“A resposta somos nós.” Com este mote, indígenas dos nove países da amazônia divulgam o G9, novo grupo de coalizão anunciado durante a COP16, conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre biodiversidade que ocorre em Cali, na Colômbia.
O G9 da Amazônia Indígena, como o grupo foi intitulado, deve a partir de agora unir as demandas locais de cada país para pressionar de forma conjunta os seus respectivos governos pela defesa do bioma, dos povos tradicionais, da biodiversidade e do clima global.
No último sábado (26), organizações indígenas de Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela formaram a aliança inédita e pactuaram estratégias.
Na ocasião, a delegação do Brasil lançou também uma declaração conjunta dos povos indígenas rumo à COP30 (convenção do clima da ONU que será realizada em Belém em 2025). O manifesto exige do governo brasileiro a copresidência do evento e o fim da extração de petróleo e gás na amazônia.
Segundo os indígenas, o G9 não contará, inicialmente, com grupos de direção, sede ou processos de escolha de dirigentes. A proposta é que todas as organizações participantes tenham o mesmo peso na tomada de decisões, feita em consenso.
A primeira reivindicação das comunidades da Pan-Amazônia é o reconhecimento, pelos governos de todo o mundo, de que os povos tradicionais são as principais autoridades morais no que se refere à conservação dos biomas e à proteção da diversidade de espécies e do clima.
Os povos indígenas, autointitulados como melhores gestores territoriais, defendem que protegem a natureza sem financiamento adequado e com pouca participação em negociações internacionais.
Segundo eles, os conhecimentos tradicionais ajudam a conter a perda de biodiversidade e os seus territórios impedem a destruição da floresta.
O Brasil é representado no grupo pela Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), que é um das bases que formam a Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), considerada a maior entidade de representação indígena do país.
Toya Manchineri, coordenador-geral da Coiab, afirmou que o grupo de coalizão prepara um caminho de diálogos sobre soluções climáticas para a COP30.
“O G9 é um espaço técnico e político para que possamos cada vez mais unificar o movimento indígena da Bacia Amazônica, pensando em fazer incidência tanto nas COPs climáticas como na COP da biodiversidade”, disse, durante o evento de criação do grupo.
“Precisamos estar cada vez mais unidos discutindo os temas que são de relevante importância para nós, povos indígenas, mas também para a sociedade não indígena, ou seja, trabalhar para que cada vez mais possamos trazer pessoas que possam contribuir com os povos indígenas na defesa do meio ambiente, do clima e na defesa da vida.”
Na declaração assinada pela Apib e suas organizações de base, os povos indígenas do Brasil afirmam que não aceitarão projetos predatórios e que ameacem suas vidas e seus territórios, como empreendimentos de petróleo e gás.
“Não aceitaremos mais nenhum projeto de petróleo e gás e qualquer outra forma de exploração predatória na amazônia brasileira, em nossos territórios e nossos ecossistemas. Não haverá preservação da biodiversidade e nem territórios indígenas seguros em um planeta em chamas”, diz trecho do manifesto.
“Diante do colapso iminente da sustentação da vida no planeta, ações fortes e efetivas precisam ser tomadas. Enquanto os governos continuam querendo mediar metas insuficientes e financiamentos vazios, queremos anunciar que, a partir de agora, só haverá paz com a natureza se declararmos abertamente a guerra contra os combustíveis fósseis e qualquer outro projeto predatório que ameaça a vida no planeta”, escrevem também.
Entre as propostas do G9 estão:
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Conservação da biodiversidade
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Direitos territoriais
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Financiamento direto
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Proteção aos povos indígenas em isolamento e contato inicial
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Escolas de formação e liderança indígenas
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Unidade do movimento indígena amazônico
O projeto Excluídos do Clima é uma parceria com a Fundação Ford.