Na plenária de abertura das negociações do alto escalão da política mundial na conferência de biodiversidade COP16, da ONU (Organização das Nações Unidas), o secretário-geral da entidade, António Guterres, pediu que o mundo faça um acordo de paz com a natureza.
“Estamos realizando uma guerra contra ela. Uma guerra onde não há vencedores. Cada ano, vemos as temperaturas subirem mais e mais. Cada dia, perdemos mais espécies. Cada minuto, derrubamos um caminhão de dejetos plásticos em nossos oceanos, rios e lagos. Não se confundam, assim é como se vê uma crise existencial”, disse nesta terça-feira (29).
“Paz com a Natureza” é o mote da conferência, que tem como principal desafio destravar o financiamento global para a conservação da biodiversidade no mundo —mas até aqui, as negociações ainda não estão perto de um resultado.
“Os motores desta destruição estão arraigados em modelos econômicos obsoletos, que alimentam padrões insustentáveis de produção e consumo”, completou Guterres.
A ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, discursou representando o país e apelou por uma mobilização para destravar o financiamento dos mecanismos de preservação da biodiversidade e do meio ambiente.
Ela citou, por exemplo, o TFFF, um fundo de financiamento voltado para florestas encabeçado pelo Brasil, que durante a COP16 recebeu apoio de Alemanha, Colômbia, Emirados Árabes Unidos, Malásia e Noruega, e destacou também a redução do desmatamento na Amazônia.
“Precisamos avançar muito nas negociações internacionais”, disse.
“Tenho fé que nossos empenhos e compromissos, lastreados na justiça, equidade e cooperação, poderão gerar um constrangimento ético sobre aqueles que, apesar de todos os sinais e alertas da natureza e da ciência, ainda não foram capazes em se mover com a velocidade e urgência necessárias”, completou.
O evento acontece em Cali, na Colômbia, segundo país com maior biodiversidade do mundo, atrás do Brasil. A plenária do alto nível foi aberta nesta terça com um longo discurso do presidente colombiano, Gustavo Petro.
“Estamos começando a era da extinção humana, não estou exagerando. É uma visão apocalíptica, ainda que o que estamos vivendo seja pior que o apocalipse”, disse ele, no início de sua fala.
Petro criticou o mercado financeiro, a exploração de petróleo e a ganância dos mais ricos e poderosos do mundo, citando explicitamente o dono do X, antigo Twitter, Elon Musk, e disse que estes atores levam o mundo à morte, também mencionando a morte de crianças na Faixa de Gaza.
O presidente defendeu uma “democracia global” e que a energia limpa é caminho para que países excluídos, mas com potencial de produção desta matriz (como nações da América do Sul e de África), consigam chegar ao poder, hoje ocupado por atores impulsionados pelo petróleo e pelo mercado financeiro.
E voltou a pleitear a criação de um mecanismo mundial de troca de dívidas externas por ações climáticas. A proposta prevê que os pagamentos sejam perdoadas em troca de medidas para frear o aquecimento global.
A COP16 entra agora em sua reta final. Até sexta-feira (1º), os países precisam discutir questões complexas, como o financiamento para proteção da biodiversidade. É neste momento das COPs que os políticos de alto escalão se reúnem para tentar tomar as decisões, após as negociações prévias comandadas pelos diplomatas.
“Por que não trocamos dívida por clima? Se ao invés de pagar dólares ao dono do lucro, o FMI [Fundo Monetário Internacional] convertesse em um pagamento também ao dono do lucro, mas a partir do salvamento da vida, […] não seria um esquema financeiro muito mais sustentável e eficaz?”, questionou Petro.
“Este é o começo da extinção e por isso são necessários métodos e políticas de urgências imediatas e que nunca vimos antes”, completou.
O repórter viajou a convite da Fundação Ford, parceira no projeto Excluídos do Clima.