Pequenas fazendas familiares pontilham a costa sul de Tongatapu, a maior ilha de Tonga no Pacífico Sul. Mas existe algo entre as plantas de mandioca e bananeiras que não pertence àquele lugar: um rochedo extraordinariamente grande e esbranquiçado.
A rocha, que ocupa um lugar de destaque na mitologia tonganesa, foi recentemente examinada por cientistas. Novos resultados sugerem que o objeto foi transportado para o interior da ilha há milhares de anos, quando ondas de tsunami ultrapassaram um penhasco de cerca de 36 metros. Esse evento pode ter sido desencadeado por um terremoto na fossa Tonga-Kermadec, segundo estudo publicado no mês passado na revista Marine Geology.
Rochas aparentemente fora de lugar são encontradas em regiões costeiras ao redor do mundo. Do Japão às Bahamas, cientistas têm observado pedras enormes que simplesmente não parecem se encaixar em seus arredores. Pesquisadores geralmente dizem acreditar que tais rochas foram transportadas pela água em movimento, e as poderosas ondas de tsunamis são frequentemente apontadas como culpadas.
Em julho do ano passado, pesquisadores viajaram para Tongatapu para analisar várias rochas costeiras. No último dia de trabalho de campo, a equipe recebeu uma dica inesperada de um grupo de agricultores tonganeses: havia uma rocha, muito maior do que aquelas que os cientistas estudavam, em terras agrícolas pertencentes à família Teisina.
Aquela rocha era de fato grande —aproximadamente do tamanho de uma casa de dois andares. “Era surreal”, disse o geocientista Martin Köhler, da Universidade de Queensland (Austrália), que liderou a pesquisa. A rocha, de calcário, estava quase completamente camuflada pela vegetação.
“Parecia uma colina”, afirmou o sismólogo Mafoa Penisoni, do Serviço Geológico de Tonga em Nuku’alofa, a capital do país, que acompanhou os pesquisadores.
Köhler e seus colaboradores examinaram a rocha, que é conhecida localmente como Maka Lahi ou pedra grande. É surpreendente encontrar um bloco transportado por tsunami tão grande, segundo o geólogo Ricardo Ramalho, da Universidade de Cardiff (País de Gales), que não esteve envolvido no estudo. “Rochas desse tamanho são raras.”
Os pesquisadores também coletaram amostras de formações que crescem nas laterais do rochedo. Semelhantes a estalactites e estalagmites, elas se formam lentamente ao longo do tempo conforme o calcário é dissolvido pela água.
Maka Lahi está a mais de 200 metros terra adentro e fica no topo de um penhasco de calcário de 12 andares. Como não há nada mais alto ao redor, a rocha deve ter sido deslocada da borda do penhasco por uma ou mais ondas enormes, deduziu a equipe.
Usando simulações computacionais, os pesquisadores modelaram ondas de diferentes alturas que chegavam em intervalos de 10 a 600 segundos. A equipe descobriu que eram necessárias ondas de pelo menos 49 metros de altura para deslocar o rochedo da borda do penhasco e fazê-lo rolar ou deslizar até seu local de repouso final.
Isso é muito maior do que as ondas registradas tanto no tsunami do oceano Índico em 2004 quanto no tsunami de Tōhoku em 2011. Esses tsunamis foram causados por terremotos, no entanto, e as alturas das ondas de tais eventos geralmente são menores. Portanto, um tsunami causado por um terremoto provavelmente não foi o culpado nesse caso, de acordo com a geomorfologista Annie Lau, da Universidade de Queensland, orientadora de tese de Köhler. “Acreditamos que provavelmente foi um tsunami causado por deslizamento de terra.”
Quando uma grande quantidade de material desliza repentinamente para a água —ou algo subaquático muda rapidamente de posição—, o resultado é um tsunami desencadeado por deslizamento de terra. Foi o que aconteceu em 2022, quando o vulcão submarino Hunga, perto de Tonga, entrou em erupção, enviando ondas de aproximadamente 15 metros de altura para a costa norte de Tongatapu.
Köhler e sua equipe estimaram que as ondas gigantes que transportaram Maka Lahi ocorreram há cerca de 7.000 anos. Essa estimativa baseia-se na idade das formações laterais na metade inferior do rochedo. Como Tonga foi povoada apenas há cerca de 3.000 anos, não havia humanos para testemunhar esse evento. “É mais antigo que a ocupação humana de Tonga”, disse Köhler.
É impossível saber com certeza o que pode ter desencadeado ondas tão gigantescas há tanto tempo, mas existem evidências geológicas de que grandes ondas também inundaram a Ilha Norte da Nova Zelândia há cerca de 7.000 anos. Acredita-se que esse evento tenha sido causado por um terremoto na fossa Tonga-Kermadec, que se estende por 1.600 quilômetros da Nova Zelândia até Tonga. Talvez esse movimento do solo tenha provocado um deslizamento de terra perto de Tongatapu, lançando as ondas que acabaram por transportar Maka Lahi.
Testar a ideia significará procurar evidências de um deslizamento de terra. “Precisamos procurar a cicatriz do deslizamento”, disse Lau.
Esse trabalho de acompanhamento é importante, segundo Ramalho, para ajudar a revelar os mecanismos desencadeadores e a frequência desses tipos de riscos. E isso é fundamental porque tais eventos podem acontecer novamente. “Um dia, talvez, enfrentaremos um evento como esse.”