O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) criticou a retirada da delegação da Argentina da COP29, conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre mudanças climáticas que ocorre em Baku, no Azerbaijão.
Nesta quarta-feira (13), por ordem do presidente Javier Milei, diplomatas do país foram obrigados a deixar a cúpula.
Alckmin, nesta quinta-feira (14), disse lamentar a partida dos representantes da Argentina. “O negacionismo frente à questão climática é muito ruim”, afirmou à imprensa após evento com o secretário-geral da ONU, António Guterres.
“A ciência é para ajudar a humanidade, para que as pessoas possam viver melhor, ter uma qualidade de vida melhor. E está nítida a questão das mudanças climáticas, a sua repercussão inclusive na economia. Acabamos de ouvir agora que ela pode derrubar o PIB.”
O vice-presidente disse, porém, que o episódio não altera as relações entre Brasil e Argentina. “Não vai mudar as relações de Estado, que não são pessoais.”
Alckmin é o chefe da delegação brasileira na COP29, representando o presidente Lula (PT), que cancelou participação após sofrer uma queda. O vice-presidente, que chegou a Baku na segunda-feira (11), retorna ao Brasil nesta quinta.
Após sua partida, a delegação brasileira será comandada pela ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) até 22 de novembro. Tradicionalmente, a segunda semana das conferências do clima tem liderança de ministros e diplomatas, para o encaminhamento de decisões até a conclusão do evento.
Sob Milei, a Casa Rosada tem se distanciado de espaços multilaterais. Também tem buscado imprimir sua marca ideológica nas discussões e ignorar debates relacionados à emergência climática.
A delegação argentina já sabia da instrução na terça-feira (12). Durante a tarde (manhã em Brasília), pediu uma reunião às pressas com delegações como a do Brasil para avisar que se ausentariam do espaço, segundo a reportagem confirmou com interlocutores.
“Essa é uma questão bilateral entre a Argentina e a ONU e não vamos comentar sobre ela”, disse o negociador-chefe do Azerbaijão na COP29, Yalchyn Rafiev, nesta quinta-feira.
Buenos Aires estava na coordenação do chamado Grupo Sul, que reunia também Brasil, Uruguai, Paraguai e Equador e que buscava coordenar ações comuns dos países vizinhos diante do tema. De acordo com esses mesmos interlocutores, os argentinos não se somarão a resoluções por consenso, nem bloquearão a agenda. Apenas sairão de cena.
A informação do retorno da delegação argentina foi antecipada pelos jornais La Nacion e Clarín e confirmada pela Folha.
Esse é um tema do qual o governo não fala publicamente. Quando ainda era candidato a deputado, antes de iniciar a sua empreitada presidencial, Milei disse que o aquecimento global não existia e que seria “outra das mentiras do socialismo”, afirmação desmentida por uma infinidade de relatórios científicos.
Depois, disse que não negava a mudança do clima, mas que ela se trataria de um ciclo natural, não influenciado pelo ser humano, outro argumento inválido pela ciência. “Tudo isso para criar políticas que reúnam dinheiro para financiar agendas socialistas”, seguiu.
Um novo fator de peso na geopolítica pode ajudar a endurecer as ações argentinas de escantear a mudança climática: o retorno de Donald Trump à Casa Branca.
O republicano, negacionista, já retirou os EUA do Acordo de Paris e poderia fazê-lo novamente, para mais uma vez desmantelar a política ambiental americana. Não se descarta a hipótese de que Javier Milei, seu entusiasta, seguirá seus passos e fará o mesmo com a Argentina.
“A saída da delegação argentina da conferência climática em Baku não tem precedentes na história diplomática do país e marca um claro contraste com a política externa de Buenos Aires de se envolver produtivamente em negociações internacionais”, disse Oscar Soria, ativista ambiental argentino e diretor da Iniciativa Comum.
Com informações da AFP.