A Polícia Civil do Rio de Janeiro (PCRJ) desarticulou um grupo criminoso liderado por menores que praticava crimes cibernéticos contra crianças e adolescentes. A investigação cita crimes de ódio, tentativa de homicídio, instigação ao suicídio, maus-tratos a animais, apologia ao nazismo e armazenamento e divulgação de pornografia infantil.
Nesta quarta-feira (14), a Polícia Civil cumpriu 5 mandados de internação provisória contra 5 adolescentes e um mandado de busca e apreensão no Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e em São Paulo. Todos os adolescentes são suspeitos de participação na rede criminosa.
As apreensões foram realizadas no âmbito da segunda fase da operação Adolescência Segura, que contou com o apoio do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) e das polícias civis dos respectivos estados. A investigação também contou com o apoio de duas agências norte-americanas, que fizeram relatórios sobre a atuação da organização.
A polícia civil do RJ começou a investigar a rede criminosa em fevereiro deste ano, quando um adolescente, de 17 anos, lançou dois coquetéis molotov em um homem em situação de rua que dormia em uma calçada, no Pechincha, Zona Oeste do Rio, e transmitiu tudo, ao vivo, pelo Discord, um aplicativo de troca de mensagens popular entre os jovens. A vítima teve 70% do seu corpo queimado.
A própria família do jovem procurou a delegacia quando o reconheceu nas imagens. No celular do jovem, a polícia encontrou arquivos de abuso sexual infantil.
Investigadores descobriram a rede criminosa a partir dos dados do celular do adolescente apreendido
Ao realizar diligência na casa do adolescente, a polícia encontrou toucas, máscaras e luvas que ele teria usado no ataque e também uma faca. A polícia também apreendeu o celular do adolescente, que permitiu concluir que o ataque não foi um fato isolado.
A partir disso, a Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV) acionou o Laboratório de Operações Cibernéticas do Ministério da Justiça, que oficiou o Discord.
Segundo a investigação, os administradores do servidor usado para a transmissão do vídeo do crime seriam parte de uma rede criminosa especializada em diversos crimes cibernéticos tendo como principais alvos crianças e adolescentes.
Como agiam os criminosos
O integrantes do grupo se espalhavam por diferentes plataformas digitais e agiam manipulando psicologicamente crianças e adolescentes para que realizassem “desafios” e “competições” sempre relacionados a crimes.
As crianças e os adolescentes aliciados eram coagidos a cometer automutilação ou atos violentos.
Em alguns casos, os criminosos invadiam dispositivos eletrônicos e roubavam dados e imagens para ameaçar as vítimas.
Uma das transmissões descobertas pela investigação mostrava uma adolescente de 15 anos torturando o afilhado, uma criança de 5 anos.
Os investigadores também descobriram outro caso em que uma adolescente foi convencida a atear fogo no próprio braço.
Uma terceira transmissão mostrou uma adolescente se mutilando usando uma lâmina.
Investigação continua
O diretor de Operações Integradas e de Inteligência (Diopi) da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) do MJSP, Rodney da Silva, informou que as investigações continuam para a identificação de novos integrantes em ambientes digitais ligados à organização.
“A atuação coordenada entre o Ciberlab e as polícias civis permitiu desmantelar uma célula que representava uma ameaça real à integridade psíquica e física de crianças e adolescentes em todo o país”, disse Rodney da Silva.
Primeira fase da operação
Na primeira fase da operação Adolescência Segura, os policiais desmonstaram os servidores de plataformas digitais que promoviam violência simbólica, automutilação coletiva, estupro virtual e crimes de ódio.
“Com base nas provas coletadas, nos depoimentos obtidos e na análise dos materiais apreendidos, a Polícia Civil do Rio de Janeiro identificou outros integrantes ainda ativos na organização criminosa, ampliando o mapeamento da rede digital e possibilitando a deflagração da nova fase da operação”, informou o Ministério da Justiça em comunicado.