Em seu terceiro ano seguido de contas no vermelho, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) corre risco de despejo em 200 imóveis alugados pela estatal por falta de pagamento. São 122 imóveis com ação em andamento que podem ser executadas desde 30 de novembro. Há outros 127 contratos com prazo a vencer até o fim do ano.
Entre os imóveis em risco, há 206 agências dos Correios, 34 centros de distribuição domiciliar, 3 centros de tratamento de cartas e encomendas e 1 centro de encomendas. Notificada, a estatal decretou em outubro um teto de gastos para o ano de R$ 21,96 bilhões e determinou que renovações de contratos só poderiam ser feitas a partir da economia gerada na negociação de outros imóveis.
A diretoria pediu para redirecionar R$ 1,5 bilhão do aluguel de um centro de tratamento de cartas e encomendas em Contagem (MG), interditado em outubro, para renovar os contratos. A medida não surtiu efeito. A justificativa dos Correios para a interdição foi um problema de estrutura. Mas o proprietário, o fundo de investimentos TRBL11, não reconheceu o problema e cobrou laudos técnicos. Na sexta-feira (6), a Defesa Civil do município de Contagem liberou o uso do galpão pela estatal.
O documento de notificação mostra que, no fim de outubro, os Correios tinham dívidas de R$ 9,5 milhões com pagamentos atrasados de condomínio e IPTU, além de demandas judiciais e TCDs (reconhecimento de dívidas). O prejuízo da estatal, de janeiro a setembro, foi de R$ 2 bilhões, o maior da gestão Luiz Inácio Lula da Silva.
A estatal alegou frustração de receitas pela herança contábil do governo anterior e a “taxa das blusinhas”. Os Correios tiveram menos encomendas para despachar para endereços no Brasil e a receita, por consequência, caiu.
“A receita projetada para 2024 foi reduzida de R$ 22,7 bilhões para R$ 20,1 bilhões, o que representa um crescimento de 1,5% em relação a 2023. As medidas administrativas adotadas reduziram a projeção de despesa de R$ 22,5 bilhões para R$ 21,9 bilhões, representando uma redução de 1,8% (R$ 600 milhões) em relação a 2023”, disseram os Correios em documento enviado ao site Poder 360.
Empresa teve lucro sob Temer e Bolsonaro
Apesar da diretoria dos Correios atribuir parte do prejuízo atual à gestão do governo anterior, a empresa teve lucro em 3 dos 4 anos da gestão Jair Bolsonaro (PL). A empresa foi lucrativa até 2013, na gestão de Dilma Rousseff (PT), quando registrou o primeiro prejuízo desde pelo menos o início do século. A perda naquele ano foi de R$ 213 milhões, seguida de outra de pouco mais de R$ 20 milhões em 2014.
Os prejuízos dispararam em seguida, somando R$ 2,1 bilhões em 2015, recorde histórico, alavancado por problemas de gestão, gastos com pessoal, congelamento de tarifas e pela mudança na contabilização das obrigações com o chamado benefício pós-emprego, ou seja, as despesas com planos de previdência privada. Somado com o ano de 2016, último do governo Dilma, os prejuízos somam R$ 3,5 bilhões.
A partir de 2017, por outro lado, os Correios emendaram cinco anos seguidos de lucro, durante as gestões de Michel Temer (MDB) e Bolsonaro. No período, os ganhos da estatal somaram quase R$ 4 bilhões. O melhor resultado da estatal na história foi registrado em 2021, com lucro de R$ 2,3 bilhões, alcançado em meio a programas de demissão voluntária.
Na época, os funcionários somavam 115 mil em todo o país. Hoje são aproximadamente 88 mil, o que ainda mantém a estatal como uma das que mais empregam no território nacional.
Apesar do rombo em 2024, os Correios abriram concurso público para contratar 3.511 funcionários, com salários de R$ 2.429,26 a R$ 6.872,48. A estatal informou que as provas não serão canceladas.Mesmo que o teto de gastos seja mantido, ainda haverá um prejuízo de ao menos R$ 1,7 bilhão. A empresa diz esperar evitar a “insolvência”, ou seja, o risco de quebrar e precisar ser resgatada pelo Tesouro.