essas entidades estrangeiras frequentemente reclamam é que as instituições brasileiras existentes nem sempre atendem aos princípios de governança corporativa que esses doadores exigem”, disse o professor.
O Bancosud poderia atuar como intermediário, quase como um corretor, para facilitar operações envolvendo créditos de carbono.
Gilberto Braga, professor de Economia do Ibmec-RJ
“Seria algo semelhante ao banco dos Brics, mas em âmbito estadual, envolvendo unidades federativas do Sudeste e do Sul, que têm questões climáticas parecidas e desafios diferentes de outras regiões, como o Nordeste ou o Centro-Oeste”, complementou.
Outro ponto a ser ressaltado é a alta do mercado de crédito de carbono, recentemente regulamentado pelo Congresso Nacional. “A maior geração de créditos ocorre na Amazônia, mas os maiores compradores estão no Sudeste e no Sul do Brasil, principalmente os setores industrial, petroquímico e siderúrgico. O Bancosud poderia atuar como intermediário, quase como um corretor, para facilitar operações envolvendo esses créditos”, disse Braga.
Governadores reiteram cooperação entre estados por meio do Bancosud
Durante o encontro em Florianópolis, os governadores reiteraram o compromisso com ações práticas e conjuntas do COsud. “A gente está avançando muito na palavra cooperação, e isso vai ser fundamental para avançar nas pautas que a nossa sociedade demanda. O Cosud está percebendo como ninguém a necessidade de o país olhar para a frente”, disse o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Já Gabriel de Souza, vice-governador do Rio Grande do Sul (MDB), enfatizou a força do grupo em pautas como renegociação de dívidas estaduais e segurança pública. “Essa parceria entre os estados é importante não apenas nas pautas que nos unem, mas também naquelas que não afetam a todos de forma igual, como é o caso da dívida dos estados. Mesmo aqueles que não têm grandes dívidas com a União estão apoiando os pleitos dos demais”, disse ele.
A Carta de Florianópolis, documento final do encontro, reforçou a formalização do consórcio e apresenta as metas prioritárias para os próximos anos. A presidência do Cosud será conduzida por Cláudio Castro, governador do Rio de Janeiro, a partir de março de 2025, durante o próximo encontro no Paraná.