É difícil imaginar um fisiculturista que não olhe para o próprio corpo durante uma preparação. “Será que vai dar tempo?” e “não estou tão bem assim”, por exemplo, são frases recorrentemente ditas por atletas na reta final antes do campeonato. Carlos Eduardo Fantini Martins, por sua vez, é uma exceção a essa regra.
Portador da retinose pigmentar – doença ocular que causa a degeneração da retina – e do ceratocone – doença ocular que altera a forma da córnea -, o atleta de 30 anos experienciou em 2024 uma preparação na qual não pôde analisar seu próprio físico.
“Poder fazer o processo todo sem ficar me preocupando em me autoavaliar foi muito bom. Foram 20 semanas de dieta e treino em que eu fiquei muito tranquilo. A resposta do meu físico a essa tranquilidade também foi muito boa”, relata Fantini em entrevista exclusiva. “A gente fica se perguntando: ‘será que vai dar tempo?’ E dessa vez não aconteceu isso, eu só precisei confiar no meu treinador”, conclui o militar reformado.
Fantini treina na DarkHouse, como é conhecido o Centro de Treinamento (CT) destinado aos atletas da Integralmedica e da Darkness. Sem a disponibilidade do local, não haveria como ele manter a preparação, segundo o próprio fisiculturista: “sem a estrutura do CT, seria impossível”.
“Eu vou treinar sozinho, e por questões de segurança, evito usar pesos livres, por exemplo. Lá, há uma grande estrutura de máquinas”, ressalta o capitão do Exército Brasileiro.
Se a academia já pode se tornar um local perigoso em circunstâncias habituais, essa situação pode se agravar quando o praticante de musculação tem apenas cinco graus de visão. “Quantas vezes eu não achei que tinha quebrado o dedo depois de bater em algo (…) teve uma vez que eu fiquei meses sem treinar perna porque bati o joelho num anilheiro”, lembra Fantini.
O atleta também relata a importância da organização: “Para mim, é muito difícil quando as pessoas tiram as coisas do lugar. Teve dias em que eu mudei meu treino porque não conseguia achar um banco, uma corda, etc.”
Outro aspecto da academia com o qual o fisiculturista precisa lidar é a iluminação, uma vez que ambas as doenças que ele porta geram sensibilidade à luz: “chegou um determinado momento da preparação em que eu não conseguia mais treinar por conta da dor que eu sentia nos olhos (…) às vezes, o reflexo de uma luz já me arrebentava, a ponto de ter que voltar para casa e ficar no escuro”.
Antes de entrar para o esporte, Fantini nunca havia sonhado com os palcos. Entretanto, ele acredita que o fisiculturismo é acompanhado por diversas qualidades que ele apresenta. “Eu não me acho muito bom em nada, mas eu sou mediano em muitas coisas. Ou seja, eu sou constante. Sempre fui muito disciplinado, muito focado. Quando coloco algo na cabeça, vou até o final. Sempre foi assim. Eu até brinco e falo que não sou desse jeito porque passei pelo Exército, mas fui para o Exército porque eu sou assim”, destaca. “Busco aceitar a situação e fazer o meu melhor dentro dessas circunstâncias”, conclui.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.