Os quase 200 países presentes na COP29, conferência do clima da ONU (Organização das Nações Unidas) entraram, nesta quarta-feira (13), na etapa de negociações sobre como financiar a luta contra a crise climática, enquanto cientistas publicaram outro relatório alarmante sobre o ritmo de aquecimento do planeta.
O principal objetivo da conferência em Baku, no Azerbaijão, é chegar a um novo acordo que aumente substancialmente o dinheiro para combater as mudanças climáticas nos próximos anos, detalhando um valor, quem paga e em quais condições.
Um novo rascunho do acordo foi apresentado às partes negociadoras nesta quarta. O documento tem 34 páginas, muito maior que a versão anterior, que não agradava a ninguém.
O principal objetivo da COP29 é concretizar um aumento das ajudas atuais dos países industrializados para os mais vulneráveis diante das mudanças climáticas.
O valor atual é de pouco mais de US$ 100 bilhões (R$ 575 bilhões) anuais, mas as exigências se aproximam de US$ 1 trilhão (R$ 5,75 trilhões).
O novo texto apresentado nesta quarta reúne todas as opções, resumidas em seis propostas repletas de colchetes e parênteses.
Todas as opções propõem, no mínimo, a quantia de US$ 1 trilhão por ano, mas com definições muito variáveis.
Segundo fontes próximas às negociações, o grupo regional latino-americano Ailac (Aliança Independente da América Latina e do Caribe) propôs ao grupo de trabalho uma parcela específica de ajuda para a região, enquanto outra opção seria que todos os países menos desenvolvidos (essencialmente os africanos) recebam pelo menos US$ 220 bilhões.
A COP29, onde as decisões são tomadas por consenso, termina em 22 de novembro.
“O rascunho de nove páginas que circulou antes da COP foi ampliado para 34 páginas”, criticou Fernanda Carvalho, especialista em negociações climáticas da ONG WWF.
O texto final deve conter “uma meta de pelo menos US$ 1 trilhão por ano, de financiamento que seja acima de tudo público, incluindo sólidas garantias de transparência e objetivos separados para mitigação, adaptação e danos e perdas”, opinou a especialista.
“Os ministros terão que lutar na próxima semana”, previu David Waskow, da ONG WRI.
“Não estamos aqui para mendigar”, declarou o primeiro-ministro de Granada, Dickon Mitchell.
Emissões aumentam
Ao mesmo tempo, alertas científicos sobre o estado do planeta continuam sendo divulgados, de modo paralelo aos discursos de líderes mundiais que compareceram —em um número abaixo da média— ao evento de Baku.
Cientistas do Global Carbon Project publicaram estudo sobre as emissões mundiais de CO₂, geradas pela combustão de carvão, petróleo e gás: um novo recorde será atingido este ano.
Pior ainda, os 120 cientistas que colaboraram no estudo consideram que o mundo deve ter como objetivo atingir zero emissões líquidas de CO₂ até o final da década de 2030 se deseja conter o aquecimento global a 1,5°C na comparação com o final do século 19, no período pré-industrial.
A meta deveria ser alcançada muito antes de 2050, o objetivo atualmente previsto por mais de cem países, incluindo a maioria dos países ricos.
“Nada indica ainda que o uso de combustíveis fósseis tenha atingido seu máximo”, disse Pierre Friedlingstein, professor da Universidade de Exeter (Reino Unido), embora o pico esteja “frustrantemente próximo”.
Anfitrião da conferência climática da ONU, o presidente azeri Ilham Aliyev afirmou na abertura do encontro de cúpula que petróleo e gás são “presentes de Deus”.